Em Uberaba, centenária cidade do Triângulo, a edição inaugural da revista Dimensão vinha a lume em Julho de 1980. “Uma simples revista de poesia” escreveu então o editor Guido Bilharinho. O futuro desmentiria esse título do primeiro editorial, no entanto se manteria constante através dos anos o propósito do novo periódico. “ E´esse, apenas esse, o compromisso desta revista, mais uma entre tantas, mortas, existentes ou ainda por existir: efetivo compromisso com a qualidade da poesia.”
O n.1 trouxe poemas dos seguintes autores: A . Curvello, Carlos Nejar, Carlos R. Lacerda, Cid Seixas, Geraldo Dias da Cruz, Guido Bilharinho, Hugo Pontes, Jorge Alberto Nabut, Kátia Bento, Lincoln Borges de Carvalho, Lya Luft, Luís Fernando Valadares, Max Martins, Osvaldo André de Melo. Seu n. 2 (1º sem. 1981) incorporaria Lindolf Bell e Neide Archanjo, enquanto no n. 3 ( 2º sem. 1981) compareceriam Francisco Carvalho e Olga Savary. A partir daí, a revista iria progressivamente definindo suas características, granjeando espaços e respeito, bem como incorporando muitos outros nomes representativos da poesia brasileira, inclusive das vanguardas e da nova geração.
A partir de seu n. 10 ( 1º sem. 1985), Dimensão principiou a estampar na capa um dos indícios de sua inevitável vocação internacional, anunciando poetas brasileiros, portugueses e argentinos, bem como a poesia experimental alemã (Ferdinand Kriwet, Heinz Gappmayr, Ernst Jandl, Helmut Heissenbüttel). A edição subseqüente (n.11, 2º sem. 1985) também já anunciava poetas da Espanha e do Uruguai, além da poesia japonesa do século X e traduções de poemas de James Joyce, Paul Celan, Feliu Formosa e Allen Ginsberg. Pela primeira vez lançou um número duplo (n.12/13), no ano de 1986, não mais no formato de caderno, mas encorpado, trazendo autores do Brasil, Argentina e Uruguai, bem como a poesia do Grupo Frenesi (Portugal) e traduções de Rimbaud, Brecht, Pound, Withman. Lawrence, Montale,
O n. 20 (referente ao ano de 1990) apareceu finalmente com a denominação de revista internacional de poesia, o que há anos já era na prática e por direito. A edição do primeiro semestre de 1984 (Ano IV n. 8) já trazia em seu expediente a indicação de circulação no Exterior, relacionando 32 países, entre os quais, Alemanha, Angola, Bélgica, Canadá, Checoslováquia, Cuba, Espanha, Estados Unidos, França, Hungria, Inglaterra, Itália, México, Moçambique, Portugal.
Os três últimos volumes de Dimensão constituem trabalhos primorosos de editoração, extremamente ricos de informação e de textos, incluindo poesia visual. O seu formato já é o de livro, tendo o número duplo 28/29 (ref. ao ano de 1999) o total de trezentas e doze páginas.
A circulação da revista, em suas últimas edições, atingiu 66 países, em todos os continentes, incluindo Austrália, China, Japão e Tailândia. Algo inédito em matéria de revista brasileira de poesia. E o mais surpreendente é que se trata, principalmente, do trabalho de um único indíviduo, o seu editor, o poeta e crítico de cinema Guido Bilharinho, cujos esforços ao longo de vinte anos nos deram e ao Brasil esse periódico dificilmente igualável a curto tempo e que tão grandes serviços prestou à causa da divulgação da poesia brasileira em nosso país e no Exterior.
É extremamente melancólico receber a notícia de que Dimensão está encerrando-se em seu número 30, referente ao ano de 2000, acabado de imprimir-se em Abril de 2001. Com sabor de despedida, seu lançamento ocorreu em maio passado, em Belo Horizonte, sob os auspícios do Suplemento Literário de Minas Gerais e seu editor Anelito de Oliveira., com a presença do Secretário de Estado de Cultura, escritores e demais interessados.
Várias razões levaram seu editor a terminar a carreira da publicação justamente em seu ponto mais alto.A decisão é irrevogável. Resta-nos a promessa de que serão lançados números como antologias, destacando aspectos notáveis do periódico. Também nos resta o consolo de que, em face à história da revista e da grandeza que construiu e conquistou, passará a haver sempre, de agora em diante, uma Dimensão que não termina.
(Aricy Curvello é poeta, ensaísta e tradutor, sendo seus livros mais recentes "Mais que os Nomes do Nada" , poesia, 1996, e“Uilcon Pereira: no coração dos boatos”, historiografia Literária e crítica, 2000, Prêmio Joaquim Norberto (Ensaios Editados/Biografia) da União Brasileira de Escritores, do Rio de Janeiro.