APRESENTO A TODOS OS LEITORES E ESCRITORES USINEIROS O MEU MANO BETO, JORNALISTA E ESCRITOR.
"DOR NA CONSCIÊNCIA"
(Alberto Nunes)
Muitos são os métodos utilizados para captar e atrair a atenção pública, porém, deve haver nisto muita sinceridade e verdade. A notícia de que o deputado estadual João Caramez, eleito três vezes por Itapevi plantou 96 mudas de árvores em Cubatão, para neutralizar a emissão de carbono, conforme manchete numa página de um jornal, parece louvável, tendo em vista a defesa do meio ambiente, além de receber do Instituto Brasileiro de Defesa da Natureza (IBDN), o selo “Carbono Cidadão”. Penso que Carbono cidadão é um selo estranho, afinal nosso objetivo é o oxigênio. O deputado ambientalista plantou mudas de quaresmeiras e maracás-da-serra. Diz o deputado que “em meu gabinete também passamos a usar papel reciclado e fizemos um trabalho de conscientização dos funcionários para que tenham ações ambientalmente corretas".
Afinal, o que houve com a metamorfose ambulante? Seria dor na consciência?
Para se compreender as contradições desse cultivo de mudas em Cubatão, vamos recordar alguns fatos: no final de 1998 e meados de 1999, milhares de árvores foram derrubadas em Ambuitá, para a implantação de um aterro sanitário e o nosso maior obstáculo para impedir essa transgressão ao meio ambiente foi justamente a administração Caramez. Na época, o deputado era secretário da Casa Civil do governo Mário Covas e tinha como aliado o prefeito de Itapevi.
Foram impiedosamente derrubadas árvores como jacarandá, aroeira, ipê roxo, ipê amarelo, angico, cedro, tapechingui, quaresmeira, baúva, cambará, guatambu, pinheiros-do-paraná – enfim, árvores de todas as espécies remanescentes da mata atlântica, confirmadas pelos próprios empregados encarregados de cortá-las e queimá-las.
Num evento em 18 de fevereiro de 2001, dia de comemoração pela emancipação de Itapevi, manifestantes protestavam contra a instalação do aterro sanitário na luta para proteger o meio ambiente, Caramez fez-se presente e afirmou categoricamente: “Os moradores dos Condomínios de Nova São Paulo e Refúgio dos Pinheiros querendo ou não, Itapevi vai ter um aterro sanitário”. Em seguida, o deputado muito irritado, com o dedo em riste e apontado para o rosto de um antigo morador de Amador Bueno, o senhor Lazinho, que tentava conversar, chamou-o de “safado” -- um homem que apenas defendia a natureza. O senhor Lazinho, que à época desse acontecimento tinha 70 anos, não chegou ver o aterro concluído, sofreu um derrame e faleceu pouco tempo depois.
Em sua última entrevista a um jornal ele dissera: “Eu falo aqui, eu falo sentado na frente da prefeita [Dalvani], do deputado [Caramez]; certa vez, fui fazer um protesto contra o lixão, no dia do aniversário de emancipação de Itapevi, e o deputado João Caramez, quase me bateu, esfregou o dedo no meu rosto, mas eu falei da indignação que o povo ficou com a atitude dele. Não tenho medo de nada!”. – Palavras do saudoso Lazinho.
Hoje, a cidade convive com esta situação – o mau cheiro em Ambuitá – e devemos ao deputado João Caramez, que não se preocupou com o povo de Itapevi.
Portanto, plantar árvores em Cubatão sob pretexto de neutralizar o CO2, é encobrir com falsa aparência, é disfarçar ações cometidas e consentidas contra o meio ambiente de Itapevi, ações essas registradas, publicadas, mas que, certamente, o povo de Cubatão desconhece.