Um milagre assombroso ocorreu na minha rua dia 29 de maio último. É coisa assim para ficarmos embasbacados, surpresos e até temerosos. Apareceu um varredor de rua contratado pelo Paço Municipal! Nunca tinha visto um na minha rua e ao vê-lo achei parecido com um marciano, um extraterrestre, ou coisa que o valha. Quê milagre, hein? Meu Deus! Que valor enorme possui uma eleição e nós, eleitores, não sabemos levar vantagem nisto de maneira correta e exercendo nossa sacrossanta triste cidadania, quase nunca usada! Nós somos os piores democratas do mundo, simplesmente porque não cobramos de nossos políticos suas malfadadas promessas, cujo crédito vai de mal a pior. Pois é. Até a dona Maria, uma corajosa moradora de minha rua, deve ter ficado surpresa, uma vez que ela é quem varria o quarteirão inteiro todos os dias, nestes últimos dez, ou quinze anos. Ajeitava o lixo em saquinhos plásticos e fazia sem reclamar a limpeza total da rua. É uma senhora humilde, porém de grande espírito promovedor e simpático como ela só. Não deveríamos dar nomes às ruas para pessoas já falecidas. A rua em que moro no Jardim Itamarati tem o nome de um falecido, mas para mim é a rua da Dona Maria, viva, atuante e alegre varrendo a rua como se fosse funcionária da Prefeitura. Há muitos anos que lhe peço para entabular uma negociação com o burgomestre pelo menos de metade do salário-mínimo, em meio à imensidão de apadrinhados políticos, os quais servem apenas de claques nos ostensivos eventos de inúmeras, grandiosas e intermináveis inaugurações de um mísero viaduto, cujas finalidades precípuas são prodigiosas: a pública e a privada. Dona Maria ouvia atenciosa minha arenga política e explodia numa gargalhada. Mas, não parava de varrer. Ultimamente Dona Maria não varre mais a nossa rua. Recentemente quebrou os dois braços numa queda e então interrompeu suas varrições. Acabou-se assim o espetáculo de cidadania que ela dava ao varrer toda a rua no quarteirão em que moro.
Em 1991, ou 92, entrei com um pedido na Prefeitura para colocarem um guarda deitado na minha rua, a rua Afonso Cotta, no Jardim Itamarati. Na época era o Griso o prefeito e nada foi feito. Em seguida veio o Waldemar Bauab, nada foi feito. Depois foi o Paulo Sérgio, pior ainda, nada foi feito. Depois veio o “João das Tantas Promessas”. Nada também foi feito. Até uns três anos atrás ainda encontrava cópia do recibo da Prefeitura no valor de dois cruzeiros e uns quebrados, em meio à papelada e rascunhos de meus artigos. Dinheiro jogado fora porque não somos atendidos pelo poder público, hoje mais particular do que público. Eu que sou nordestino nunca imaginei encontrar cidades coronelísticas no Estado que mais se gaba de ser democrático. Depois disso passei a não acreditar mais na Prefeitura de Jaú. Isto porque a meu ver deveria se chamar a prefeitura de “Paço Municipal de Propriedade Privada do Prefeito”. O cara que entra lá como prefeito deve achar ser o dono da cocada preta. Não recebe o povo, não recebe pessoas que são contrárias ao péssimo “time”. Não respeita o eleitor, não dá a mínima para uma reclamação extremamente procedente. São uns caras de pau. Acham que ser prefeito é ser o rei da cidade, transformando-a num feudo. Além disso, existem os compadres afiliados ao poder. Tais pessoas conseguem em conversinhas de pé de ouvido colocar a família toda na prefeitura e passam também a ser donas da cocada preta.
Em Jaú é o fim da picada quando se vê um varredor, que mesmo terceirizado passa varrendo nossa rua, acontecimento raríssimo ou mesmo impensado por nós de classes menos favorecidas. Isto porque nos bairros de ricos têm exércitos de varredores por toda parte. Limpam até os terrenos dos ricaços, sendo que estes sequer votam em alguém. E se votam, os números de votos deles são insuficientes para eleger um político. O que fazem é pressionar seus funcionários para votarem em alguém da preferência deles em troca sabe lá do quê. Acho isto bem feito para o povão: quem manda votar em ricos? As pessoas pobres votam nos ricaços porque vêem neles a imagem de quem gostariam de ser. É pura idiotice. Este atual burgomestre não fez nada de realce e que marque sua administração como uma das melhores. Poderá ficar conhecida como a pior administração desde o século XIX, ou desde o primeiro prefeito de Jaú. Os moradores de bairros periféricos estão desolados, desanimados, completamente deprimidos em razão desses oito inúteis anos jogados fora pelo atual burgomestre. A população não tem a quem recorrer para ter um bairro melhor e uma saúde de atendimento mais humano, mesmo com os escorchantes aumentos do IPTU e as taxas e outras cobranças indevidas.
2008 será um ano que não terminará tão cedo para todos nós!
Jeovah de Moura Nunes
Escritor e jornalista
jeovahmnunes@hotmail.com
(esta matéria será publicada no jornal "Comércio do Jahu" de 03 de junho do corrente ano - página 2 - Opinião)
