Leia: O quinto mandamento, de Jeovah de Moura Nunes
Comércio do Jahu 15/07/2008
Por Jeovah de Moura Nunes
O quinto mandamento da lei, segundo a Bíblia, recebido pelo profeta Moisés e adotado pelas religiões cristãs diz assim: “não matar”. Diz com absoluta autoridade: “não matar”. E ponto final. É uma ordem. Não especifica o que não se pode matar. Não matar nada. Ou não matar qualquer vida. Infelizmente, em nosso País, este mandamento é o mais burlado, o mais fraudado e o menos respeitado por muitos e muitos brasileiros, que se dizem civilizados. E o pior: dizem ser cristãos também. Tal comportamento torna o homem indigno de andar com os dois pés. Teria mais dignidade se andasse de quatro. Mas, neste caso, não poderia ser comparado com os animais que andam de quatro, porque nem os animais matam por ódio. Quando o fazem buscam o alimento. E ainda têm eles a dignidade de matar o animal – sua caça – sem fazê-la sofrer. Os felinos procuram asfixiar rapidamente a vítima para não ter de abri-la ainda viva. Com a boca mordem o focinho do antílope não permitindo a entrada do oxigênio. Ficam assim até a presa relaxar: sinal de que já não sente mais nada.
Se nós matamos para comer está errado quando sequer pensamos naquele animal fraternalmente. Afinal, o cara está morrendo para nos alimentar. Mereceria de nossa parte pelo menos um “muito obrigado!” Mas, não é assim que acontece. Matar parece ser uma orgia e divertimento de muitas pessoas pelo mundo todo. No Brasil mata-se por atacado quando um bêbado ao volante atropela uma família inteira. Mata-se em assaltos. O governo mata em estradas malconservadas. Mata-se a esposa, mata-se o marido, matam-se crianças e agora virou modismo jogá-las pelas janelas de edifícios. Este novo método faz me lembrar dos nazistas que jogavam crianças nas fornalhas e mandavam as mães irem atrás. E elas iam por amor aos filhos.
A polícia do Rio de Janeiro matou, na semana passada, empunhando metralhadoras, um garoto de 3 anos. Parece existir uma psiconeurose atacando as pessoas, inclusive a polícia. O meio ambiente social está pior hoje do que nos tempos da ditadura. Degringolou de vez nosso país. Os assassinatos transformam-se diariamente em estatística comum. De manhã até a noite as notícias são semelhantes aos antigos noticiários das guerras, com a diferença de que nas guerras matava-se por ideais, sobrevivência e opiniões contrárias.
No Brasil não é o caso. Aqui se morre estupidamente, ou desnecessariamente, por questões infantis, ou ocorrências supérfluas, banais e idiotas até. Não há posicionamento tanto do matador, quanto da vítima. Há apenas na maioria dos casos os motivos de roubos de dinheiro vivo, demonstrando claramente que muitos brasileiros apreciam mais o dinheiro do que seu Deus, ou o testamento de seu Deus.
O ódio produzido por um assassino confesso é muito grande, perpassa o tempo. Em Berlim, recentemente, um homem – sem dúvida com seqüelas familiares dos tempos nazistas – degolou o boneco de cera que imitava Adolph Hitler. Ele confessou que estava indignado com a presença de Hitler, mesmo de cera, na exposição.
Não há símile na história da humanidade a crueldade deste líder nazista. O número de pessoas mortas nos campos de extermínio foi estimado em um total de pelo menos 6,7 milhões, e possivelmente 7,2 milhões. Destes, mais de 95% eram judeus. Estes campos foram responsáveis por cerca de metade do total dos judeus mortos no holocausto. Desse total, segundo o censo publicado na enciclopédia Britânica-Mirador (edição de 1978), no fim da guerra existiam apenas 200 mil judeus.
Apesar de todos esses dados impressionantes, o povo judeu continua acossado por um número grande de inimigos sem visualizar um futuro promissor em Israel, esse povo que a Bíblia chama de “povo de Deus”. Atualmente é proibido pela ONU esquecer o holocausto. Aqui no Brasil parece que estamos esquecendo tudo isso e a impressão que fica é a de que estamos nos acostumando com nosso próprio holocausto.
Se realmente amamos este País, temos de endireitar isto aqui. Se o Brasil é realmente partidário do cristianismo, algo precisa ser feito tais como leis duras, inflexíveis e nada de matar, prender e soltar. Quem avisa não sou eu é o quinto mandamento: “não matar”. Não estamos muito longe de empatarmos com o holocausto judaico, posto que temos não uma justiça punitiva comum, mas uma justiça incomum, onde o ponto forte é a impunidade em razão dos péssimos legisladores que o povo elege, o que faz com que o povo se torne também péssimo eleitor. Se não mudarmos as regras do jogo, o jogo vai continuar violento e o quinto mandamento atirado na vala comum de nossas misérias humanas.
Jeovah de Moura Nunes é escritor e jornalista. jeovahmnunes@hotmail.com
(publicado no jornal "Comércio de Jaú" de hoje dia 15 de julho de 2008 - página 2 - Opinião.
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