Aprendemos que a ortografia é a parte da Gramática que ensina a escrever corretamente as palavras. Será só isto?
Por um lado, sim, pois a ortografia nos orienta quanto à maneira de as palavras serem pronunciadas corretamente. Daí utilizar-se dos acentos agudo, circunflexo ou grave, das letras dobradas e de outros sinais (traço de união, hífen, til), visando a essa boa pronúncia (mais próxima das palavras na língua falada).
Mas também é preciso saber que não são os gramáticos que fazem nem autorizam a ortografia, menos os lingüistas ou os escritores. Ela é estabelecida e proclamada por leis e decretos votados no Congresso e sancionados pelo Presidente da República. A nossa ortografia é regulada por lei aprovada em 1943, a qual passou por pequenas alterações em 1971. É a atual ortografia chamada impropriamente de acordo ortográfico (entre Portugal e o Brasil).
Em todas as línguas aconteceram mudanças, nalgumas como a francesa há palavras com até três acentos, mas na língua inglesa não há nenhum. Entre uma e outra giram as demais. Lutam para estabelecer a melhor pronúncia das palavras da língua culta quando escrita. As reformas ortográficas serão em vão?
No português, ao que se sabe, é muito comum aparecerem palavras com duas pronúncias: uma falada, outra escrita, e aí geram polêmicas à vezes acirradas. Vale a pena? Por exemplo: circuito, fechar (e seus derivados), recorde, subsídio, secção, senhora, Nobel e quase todos os nomes próprios de outras línguas. Há pessoas cultas que são radicais e dizem: deviam acabar com as consoantes dobradas, com o c cedilhado, substituir o q pelo k, abandonar esta história de que as palavras devem seguir o mesmo rumo de sua origem na evolução da língua e tantas outras soluções esdrúxulas.
Uma polêmica muito grande surge de vez em quando – e agora está acesa por causa da iminência de editarem uma nova lei ortográfica – para tornar a língua escrita no Brasil e em Portugal igualzinha ou com poucas diferenças.
Quanto a mim, não concordo com nova ortografia proposta, primeiro porque essa aproximação com o jeito do falar de Portugal é impossível. Para mim, são dois dialetos: o do Brasil e o de Portugal, sem acrescentar aqui os da África, que continuam modificando-se rapidamente, afastado mais do Brasil e teimando em escrever como em Portugal. Segundo, pela trabalheira que vai dar às escolas, às editoras (que vão ganhar e muito), pelo papel que se vai gastar... Olhem a poluição!
Enfim, ortografia é isto aí. Não é gramática, é obrigação legal.
No Brasil, já bastam tantas outras leis que não são cumpridas nem punidos os infratores.