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Artigos-->PAÍS DE NÃO-LEITORES -- 04/02/2008 - 12:15 (Joel Pereira de Sá) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos




Em 1952, a editora americana Doubleday criou o selo Anchor Books, dedicado a lançar obras de ficção literária em formato de bolso. Na autobiografia Book business: publishing past present and future [1], Jason Epstein, editor da Doubleday e responsável pelo lançamento do selo, explica o raciocínio por trás da iniciativa: depois da Segunda Guerra, a porcentagem de americanos com estudo superior aumentou sensivelmente.

HojeAtualmente os chamados paperbacks são onipresentes nas prateleiras de livrarias americanas e inglesas, e algumas editoras começam a lançar os livros em paperback (capa mole) e hardcover (capa dura) ao mesmo tempo, abdicando do tradicional período de espera entre o lançamento da versão "cara" e o da versão "barata". Recentemente, a Picador, editora inglesa do grupo Macmillan, anunciou que a partir de 2008 a maioria dos seus lançamentos será feita diretamente em capa mole, com uma tiragem limitada em capa dura.

No Brasil já há editoras fazendo edições, inclusive de obras clássicas, com tiragens a preços bem acessíveis a todos os públicos. Entretanto, as estatísticas ainda não detectaram interesse significativo pela leitura na população de modo geral.

É verdade que o desinteresse absoluto é um caso extremo. Alguns não se interessam por ópera, mas se o ingresso for suficientemente barato podem muito bem experimentar uma ópera um dia. Nesse sentido, é um bom sinal que as editoras brasileiras lancem cada vez mais coleções de livros de bolso: o leitor eventual pode ser seduzido com mais facilidade por um livro de dez ou vinte reais do que por um de cinqüenta. Mas o efeito dessa diminuição de preços é necessariamente limitado: assim como alguém que não tenha gosto pelo gênero dificilmente vai se tornar um fã incondicional de ópera depois de assistir a uma montagem de A flauta mágica, a disponibilidade de livros mais baratos não vai transformar os não-leitores em traças.

E o Brasil é um país de não-leitores. Claro: somos um país de não-estudantes. Em 2002, um quarto da população brasileira com mais de 10 anos de idade tinha menos de quatro anos de estudos completos: 32 milhões de analfabetos funcionais. No mesmo ano, as pessoas de mais de 10 anos de idade morando no Brasil tinham, em média, 6,2 anos de estudo. Estatisticamente, o brasileiro não estuda, e quem não estuda não lê. Todo esforço ajuda, e cada um faz o que pode. Mas não vai ser assim que vamos nos tornar um país de leitores. O que realmente precisamos fazer é a revolução educacional que aconteceu nos Estados Unidos e na Europa cinqüenta anos atrás, e em muitos países asiáticos pouco depois disso. É aumentando o público potencial da literatura que o público real vai aumentar.

Mas se quem quer que a educação seja uma prioridade no Brasil não precisa usar o argumento da leitura, quem quer que a literatura brasileira progrida não pode deixar de falar de educação. Ter mais leitores é só o começo. Mais leitores quer dizer mais diversidade de gosto e mais gente disposta a comprar livros, o que leva as editoras a publicar livros mais diversos e investir mais nos livros publicados, porque a recompensa – o lucro da literatura – seria maior. Se as editoras têm mais lucro, elas podem pagar melhor seus autores, o que quer dizer que mais autores podem viver do que escrevem e consagrar mais tempo à produção literária. E mais tempo leva a mais qualidade. Se quisermos um mercado literário grande e vibrante, se queremos grandes autores produzindo grandes obras, se queremos que a literatura tenha um espaço importante no cotidiano do nosso país, precisamos de educação. Todas as outras iniciativas, por louváveis que sejam, são paliativas.

O ex-governador do DF e ex-ministro da Educação Cristóvão Buarque chama a atenção para pontos importantes no tocante à estruturação do processo alfabetizatório no Brasil. É interessante como os tribunais eleitorais defendem o voto do analfabeto, mas o mesmo sistema não se preocupa com a conscientização do mesmo eleitor. O mais alarmante é observar como o sistema eleitoral se preocupa com a instrução do ato de votar, mas sequer se preocupa com a educação do eleitor, cuja instrução o levaria a compreender todos os processos eleitorais e a conhecer o candidato em quem estaria votando. Segundo as estatísticas são mais de setenta milhões de eleitores que votam sem o mínimo de consciência e de conhecimento do processo chamado democrático. Assim, podemos ter idéia da estupidez que reina no processo educacional brasileiro.



JOEL DE SÁ

04/02/2008.



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