Máquinas voadoras continuam caindo. Recentemente caíram três helicópteros em São Paulo. Domingo, dia quatro caiu um avião pequeno. Oito ou dez pessoas morreram. O avião caiu sobre uma casa, onde seis pessoas morreram com o impacto. A aviação parece concorrer com o transporte rodoviário no que tange aos acidentes. Isto é inadmissível para uma área que requer elevados conhecimentos tecnológicos, com prolongados estudos e treinamentos. É cabal a suspeita de que os estudos de tantos tecnocratas não levam a lugar nenhum, no que tange à segurança dos passageiros: as vítimas em potencial. Qualquer empresa de porte no Brasil de hoje é jactanciosa de possuir bons cérebros em seus quadros funcionais. Só que esses técnicos, engenheiros de vôo, engenheiros disso e daquilo acabam demonstrando suas incompetências desastrosas. O acidente com o avião para executivos de domingo caiu porque o piloto errou a direção. Ao invés de virar para a esquerda o fez para a direita. O resultado foi mesmo desastroso e quem mora nas áreas próximas aos aeroportos em São Paulo está mesmo muito apreensivo, com ansiedades de perder o sono.
Anos atrás fiquei um mês na casa de um irmão que residia próximo ao aeroporto de Congonhas. Várias vezes acordei em madrugadas frias e chuvosas com verdadeiros estrondos, estremecendo a casa toda. Os vidros das janelas vibravam e faziam um barulho estranho. Não eram trovões – informava meu mano – são aviões que passam de cem a duzentos metros de altura. Cargueiros pesados que decolam com relativa dificuldade. Fiquei pensando: aparelhos tão pesados quanto navios passam sobrem mim durante a noite toda. Quê segurança temos?
Esses acidentes fazem a gente imaginar que as pessoas formadas em cursos superiores de alta tecnologia, não são em absoluto tão “experts” (peritos) como propagam as empresas, na hora de contratar este ou aquele indivíduo. Normalmente saídos de famílias abastadas tais pessoas têm condições mais do que financeiras de cursarem escolas de alto nível, versando sobre esta ou aquela profissão. Mas, de repente percebe-se um indivíduo nivelado para baixo no que concerne à função que exerce. Conheci engenheiros agrônomos no passado que não sabiam escrever uma carta, um ofício, ou um simples memorando. Recorriam a mim, simples rapaz “latino-americano e sem dinheiro no bolso”.
Com o passar do tempo parece mesmo que isto vai se agravando em nosso país. O ensino piorou e até para pilotos de avião a coisa parece que não vai bem. Fica difícil alguém viajar de ônibus, ou de avião, acreditar em sua chegada ao destino. Nas estradas os carros particulares parecem querer apostar quem chega primeiro. Dão tudo de velocidade e pouco de segurança. Morre gente no Brasil que nem mosca e as leis continuam bastardas. Morrer por um ideal é digno e é muito bem apropriado para quem ama o seu país. Morrer inutilmente num desastre provocado – como ocorre com os jovens embriagados pelo país – é morrer inutilmente. É o que chamávamos antigamente de “morte de otário”.
Cair um avião sobre a casa da gente é morrer de forma acidental, ocasional. É um infortúnio. Lembro-me, neste momento, quando estávamos atravessando uma serra em Minas Gerais aí pelos idos de abril de 1953. O motorista da “jardineira” estacionou e disse:
- “Meu Deus! Olhem lá embaixo!”. Olhamos e vimos a “jardineira” da mesma empresa em que viajávamos havia uns dez dias. Descemos o enorme declive da serra. A “jardineira” estava com as rodas para cima. Garoto, consegui adentrar a mesma e vi tudo colorido. Roupas em profusão manchadas de vermelho. Era sangue, mas era tão vermelho que achei até bonito. Ao lado várias cruzes fincadas sobre terras levantadas. Olhei para meu pai e minha mãe: estavam brancos e choravam. Pessoas amigas estavam naquela “jardineira”, que era justamente a que havíamos perdido o embarque ao chegar em Crato, no Ceará, algumas horas depois da partida. Entendemos que a morte não tem data nem hora marcada para acontecer. Pode ocorrer a qualquer momento. Mas, podemos sempre procurar evitá-la, tendo sempre os cuidados adicionais em tudo que fazemos, principalmente viajar. Também ao atravessar uma rua, ou avenida movimentada. Todo cuidado é pouco.
Jeovah de Moura Nunes
Jornalista e escritor
(publicado no jornal “Comércio do Jahu” de 06 de novembro de 2007 – página 2 – Opinião)