Estamos em 2008. É apenas um número. A natureza e os animais não sabem da importância que nós damos a esse número como sendo uma virada de ano. Para eles é apenas o raiar de mais um dia. Para nós humanos a chegada de um novo ano sempre foi motivo de alegria, de esperanças num porvir melhor, numa quase certeza de que as coisas vão melhorar. Isto é uma lógica do espírito humano e não podia ser diferente. Principalmente para este jornal “Comércio do Jahu” que entrou hoje no ano do seu CENTENÁRIO! Titubeei no título desta matéria por várias horas. Não sabia se colocava “Ano novo, vida velha”, ou se “Ano novo, vida velha e velhaca”. Porém, como são tempos festivos não quis magoar os sentimentos das pessoas felizes nesta época realmente quase mágica. E também da minha felicidade fazer parte da felicidade de todos porque a gente comemora o Natal e o Ano Novo de forma coletiva, mesmo estando a sós. Mas, em tempos de festas ainda tenho ojeriza pelo que fazem nossos políticos, muitos dos quais nem deveriam levar este nome porque jamais fizeram política. Alguns exercem o poder público em causa própria, principalmente quando são comerciantes. Fazem a tramóia de beneficiar o público, enquanto ardilosamente se beneficiam da mesma forma, deixando todo mundo embasbacado. Nos países civilizados processos e cadeia seriam muito pouco para indivíduos assim. Então, neste caso, o ano novo continua velho e velhaco porque a nossa República é assim também. Vivemos numa monarquia disfarçada de república.
Nosso país caminha cambiante nas cores verde, amarelo, azul e branco. O verde com o tempo não terá sentido, ou razão de ser em nossa bandeira tal é a destruição das florestas. O amarelo do ouro já se foi há muito tempo. O azul celeste jamais será tirado e o branco da paz não sabemos, porque guerras existiram dentro do solo brasileiro e continuam ainda hoje nos morros e favelas. O país respira exangue nas suas formas de progresso. A educação dos pobres é uma mentira. A saúde? Outra mentira apesar dos esforços particulares de doações em dinheiro aos hospitais. Nunca se pagou tanto imposto e o governo é inerte. Inventa planos econômicos de impacto e tudo não sai do papel. As estradas estão ficando intransitáveis. Eleições são a cada dois anos. Uma fortuna é gasta para colocarmos homens semi-analfabetos, ou mesmo ladrões dos cofres públicos no poder. Criminosos comuns e criminosos com diploma de curso superior pululam por todo o país, impunemente. Se presos, logo são rodeados por uma plêiade de bons advogados de “porta de cadeia” no anseio de faturar mais um “cliente” em potencial. E como os direitos dos presos são maiores do que os direitos das vítimas, logo são soltos para retornarem à gostosa e triunfante criminalidade. E o nosso país vai se tornando no conceito mundial o país da impunidade, ou o país da criminalidade. A maioria da população não se manifesta. Tem medo. Protestar num país tão “democrático” quanto o nosso, pode se transformar num perigoso crime. O único protesto de envergadura que existe é a passeata gay. Assim o novo ano continua velho e velhaco.
A queima da cana na agricultura canavieira causa debates acalorados porque é a nossa vida que está em jogo. Os produtores rurais alienam-se do problema porque está em jogo o volume de dinheiro que recolhem a cada safra. No nosso humilde conceito quem não pode comprar uma colhedeira deve deixar de plantar cana, ou mudar de profissão. Embora simples escritor tenho experiência rural ao trabalhar muitos anos na Secretaria de Estado da Agricultura, conhecendo de perto os métodos empregados para o desmatamento de florestas virgens. Vi tratores “Caterpillar”, o antigo D6, passando embaixo de raízes gigantes de árvores descomunais no intuito de derrubá-las, enquanto lá em cima macacos gritavam e uivavam feito cães desesperados. Ninhos e ovos caíam em profusão. Era a vida morrendo violentamente, usando-se tratores e fogo para que nós pudéssemos viver. Mas, agora descobrimos que nós também estamos ameaçados. Vítimas de nossos atos impensados, irresponsáveis, interessados apenas em ganhar dinheiro fácil, já vemos a morte por perto e o planeta ruge cobrando o que lhe pertencia. E a cada ciclo das estações vamos sentindo uma piora. Mas, nossas autoridades não estão nem aí. Não se iludam! Nossas vidas neste novo ano continuarão como sempre velhas e velhacas. Nada mudará!
Ainda assim desejamos um feliz e próspero Ano Novo para todos!
Jeovah de Moura Nunes
Jornalista e escritor
(publicado no jornal “Comércio do Jahu” no dia 18 de dezembro de 2007, página 2 – Opinião).