Como já citado anteriormente, o Teen Festival adotou uma estratégia de merchan menos constrangedora do que o infame "mensalinho" de Maria Rita. A direção do festival patrocinou a esbórnia deslumbrada de meia dúzia de nossos periodistas tupiniquins na Europa (onde mais?) e nos States, para conhecerem (e fazerem o chapa branca básico de) algumas atrações/repulsões do festival. Sai mais barato do que contatar o BNDES para prover IPOds para a manada de Manhattan.
Alguns pobres diabos da nossa brown sugar press sequer foram contatados para o Teen Tour. Humilhação suprema para nossos turistas existenciais. A imprensa musical brazuca é bipolar. Estão aqui, mas estão mesmo lá em NY. São caipiras empedernidos mas escrevem como se fosse michês da 53rd & 3rd.
É desnecessário enfatizar que um festival que se propõe a introduzir artistas brasileiros para gringo a jornalistas caipiras deslumbrados através de uma caravana da alegria não merece qualquer respeito. De todo modo, vejamos mais algumas atrações/repulsões da edição 2007 do Teen Festival:
JULIETTE LEWIS & THE LICKS
Além de se descabelarem querendo ver o Pateta, nossos bravos jornalistas adoram falar sobre coisas esotéricas, distantes de seus mofino cotidiano. Música e cinema são alvos preferenciais. Num país de revistas de música natimortas, cinema se torna um filão interessante. As editoras queimam menos butim com o amadorismo prolixo e a chance de perder laudas infindas destilando elogios a bandas de amigos e ex-ficantes é bastante menos pronunciada (e institucionalizada) no país do cinema de autoria do governo. Já tem muita gente fazendo isso, afinal.
Daí o súbito interesse de nossos Paulo Francis de dormitório por Juliette Lewis & The Licks. Alguém teria coragem de dizer que é fã da banda do
Johnny Depp, o P? Mas o apelo profissional é inegável. A chance de trocar uma mefistofélica resenha sobre os Móveis Coloniais de Acaju num pasquim pelas páginas cheirosas e edulcoradas (copyright: Neil Young) de uma revista "de cinema" é algo irresistível.
Daqui a alguns anos, os jornalistas tupiniquins, além de trocarem suas fraldas geriátricas autografadas pelo Pavement, trocarão risos sobre suas matérias sobre bandas de atriz-e-modelo-de-videoclip. Bandas que se notabilizam pela participação em eventos para indie-gentes como o VMB. Curiosamente, JL&TL só tocará em São Paulo, terra dos ví-jêis. Até lá, só perca tempo com isso se o bar estiver realmente lotado. Pegue um DVD de Assassinos por Natureza e veja que Lewis já foi gente que fez.
P.S. Bjork vai abrir para JL&TL (!). Pior que isso, só os jornalistas losers que perderam a caravana da alegria do festival.
TONI PLATÃO
Semi-famoso nos anos 1980 da era Aqueozóica pelo pseudo-hino "Pros Que Estão Em Casa" da banda Hojerizah, o travesti de Cássia Eller tentará mais uma vez popularizar discos como seu Calígula Freejack (!) em uma participação semi-anônima na perna paulista do Teen Festival. Aquelas pernas de pau de pirata caem bem para a ocasião. Veja se colocarem brometo nos canapês da área VIP do Teen Festival. Ou se o Rubinho Barrichello fizer a pole position daqui a pouco.
JOE LOVANO
Depois que NY se tornou basicamente irrelevante para o Jazz nos anos 1980, nomes como Lovano começaram a ser louvados pelos "novos-iorquinos" tupiniquins. Lovano tem um extenso currículo de colaborações com gênios como Herbie Hancock e uma coleção de Grammies (ninguém é perfeito). Ele é mais uma cria de Berklee, aquela escola de música para corredores de 100 metros rasos, a atanazar ouvidos incautos e nerds deslubrados. Exatamente o público-alvo do Teen Festival! Veja se for fã de Malmsteen e cositas afins.
MONTAGE
O vocalista Daniel é (cabeleireiro) profissa. O site do Teen Festival informa que o guri é o responsável pela "voz e visual" do Montage. Já se disse que ele faz Antony dos Johnsons parecer Chuck Norris. Isso até você ouvir o guri cantando "Raio de Fogo" como se fosse uma cacatua no cio. Depois é só ladeira abaixo.
O Montage é considerado um dos grupos fundamentais da "cena electroclash brazuca" (!). Vindos do Ceará e inspirados (por quem mais?) pelos clássicos do Synth Pop ingleses dos anos 1980 (mais especificamente o povo de Sheffield e bandas como o Visage - oops, já vi esse nome) o Montage combina batidas secas e incessantes com letras bestas como "I can trust my dealer". Os guris (esqueci, tem um tecladista que faz o papel de Chris Lowe) também tentam "causar" com o homo-erotismo de coisas como "Raio de Fogo".
Nada que os bambambans do Techno belga, como Lords of Acid, não tenham feito antes e melhor, inclusive sem recorrer à afetação. Genival Lacerda também. Aí a coisa complica para o Montage. Tirando os entendidos, os fashionistas e os indie-gentes (99.78% dos presentes ao Teen), os saudosistas do Synth Pop terão alguma coisa de que se ocupar entre o experimento antropológico do Vanguart e a picaretagem desabrida e tubainada dos pernambucanos do Del Rey.