ALL THINGS MUST PASS OU TODAS AS COISAS DEVEM PASSAR
Como já disse o eterno Beatle George Harrison , All things must pass (Todas as coisas devem passar). É uma grande verdade, mas tem coisas que deveriam passar bem devagarinho mesmo, enquanto outras deveriam passar a jato pela nossas vidas e muito ao contrário se perpetuam para nosso desgosto. Quem teve a felicidade de curtir a era dos Beatles sabe do que estou falando. Foi uma era mágica onde a música daqueles meninos ingleses varreram como furacão toda a face da terra. Eu sou fã incondicional dos Beatles e devo muito da minha fluência no Inglês às suas músicas ricas em harmonia, letras arrojadas , inovadoras e simples.
Embora gostasse de todos, a música de George Harrison me tocava mais fundo. Quando os Beatles se separaram eu só me identificava com o trabalho solo do George embora reconhecesse os outros também. Os "riffs" de sua guitarra por sí só já eram suficientes para encher a minha alma de ternura. O camarada fez uma música chamada “Hey you”, que não tinha letra. Era só “Hey you” do começo ao fim, e eu me deleitava com aqueles apelos dramáticos e repetia à exaustão a faixa sem entender porque estava cada vez mais tomado por aquele sentimento de angústia, amor e paixão. Era como se fosse um mantra que quanto mais você repetisse mais tomado de emoção você ficava. Nunca vi nada igual e olha que eu sou músico também.
“If not for you” me fazia levitar com aquela guitarra inconfundível fazendo a base e depois se não bastasse surgiram versões magistrais de Bob Dilan e Ritchie Havens, um "negão" americano que tocava violão com umas posições inventadas por ele , totalmente fora do padrão vigente mas com um resultado surpreendente. Quem conhece “ What´s a life? Se não, procure escutar.
Segundo o consagrado músico indiano Ravi Shankar, o músico ocidental que mais conseguiu se aprofundar no domínio da Cítara (instrumento de corda indiano) foi George Harrison. O resto do pessoal que se aventurava , abandonava o instrumento pois as cordas de aço muito finas produziam cortes profundos nos dedos do iniciante que não resistia às dores e sangramentos e abandonava as aulas. Para ser bem sucedido o praticante deveria ter um alto poder de concentração e espiritualidade muito acentuada o que inibia as dores. Pois é, George Harrison passou com louvor por este teste e dominou o “marvado” instrumento.
Mais recentemente fez parte do travellin’ wilburies com nada mais que o Mito Roy Orbinson( Pretty woman), no qual Elvis Presley se inspirou para cantar ,Bob Dilan e Tom Petty .
Mas saudades mesmo me dá das tardes de Sábado quando a Rádio Mundial do Rio de Janeiro apresentava o programa “Cavern Club” com o “Big Boy”, um locutor doidão com um inglês de dar inveja. Sábado à tarde significava ouvir Beatles até o anoitecer. Para mim isso se tornou um “Cult ”.
O problema é que depois me baixa uma fossa danada por saber que aqueles bons tempos já se foram e não voltam mais.
O talento de George está acima do bem e do mal e o que mais me deixava impressionado era que apesar de ter feito tudo o que fez, virado o mundo de cabeça para baixo, atirado velhos dogmas e paradigmas pela janela, o “Monstro Sagrado” ainda conseguia tempo para ser humilde e acanhado. Essa é demais!
George,já que o reino dos céus é dos humildes, então boa viagem !