Francisco Miguel de Moura – Membro da Academia Piauiense de Letras
Em entrevista à revista “VEJA” (26.4.2006), o economista Vinod Thomas, doutor pela Universidade Chicago, disse que o Brasil “deve levar em consideração as suas próprias experiências, seguir o seu próprio estilo”, para ultrapassar, dentro de cinco anos, a China e a Índia. Ele morou no Brasil por 5 anos como diretor do Banco Mundial e acaba de lançar um livro luminoso: “O Brasil Visto por Dentro”. Perguntado sobre que estilo é esse, responde, entre outras coisas, que “o Brasil tem tudo para ser o maior exportador do mundo de bens culturais: a diversidade étnica e a riqueza das manifestações.”
São dois pontos – diversidade étnica e riqueza das manifestações culturais – incontestáveis com respeito ao país inteiro e dentro de cada região, estado, etc. Todos nós sabemos disso e eles, lá fora, já se estão convencendo dessa realidade de nossa formação e de nossa história. Significa que devemos ter instituições e órgãos referentes à cultura que respeitem as divergências e a pluralidade, os nossos contrastes e os nossos acertos, que isto é nossa riqueza.
Mas é sabido que os governos dos estados, e falo agora especialmente do Piauí, exceto em pequenos períodos, têm trabalhado pouco, muito pouco pela Cultura.
Não se fala aqui em cultura como mega-evento, a contrafação da cultura que nós presenciamos hoje. Referimo-nos àqueles momentos em que os agentes vão à sociedade, de braços abertos, discutem a problemática cultural de sua terra e de sua gente, marcando daí o desempenho das ações correlacionadas. Nenhum preconceito contra o futebol, os esportes de modo geral, nem pelo folclore. Ao contrário. O respeito a fim de que não se transformem apenas em matéria de exportação massificada da ignorância e da sensaboria globalizada pela mídia. O artista local, seja o escritor, o músico, ou dançarino, o teatrólogo, o pintor, etc. não busca o reconhecimento nacional, pois já não existe mais a categoria. O que existe é burrice da globalização com o nome de universal. Os verdadeiros artistas querem o rebulício de sua terra: - a vila, o povoado de nascimento ou de adoção, para, dentro das possibilidades, captar a essência do ser e do mundo, pelo prazer de servir e de amar, de viver e de sorrir, de chorar e de poder participar politicamente, em alto sentido, de todas as ações que dizem respeito ao povo e seu destino. Eles se satisfazem com a glória local, se esta vem.
Mas me parece que não era bem disto que o entrevistado citado tratava ou tinha em mente, tendo em vista que se refere mais à exportação da cultura do que ao seu consumo. Cultura se casa muito pouco com exportação.