ENTREVISTA
Magdi Allam Vice-diretor do jornal italiano ‘Corriere della Sera’ e muçulmano convertido ao cristianismo
‘Quem ofende Alá são os terroristas’
Considerado no passado um dos muçulmanos mais influentes da Europa, Allam diz que o Islã não favorece o diálogo
Nívea Terumi e Alexandre Gonçalves
Magdi Allam já foi considerado o mais proeminente muçulmano na Itália. Vice-diretor do principal jornal do país, o
Corriere della Sera, foi batizado pelo papa Bento XVI na semana passada (
dia 22/03/2008), na Basílica de São Pedro. Nesta entrevista ao Estado, Magdi Allam (que agora acrescentou ao seu nome “Cristiano”) defendeu o polêmico curta-metragem Fitna do holandês Geert Wilders, que mescla cenas de ataques terroristas com trechos do Alcorão. Afirmou não acreditar num “Islã moderado”, mas sim no diálogo com “islâmicos moderados”.
O que o sr. achou da polêmica gerada pelo documentário ‘Fitna’?Quem ofende o Islã não é o europeu que denuncia o terrorismo islâmico, mas os responsáveis por esses atos de terror. O secretário-geral da ONU (
Ban Ki-moon) sugeriu que o documentário fosse censurado. Ele deveria condenar o extremismo, que produziu a realidade apenas retratada nesse documentário.
O sr. acredita em um Islã moderado?Não. Os escritos de Maomé não fundamentam uma disposição ao diálogo. Neste caso, toda a “moderação” vem de uma reinterpretação dos textos sagrados. Porém acredito em islâmicos moderados. Com eles, é possível e necessário dialogar.
Quais são as raízes do terrorismo atual?Com a derrota da ideologia pan-arabista na Guerra dos Seis Dias (1967), houve um processo interno de radicalização do Islã, que levou ao poder, em alguns países, grupos extremistas. Mas a principal causa dessa escalada de violência foi o empenho de Osama bin Laden, um milionário saudita que conseguiu “globalizar” o terrorismo. Hoje, o extremismo islâmico na Europa tornou-se um fenômeno autóctone, com pessoas de cidadania européia dispostas a participar da Jihad (guerra santa) e, eventualmente, promover atentados suicidas como vimos em Londres em 2005.
BENÇÃO – O muçulmano Allam é batizado
por Bento XVI: para alguns países, crime
punido com a morteConversões como a sua não podem tornar mais difícil a vida dos cristãos em países islâmicos?Já assistimos à perseguição dos cristãos no Iraque, no Egito, no Sudão e em outros países. Os muçulmanos convertidos ao cristianismo são condenados à morte por apostasia (
renúncia à fé). Mas, mesmo na Europa, não há reciprocidade religiosa. Milhares de europeus puderam converter-se, com toda segurança, ao Islã. O mesmo não ocorre com muçulmanos convertidos ao cristianismo. Na maior parte dos casos, vivem clandestinamente sua nova fé. Quis chamar atenção sobre a necessidade de que essas pessoas saiam das catacumbas. Tenho exigido que o Estado e a Igreja protejam os convertidos. Só assim a Europa terá autoridade para pressionar por liberdade religiosa nos países islâmicos.
Como o sr. definiria a postura de Bento XVI com relação ao Islã?Defendi o papa firmemente depois do seu discurso na Universidade de Ratisbona (Alemanha). Não o considerei inoportuno ou provocativo. Posso dizer o mesmo do meu batismo. No diálogo com outras religiões, este papa, em vez de partir de questões dogmáticas, dificilmente conciliáveis, prefere refletir sobre os valores universais e os direitos fundamentais do homem, onde seria possível um entendimento também no plano religioso. Creio que isso é uma revolução.
Como o sr. vê o cristianismo na Europa?A Europa atravessa uma profunda crise de valores e de identidade. Amplos setores abraçam o relativismo ético, que nos leva a imaginar que todas as religiões são iguais, prescindindo dos seus conteúdos, e a abraçar o “politicamente correto” que nos cala frente a injustiças para não ferir suscetibilidades.
Fonte: O ESTADO DE S. PAULO/Internacional, Segunda-feira, 07/04/2008, Página A12.
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“Fora da VERDADE não existe CARIDADE nem, muito menos, SALVAÇÃO!”LUIZ ROBERTO TURATTI.