No próximo dia 27, não poucos estarão relembrando a Intentona Comunista de 1935. Essa evocação, banida dos quartéis pelo atual governo, certamente acontecerá no silêncio dos amordaçados. Por mais que se queira apagar esse episódio da História do Brasil, os acontecimentos que hoje envolvem países da América Latina ameaçados pelo totalitarismo trazem à baila algumas eloqüentes lições da História.
Nesse contexto, considero útil relatar novamente fato comigo ocorrido. O ex-ministro da Defesa Waldir Pires censurou artigo de minha autoria sobre a Intentona Comunista, na revista Informe Defesa, publicação do Ministério da Defesa. O pretexto usado foi o de evitar a reabertura de antigas feridas do passado, esquecendo-se que a censura nunca fechou feridas do passado. Nem as provocadas pela esquerda, nem pela direita. A desculpa usada pelo então ministro fez parte do regrário utilizado por aqueles que cassaram seus direitos políticos em 1964. Ou seja, se a causa for "justa", tudo é válido... O ministro mandou às favas o fato de eu ter recebido, em 5 de outubro de 2006, convite do responsável pela revista, oferecendo-me espaço para que opinasse "de forma livre e transparente" sobre assunto de minha escolha. Em dezembro, recebi e-mail do responsável pela revista, informando a decisão do ministro.
Decidi, em face da atualidade do tema, republicar o artigo censurado, o que faço a seguir.
Em sua obra 1984, o notável escritor inglês George Orwell trilha os caminhos de um regime autoritário num futuro remoto. Nessa ditadura predomina a figura do "Grande Irmão", na verdade uma imagem crítica do ditador soviético Stálin. Num cenário sombrio, o autor faz desfilar os instrumentos utilizados pelo regime para sufocar as liberdades. Um deles é o Ministério da Verdade, cuja função, entre outras "nobres" tarefas, é apagar ou reescrever a História ao talante do regime.
Há fatos deste imenso país que nos remetem a Orwell; por exemplo, a tentativa de relegar ao esquecimento a Intentona Comunista. Sob os mais diversos pretextos, a História é reescrita. A evocação do episódio de novembro de 1935 é tida como meio de buscar a cizânia entre brasileiros. Ai de quem evoca as vítimas da fracassada tentativa comunista de tomada do poder! Imediatamente sofre a censura e os ataques das "patrulhas", dispostas a levar adiante seus propósitos que, apesar dos fracassos, agora sob nova roupagem ainda motivam - por volúpia de poder ou ignorância - parcelas de nossa sociedade. E mais: há todo um movimento pela deificação do executor da Intentona, Luiz Carlos Prestes.
Com o desmantelamento do socialismo real, os documentos dos arquivos soviéticos gritaram a verdade: a tentativa de golpe foi urdida e coordenada pela 3ª Internacional, de cuja Comissão Executiva Prestes era membro.
No Brasil, preparando a revolução, estavam 22 estrangeiros pertencentes ao Serviço de Relações Internacionais do Komintern, como mostra o livro Camaradas, do jornalista William Waack, que pesquisou os arquivos do Komintern. E mais: o livro - que derrubou diversos mitos históricos - comprova que a ordem para a eclosão do movimento não partiu do Partido Comunista do Brasil ou de Prestes, mas sim foi mandada de Moscou, por telegrama, pelo Komintern.
A ação comunista produziu 33 vítimas, cujas famílias nunca reivindicaram nada do governo brasileiro!
A História é a grande mestra da política. A Intentona de novembro de 1935 não pode ser esquecida sob nenhum pretexto. É um exemplo.