Ambas são teorias ainda não totalmente comprovadas e se referem ao planeta e ao aquecimento global. Uma, menos alarmista, apoiada no cientificismo e na experimentação; a outra, pregando o catastrofismo, baseada em estatísticas, fotos e observações.
Antes de adentrar no assunto, que pelas características deste espaço, não pode ser aprofundado, cabe algumas ressalvas: Tanto a Teoria de Gaia como a Teoria do Aquecimento Global mereceriam longos ensaios feitos de formas isoladas pelas comunidades científicas mundiais e, depois, um longo estudo comparado, concluindo o que de verdadeiro existe em ambas as teorias, e recomendando os procedimentos corretos a serem adotados pela ciência e pela humanidade.
Infelizmente, eu, mero observador, cidadão comum, blogueiro brasileiro, sem nenhuma autoridade para emitir opiniões sobre o assunto, embora cuidadoso e imparcial pesquisador, não encontrei ainda, em minhas pesquisas (livros, jornais, revistas, periódicos de ciência e biologia, bibliotecas, internet, etc), nenhum estudo que preenchesse convenientemente esta lacuna. Talvez até já exista, mas não encontrei ou não soube como procurar. Mas, se com todo esse esforço não encontrei, acredito que muitos de vocês também não, estando na minha mesma situação: inquietos e querendo saber em que e/ou em quem acreditar.
Por isso, e só por isso, vou tentar resumir o que sei e colocar a questão para debate e reflexão. Fique claro, porém, que o assunto é vastíssimo e terá que ser abordado inúmeras outras vezes, sob vários enfoques diferentes. Não se espere encontrar, aqui, as explicações buscadas. Mas apenas as bases para que você, leitor, continue a jornada, pesquisando e tentando tirar suas próprias conclusões, se é que já é possível chegar a isso. A comunidade científica ainda não chegou a um consenso. Será que nós conseguiremos chegar a um, mesmo que provisório, e apenas para aplacar a nossa curiosidade temporariamente?
Nos últimos anos, todos, começando pelos estudantes da 5ª série do ensino fundamental, têm ouvido falar do aquecimento global e, alguns, até tentando arriscar-se a defini-lo e explicá-lo, tal é a intensidade da divulgação na mídia. Nas escolas (não como ensino didático oficial), os professores já começam a comentar e emitir conceitos que, na verdade, são apenas os seus pontos-de-vistas pessoais, mas que, ainda assim, influenciam os alunos. Entre os adultos, fala-se disso em todos os lugares: em família, conversas em rodas de amigos, em salões de beleza, e até nos bares e botequins da vida. O assunto está tomando ares de verdade absoluta e todo mundo tem o seu palpitezinho a dar, ninguém alegando ignorância global, seja a pessoa culta ou inculta. E é isso o que me preocupa, porque eu, que ainda não consegui formar minha convicção sobre o assunto, estou começando a me sentir meio complexado, como se tivesse um raciocínio de efeito retardado, porque demoro muito a assimilar uma “verdade”, por todos conhecida e pacificamente aceita.
Mas aí vem a minha reflexão e o consolo, ancorados numa frase e num dito popular. A frase: “Toda a maioria é burra” (Nelson Rodrigues - escritor, dramaturgo-teatrólogo); o dito popular: “Uma mentira, dita repetidas vezes, por muitos, passa a soar como verdade” (autor desconhecido).
Quanto à frase de Nelson Rodrigues, não a aceito integralmente, por achá-la por demais genérica e radical, não considerando as exceções. Mas se ele dissesse: “Quase toda a maioria é burra“, não teria dúvidas em concordar. O dito popular sobre a mentira, este é mais fácil de aceitar e concordar, sem reparos.
Com efeito, se a maioria sempre tivesse razão, todos os países de regime presidencialista, teriam os melhores presidentes para o povo, pois é ele, pela maioria, quem os elege. E na maioria das vezes, erra. Para citar só um exemplo, analise-se o caso de George W. Bush, Presidente dos Estados Unidos, cujo mandato, felizmente, terminará em 2008. Perguntem aos americanos, inclusive aos próprios republicanos, quem hoje, em sã consciência e imparcialidade, acha que Bush fêz um bom governo? E no entanto, a maioria burra o elegeu por duas vezes. Duas vezes!
Dito isto vamos ao que interessa:
Em síntese, a teoria do aquecimento global, apregoada e defendida por Al Gore, ex-Vice-Presidente dos Estados Unidos na Administração Bill Clinton, Prêmio Nobel da Paz em 2007, pelo desenvolvimento e divulgação da teoria, enfatiza o efeito estufa provocado pelo excessiva quantidade de dióxido de carbono (CO2) expelida para a atmosfera, destruindo a camada de ozônio, permitindo a penetração dos raios UV e ondas de calor cada vez maiores e cumulativas que, retidas, causam o aquecimento global, com conseqüências catastróficas para a humanidade (alterações climáticas, derretimento das geleiras polares, inundações pela subida do nível dos oceanos, etc).
“Com o aquecimento global, as áreas tropicais do planeta, certamente, serão as mais afetadas. Nestas áreas predomina a agricultura de subsistência que supre as necessidades alimentares de milhões de famílias. Entretanto, como explica Myers (LEGGETT, 1992, p.362), “o maior agente do desmatamento das florestas tropicais é o lavrador itinerante“, que, expulso de suas terras agrícolas tradicionais, dirige-se para as áreas florestadas, ainda não ocupadas, gerando ações impactantes ao meio ambiente (Climatologia e Estudos da Paisagem - Rio Claro - Vol. 2 n.1 - janeiro/ junho/2007, p. 14).”
Como se viu, não só os ambientalistas, biólogos e cientistas, mas todos, ou seja, a maioria, “já conhece ou pensa conhecer as causas e efeitos do aquecimento global” (olha a maioria aí de novo!).
Agora, vejamos o que é e o que diz a “Teoria de Gaia“: Primeiramente, vamos ao nome. Por que “Gaia”? Este nome foi escolhido em homenagem à deusa grega, “Gaia”, que siginificava Mãe Terra. Então, “Gaia”, significa “Terra”, o planeta em que vivemos. Esta teoria foi desenvolvida pelo biólogo inglês James Lovelock (veja o endereço da sua home page na barra lateral deste blog), na década 1960/1970, trabalhando para a NASA, em pesquisas sobre a existência de vida em Marte e Vênus.
Não constatando vida naqueles planetas, redirecionou suas pesquisas, comparando-as com o planeta Terra, concluindo que alguns componentes de gases aqui existentes, mas não existentes em Marte e Vênus ou existentes em quantidades bastante diferentes eram o que permitiam a vida na Terra e, mais que isso, tornavam-na um “organismo vivo”. Inseriu a idéia de que cada componente da Terra funciona de forma interligada. As plantas e animais fazem parte do mesmo conjunto, de uma mesma unidade funcional. Por sua vez, este conjunto é parte integrante de um conjunto maior - o próprio planeta Terra - Gaia, um imenso organismo vivo e auto-regulador (James Lovelock - The Gaia Theory -1970).
Essa é a sínteses da Teoria de Gaia, apresentada em 1972 à comunidade científica - A Terra é um ser vivo que se auto-regula. Como decorrência, afirma que as variações climáticas sempre existiram, com períodos de picos de calor (aquecimento global) e de frio(resfriamento global), como resultante da atividade solar e da órbita e rotação do Planeta. Afirma também que isso ocorre dentro de uma faixa máxima e mínima em que esse organismo, Gaia, sobrevive, se auto-regulando, como forma de defesa. Concorda que, no momento, estamos num ciclo de aquecimento global, mas coloca em cheque que isso tenha como conseqüência principal a excessiva emissão de CO2 na atmosfera, porque Gaia seria capaz de neutralizar isso. Comprova estatística e historicamente que esses ciclos já existiram antes e que Gaia se auto-regulou, como forma de sobrevivência. O que é colocado em cheque e de fato preocupa é o “período de duração desses ciclos, que tem diminuído consideravelmente, ao longo dos 3,8 bilhões de anos de existência do planeta“. E aponta outras causas, todas decorrentes da interferência da ação do homem sobre o meio ambiente (atividades agrícolas, desmatamentos, queimadas, desertificação provocada, poluição de oceanos, etc)
Infere-se, pois, da sua teoria, que a Terra ou Gaia, como prefere chamar, ainda está em estado de homeóstase(*), tendo reservas de sobrevivência, autodefesa e adaptação, produzindo suas alças de retroalimentação. O que é necessário definir é tão-somente até quando ela conseguirá manter este estado.
Aí está posto o que consegui depreender, não sei se certa ou erradamente. Vale ressaltar, porém, que a comunidade científica está dividida em relação a aceitar que a Terra seja um organismo vivo, porque “não teria a capacidade de se reproduzir”, qualidade inerente aos seres vivos. Também há relutância erm aceitar que Gaia possa estar em estado de homeóstase. Lovelock rebate exemplificando com a reprodução assexuada, outras formas de auto-reprodução e até com “formas de reprodução desconhecidas” e a não absoluta certeza de estarem definidas todas as formas de funcionamento dessa característica dos seres vivos. Está formada a confusão. Mesmo assim, já se propôs que essa teoria passasse a ser ensinada didaticamente nas universidades, como parte da Biologia, mas aqui também houve (e continua havendo) resistências. A despeito disso, algumas escolas americanas incluíram a teoria como parte dos estudos na cadeira de Biologia.
Contra o aquecimento global, contrapõe-se a falta de cientificismo e possíveis interesses políticos e econômicos das nações mais desenvolvidas, para impedir que países dominados e os em desenvolvimento alcancem o mesmo estágio que os desenvolvidos. Mas isso não tem impedido que essa teoria ganhe força.
O certo é que, em relação à Teoria do Aquecimento Global, a Teoria de Gaia, embora mais embasada científicamente e menos catastrófica, está em desvantagem no quesito aceitação. E não se pode deixar de ter em conta que ambas ainda são teorias e, como tal, precisam ser comprovadas.
E aí, será que neste caso, a maioria, apoiando o aquecimento global, está com a razão? Ou será a minoria que defende a Teoria de Gaia? Ou ninguém ainda sabe a verdade?