Francisco Miguel de Moura- Escritor brasileiro, membro da APL
O cérebro humano é a coisa mais formidável que a evolução construiu no planeta Terra. Entre cerca de cem bilhões de células que o compõem, as que são conhecidas por neurônios respondem pela transmissão dos impulsos nervosos humanos e não se tocam entre si, comunicam-se através das sinapses – uma verdadeira conversa química. Nem os cientistas explicam bem o que são as sinapses. “Talvez a alma, que os homens procuram há milênios, esteja nesse quase toque, e a sinapse do bipolar é uma sinapse alterada, os sintomas do transtorno se manifestam a partir dela. Acredita-se que exista no bipolar um conjunto de genes envolvidos e não apenas um. Não seriam menos de seis nem mais de vinte genes”. (“Diário de uma Bipolar”, pg. 14/15, da jornalista Marina W., publicado pela Editora Nova Fronteira, Rio, 2006).
Ainda passeando por esse livro, li e anotei os vários tipos ou estágios do transtorno bipolar, assim classificados: Tipo 1 = é a antiga psicose maníaco-depressiva; tipo 2 = estado de excitação menor, com o qual é possível viver em sociedade; tipo 3 = desencadeada por fatores externos como mudança de clima e outros; tipo 4 = engloba os pacientes que foram ativos por muito tempo (políticos, por exemplo), e caem em estado depressivo – a chamada depressão unilateral (os sintomas podem ser confundidos com o temperamento da pessoa); e tipo 5 = depressão constante, o pólo oposto da mania, quando a pessoa prolonga as fases de depressão e as repete temporária e constantemente – o puramente depressivo. Como se vê, o transtorno transita de um pólo ao outro, dependendo do estado do humor da pessoa. Segundo palavras de um neurologista, trata-se de transtorno ou desequilíbrio da emoção.
Na minha humilde opinião de paciente, a depressão é uma doença à parte, assim como o delírio, expressamente manifestação do psicótico, é outra. Os casos intermediários é que seriam os transtornos bipolares. Juntar as duas pontas numa só doença torna mais difícil o tratamento. A classificação anterior, PMD (psicótico maníaco-depressivo), era bem melhor clara; esta opinião coincide com a de outros que me antecederam ao referir o assunto. Bipolar é um eufemismo.
No próximo artigo, em vez de estender-me em definições e enumerações científicas, vou contar a minha experiência como bipolar, ou talvez como depressivo unilateral ou puro. Mas quero explicar que a periodicidade dos dois estados – excitação e depressão – levou os cientistas a confundirem uma doença psicótica com outra apenas nervosa mais por via do descontrole das emoções. Pior é que o descontrole do depressivo quase não se denuncia – ninguém toma conhecimento, pois ele convive mais ou menos bem socialmente – e pode levá-lo a doenças graves, daí que precisa ser tratado. E esse tratamento não pode ser apenas químico-farmacológico. Essa química, muitas vezes, pode ser adquirida no contacto com a natureza, em modo de viver mais livre e mais simples, sem estresse e, é claro, acompanhado do tratamento social necessário, pois nos estados agudos o doente não quer sair de casa, mas isolar-se e ficar parado, chegando a um estado próximo da catatonia.