Por toda minha vida sempre acreditei que ninguém morre. Se morrêssemos, nosso deus seria um deus de mortos. Seria, portanto um deus falso, um deus de nada, porque não haveria vida para ele governar, ou não haveria filhos para ele amar. Mas, nosso Deus é deus de vivos e não de mortos. E nós, todos nós, somos espíritos, não somos carne. Somos carne aqui neste lindo planeta porque a roupa de carne é apropriada para viver aqui. Aqui é a escola do espírito. E o espírito é essência divina, ou uma parte do próprio Deus, nosso querido Paizão.
Sem alarde, sem aviso e em silêncio o mestre que admirei nesta vida, José Raphael Toscano partiu para a espiritualidade! Minha admiração por ele será para sempre. Toscano foi meu professor de desenho, mas ensinava História e contava com tanta boa vontade que a classe silenciava e no meu caso parecia ver os personagens históricos ali presentes. Seu artigo, ou crônica, publicada no dia 26 de janeiro último, não é artigo, nem crônica, é pura poesia. Foi uma declamação poética da rua Amaral Gurgel, uma via pública considerada por todos como a mais charmosa, talvez a mais importante, mas, no entender do mestre, os nomes dos moradores eram poeticamente ainda mais importantes, daí surge a relação dos nomes de amigos, conhecidos seus, ao longo da que era a sua Amaral Gurgel dos velhos tempos e tudo isso de maneira emocionante, alternando dados interessantes, cedendo a nós leitores um “show” de redação, já que ser escritor era uma de suas patentes em meio ao universo de outras atividades especiais. Na relação do mestre, entre residências familiares e comércio em geral, tudo nominalmente consignado, contei sessenta e um endereços nesse perímetro da Amaral Gurgel, iniciando-se na 13 de Maio e indo até o Largo do Penna. É um trabalho extraordinário e que merece um estudo e um destaque para aqueles que apreciam as notícias do passado, ou a História viva de Jaú.
No último artigo publicado no sábado passado o professor e jornalista Toscano mostra a sua brasilidade. Ser brasileiro hoje não é renunciar a luta deitando-se na esteira da acomodação com o status social miserável de nossos irmãos brasileiros, como fazem os abastados da vida, considerando-se seguros dentro de suas riquezas. Ninguém está seguro quando se vive em meio a um mar de misérias. Toscano que foi professor sentiu a cruel incerteza deste país, quando tem um déficit de 750 mil professores em razão desses desgovernos brasileiros em não apoiar e não dar ênfase à educação. Ignoram brutalmente esses nossos mandatários repletos de vaidade congênita de que a educação é o melhor e deveria ser o maior investimento de um país que tenha dignidade. Mas, quando os homens no poder mostram-se indignos, o que se pode esperar de uma pátria assim? De Gaulle conseguiu definir realmente o que era o Brasil daqueles tempos, porque atualmente a coisa desembestou de vez, no que concerne ao social. E sem educação o caos vai se instalando nas esferas sociais onde só a freqüência da criança à escola dá direito a um pagamento muito parecido com a vitória de Pirro. Freqüência não significa desenvolvimento da criança, quando não há professores. Ainda sobre a França o mestre Toscano cita com todas as letras em seu último artigo, que falar da revolução francesa “não é uma lição de história, mas um acontecimento marcante que mudou o rumo da humanidade, deixando aos pósteros sinais de alerta e advertência”. Nosso país hoje é tal e qual a França antes da revolução que mudou o mundo. O povo pobre ainda não está comendo ratos como em 1790 em Paris, mesmo recebendo os salários mais infames e miseráveis do mundo, mas já dá sinais de canseira diante da decadência moral dos políticos e seus salários milionários.
Para finalizar, o mestre Toscano, referindo-se a nossa Jaú, diz, provavelmente com nostalgia em seu penúltimo artigo: “A cidade, com seus 13 mil habitantes, era uma grande família”. Ele sabia que a família é tudo, quando hoje vemos este tudo desmoronando. Meu caro mestre faça a festa aí onde você está e nunca se esqueça da pequenina Jaú aqui neste pequenino planeta, bem como nós jauenses de nascimento e de coração.
Jeovah de Moura Nunes
jornalista e escritor
jeovahmnunes@hotmail.com
(publicado no jornal "Comércio do Jahu" de 26 de fevereiro de 2006 - página 2 - "Opinião".