Desejo manifestar meus sentimentos de alegria a todos os caros leitores deste jornal. Você que está me lendo certamente já sabe do centenário do “COMÉRCIO DO JAHU” depois de amanhã na quinta-feira, dia 31 de julho. Este jornal é algo singular e especial neste festivo acontecimento porque não é todos os dias que um empreendimento jornalístico completa 100 anos. Algo maravilhoso e sensacional! Um orgulho para esta cidade! E além do orgulho de aqui viver, carrego o elevado prazer de neste jornal escrever e colocar idéias, opiniões, críticas e pedaços de minha própria história, conhecendo igualmente, histórias de pessoas sensacionais, humildes e que viverão nas suas páginas para sempre.
Jaú! Nunca pensei que aqui me enroscaria! Nunca imaginei contrair matrimônio com uma de suas filhas! Jamais adivinharia adquirir tantas boas amizades! Não tracei nenhum plano, simplesmente me deixei levar pela onda de viver em São Paulo e resignado visitava Jaú quase que mensalmente. Até que não suportando a maré de saudades deste interiorzão gostoso e mais tranqüilo, acabei retornando. O nordeste? Nunca pensei em voltar. Não faz meu gênero viver naquelas plagas castigadas pelo excessivo calor, torrando as caatingas e sem expectativas de melhorias. Fui criado no Estado de São Paulo, que reputo como o meu verdadeiro país. São Paulo não é um Estado, é muito mais do que isto. É, como diziam, a locomotiva do Brasil.
Minha primeira publicação no Comércio foi em 19.12.1972. Um soneto intitulado “O Diplomando” e assinado com um pseudônimo: “Al Aaraaf”, usado naquela época. Estava de passagem por Jaú e uma sobrinha que trabalhava no Comércio sabia de meus trabalhos literários e pediu para escrever alguma coisa. Fiz o soneto. Tempos depois quando retornei ela me entregou o jornal com a publicação. Depois vieram outros sonetos: “O amor que partiu” em 28.06.1973; “Quem?” em 29.06.1973; e “Assim é Jahu” em 07.08.1973. Algumas dessas poesias fazem parte do livro “Pleorama” editado em 1994.
As lembranças desta cidade nunca foram efêmeras para mim. Trago na alma o rosto, as fisionomias, as conversas de tanta gente daqui. É um arquivo que parece possuir vida própria. É incrível! As pessoas não morrem, continuam dentro da gente, mesmo se misturando aos rostos de outras pessoas conhecidas em outros lugares. Conheci muita gente nas cidades em que morei: São Simão, Mairinque, Barra Bonita, Bauru, São José do Rio Preto, Fernandópolis, Lins, São Paulo e São Caetano do Sul. Em Sampa foi onde minhas experiências se completaram. Onde aprendi a ganhar dinheiro, aprendendo também a gastá-lo. Sempre deixando um rastro de poesias fiz algumas publicações na “Gazeta da Vila Prudente” e num jornal do Brás. Minha banca de camelô tinha uma lona clara, onde comecei a escrever poesias enquanto a freguesia não vinha. Com o tempo não havia mais lugares para novas poesias e assim a freguesia – composta exclusivamente de mocinhas – passou a ler e copiá-las. Isto me satisfazia porque além de lerem meus pensamentos poéticos ainda compravam alguma coisa.
Ao regressar para Jaú reencontrei-me com o Comércio este jornal gostoso de se ler e de saudades tantas. Até meu pai escreveu no Comércio nos anos 60. Às vezes pela madrugada ouço a moto do entregador. Ele encosta a moto próxima ao portãozinho e atira o jornal no corredor. Com chuva ou sem chuva o jornal é entregue diariamente. Não resisto muito na cama. Acabo me levantando e de posse daquele troféu noticioso vou até a cozinha, preparo o café da manhã e leio o jornal, tendo o privilégio de usufruir dois sabores: o café e o jornal.
Um jornal é uma luz em nossas vidas, tanto para quem escreve quanto para quem o lê. É um símbolo democrático dos mais plausíveis dentro de um país. É afinal a palavra escrita livremente, levando o pensamento transparente aos leitores, os quais usufruem ao saborear na leitura a liberdade de pensar. Nestes 100 anos o Comércio tem sido um guia, indicando e servindo aos jauenses e aos não-jauenses. É uma façanha mais do que olímpica, é um admirável resultado de um trabalho de muitos pioneiros da comunicação em Jaú.
Desejo a todos e ao eterno COMÉRCIO DO JAHU, incluindo evidentemente todos os leitores: MUITAS FELICIDADES!. E não se esqueçam que esta é uma vitória, ou uma glória excepcional da livre comunicação, do livre pensamento desta cidade de Jaú, bem como de toda a nossa região. A História de Jaú faz parte do Comércio e o Comércio faz parte da História de Jaú.
Parabéns por este grande e extraordinário mérito!
Jeovah de Moura Nunes
escritor e jornalista
jeovahmnunes@hotmail.com
(publicado no jornal “COMÉRCIO DO JAHU” de 29 de julho de 2008 – página 2 – Opinião)