Nos anos sessenta quando o Brasil ainda destruía a Mata Atlântica com fogo, foices, machados, motosserras e tudo que tinham direito; quando ninguém falava da floresta Amazônica com algum sentimento de humanidade; quando neste Estado paulista a Secretaria da Agricultura praticava suas maiores atrocidades contra a fauna e a flora, pelando o Estado todo de todas as espécies nativas, eu, ainda moço, lia nos jornais que na Europa as donas de casa faziam passeatas contra a destruição das florestas brasileiras. Tentavam invadir embaixadas brasileiras para jogarem peixes podres. Isto ocorria diariamente nas embaixadas de todos os países destruidores do meio ambiente. Enxerguei naquelas mulheres o que não enxergava nos brasileiros: o nobre sentimento de proteger a natureza e os animais indefesos. Este sentimento continua até hoje e ninguém me convencerá o contrário.
Em 1957, com doze anos, costumava ir com um grupo de garotos até próximo à Airosa Galvão nadar num córrego de águas limpas. Um dia apareceram dois homens puxando um boi laçado com cordas pelos chifres, provavelmente roubado. Empurraram o boi para dentro do córrego e deram início a um espetáculo triste e hediondo. Primeiro cortaram com um afiado facão os órgãos genitais do boi. O mugido do animal até hoje ecoa em meus tímpanos juntamente com as gargalhadas dos dois homens. Depois foram retalhando o boi manietado ainda vivo. Não suportando aquelas cenas dantescas resolvi voltar para casa sozinho, andando pela estrada de terra empoeirada e pensando sobre a natureza cruel da humanidade. Naquele dia me convenci de que boa parte da humanidade não era filha de Deus e sim de satã. E até hoje penso assim e todas as vezes que vou comer um pedaço de carne agradeço ao animal que morre para que eu viva. Jesus também morreu para que nós vivêssemos, mas, os animais fazem isto todos os dias, antes de Cristo, depois de Cristo e agora mais ainda com as desequilibradas neuroses dos divertimentos e prazeres das churrascadas.
Anos atrás estava eu e meu filho próximo de um canavial conversando e chupando cana. Sentados sobre a palha pedi ao meu filho para não se mexer, porque uma cascavel passava por cima da perna dele e por baixo da outra semi-erguida. O réptil afastou-se tranqüilo. Sempre soube que até as cascavéis conhecem um bom coração.
Aí vem um engenheiro agrônomo, dono de propriedade rural, ganhando rios de dinheiro ao vender seus produtos para usinas, defender seu “peixe” chamando aqueles que procuram sensibilizar pessoas de “ecos-chatas!” Ora, neste caso adoro ser um eco-chato porque todos que lutaram e lutam pelo planeta salvaram alguma coisa neste país. Quem pensa ao contrário é mais um inconveniente destruidor do meio-ambiente, tentando justificar as queimadas pensando apenas nos milionários depósitos bancários. Não aceitam reclamações que até a Justiça já as considera procedentes! Se a Justiça procura ficar ao lado da natureza e dos que sofrem as conseqüências das queimadas, então a Justiça é também eco-chata? O capital brasileiro não aceita o bom senso. Ainda está atolado ao velho conceito escravagista, conforme vergonhosas denúncias nacionais e internacionais. Não adquire as colheitadeiras porque tem farta mão de obra sem custos. Não quer investir num negócio que é bom para ele e bom para todos nós. Tudo tem que ser feito com a razão e cada um de nós tem a sua razão. A razão deles (capitalistas) é a grana no bolso, enquanto a nossa é respirar um oxigênio mais purificado. Quanto ao desemprego que isto irá proporcionar não é coisa do arco da velha. O governo federal é responsável pelo bem-estar dessa gente toda, ele que cuide disso. E os desempregados que protestem e lutem para melhorar seu padrão de vida. Lula está dando emprego a dezenas de milhares de seus aloprados. Então que socorra os cortadores de cana, muito deles adoram o Lula lá, apesar deste presidente ser o responsável pela volta da inflação.
As queimadas têm que desaparecer já! A natureza não pode esperar mais. Depois que o etanol virou histeria rural a inflação voltou de forma avassaladora. Corremos o risco de não termos alimentos em disponibilidade se não houver um consenso em plantar cana paralelamente ao plantio de alimentos em áreas resguardadas. As pessoas precisam se conscientizar de que não vão se alimentar de automóveis, nem de etanol. Um apagão na alimentação não está descartado porque o etanol é a bola da vez neste novo ciclo econômico. De minha parte continuarei sendo um eco-chato. A fauna e a flora estarão agradecidas ao meu espírito eternamente vivificado e feliz da vida em defender uma boa causa, que é, outrossim, uma causa de meu amoroso Paizão!