A consagrada e disseminada dicotomia que divide cultura em popular e erudita é um equívoco cometido pelos próprios operadores dos vários extratos culturais. Na verdade, os dois segmentos, popular e erudito, seguem juntos, sem hierarquia de qualidade de um sobre o outro. Aliás, ouso dizer que, na essência, não há separação entre popular e erudito. As pessoas é que vêem ou pensam ver duas formas distintas de cultura e não enxergam o entrelaçamento da criação artística que vem de uma raiz popular com a obra erudita, vista como uma árvore florida. Só que essa árvore frondosa é, sim, resultado da raiz que germinou e floriu.
Segundo o Dicionário Aurélio, erudição é “instrução vasta e variada, adquirida sobretudo pela leitura”. Vejam que erudição não é sofisticação, não é o sangue azul da cultura. Do Aurélio se conclui que erudição é volume de conhecimento. Assim, erudito é quem tem vasta e variada instrução captada na leitura, na acurada e ampla observação do conhecimento humano, na visão inteligente das coisas da vida.
Por esse prisma, quem constrói uma obra artística diversificada, eclética, vasta, fruto da leitura e de estudo das manifestações do povo, é popular e é erudito. No fundo, o que existe mesmo é gente culta e gente esnobe. De gente culta, a criação. De gente esnobe, sai malcriação. Gente culta estabelece preceitos. Gente esnobe destila preconceitos.
Tudo isso que falei acima vem a propósito da indiferença e da discriminação que sofrem grandes nomes da cultura dita popular e que são indiscutivelmente cultos e com extensa e variada obra que pode ser inserida no contexto da cultura dita erudita.
São muitos os nomes que poderia citar e sobre eles falar, mas o espaço aqui é limitado. Cito entre os que tenho escutado e lido, o nome de DAUDETEH Bandeira, cuja obra toca meu gosto pessoal, gosto razoavelmente diversificado, mas não esnobe.
Falarei do mestre, poeta, compositor, escritor e advogado, com volumosa obra e obra de qualidade, aquém DEUS deu o dom e nós devemos dar-lhe a cátedra, como professor que é. DAUDETEH Bandeira, nascido Manuel Bandeira de Caldas, vem de uma linhagem sertaneja de artistas, criadores natos.
DEUS colocou no seu gene esse incrível dom de construir um poema de improviso com a perfeição do ritmo, da rima e da métrica, além do conteúdo de qualidade. É poema, poesia pura, arte que encanta e emociona o leitor ou ouvinte. DAUDETEH tem um acervo de criação cultural digno de merecer troféu, comenda, láurea e até de ter portas de academias abertas para ele entrar.
Sem falar na imensa quantidade de versos cantados de improviso e não registrados, DAUDETEH conta com criações gravadas em papel e em disco suficientes para formar ou robustecer uma biblioteca. Desses milhares de criações, destacarei umas poucas, contornando a enorme dificuldade de selecionar o que é melhor, porque só tem coisa boa. Transcrevo, a seguir, partes de poemas catados aleatoriamente: