* PERFIS*
Escrevo em cinco sites,e,todos eles,pediram meu perfil.Mandei o que achei pertinente para o que me propunha:fazer um trabalho literário,amador e gratuito.Não era necessário dizer se gosto do vermelho ou do amarelo,se sou alegre ou triste,cosmopolita ou interiorana,gorda ou magra.O mais íntimo do meu ser,o que penso e como ajo, os leitores perspicazes descobrirão através do meu trabalho literário,já que escrever é desnudar a alma.Elogio de boca própria é vitupério,diziam os antigos,por isso,acho,que o nosso perfil deveria ser escrito pelos nossos amigos e/ou leitores.Como no poema de Kipling,”Os cegos e o Elefante”,cada pessoa que nos conhece nos enxerga de uma forma diferente.Somos camaleônicos,para a multidão.
Antigamente ao perfis eram feitos nos finais de ano,quando havia formaturas de bacharéis em Direito,Letras,Ciencias etc.Eram publicados nos jornais,louvando as virtudes do formando,ou citando o que êle pretendia fazer na vida.Quem os elaborava primorosamente eram os colegas com boa veia literária,pois é sempre bom contar com um amigo poeta;o que seria do Vasco da Gama,se não tivesse Camões por amigo?Os periódicos disponibilizavam um espaço(hoje tão caro e disputado)para a publicação desses perfis.Os bacharelandos mais cara-de-pau se insinuavam nas redações,tentando conseguir,com o secretario tudo que precisassem.Assim como as “socialites” de hoje,que assediam as colunistas sociais para que suas festas e viagens sejam tornadas públicas,Santa vaidade!Não basta gozar dessas benesses,todos têm que saber.
A publicação dos perfis começava em Setembro,se o formando tivesse certeza que ia passar.Os perfis eram publicados sobre os títulos:Médicos de 19**;Engenheiros de 19**etc.Os mais elegantes usavam a pedra do anel(uma novela,a escolha do anel de formatura);Esmeraldas de 19**;Rubis de 19**.O retrato do perfilado de beca ou toga,era indispensável;o mesmo retrato do álbum de formatura,seu nome completo e o apelido antecediam o texto,cujas palavras eram simples e jocosas.Descreviam o físico do retratado,suas aptidões,casos cheios de humor da sua vida universitária,sua vida pessoal,coisas verdadeiras ou inventadas.No dia seguinte á publicação,todos identificavam o perfilado e começavam as brincadeiras,as piadas e,não raro,as brigas comas namoradinhas excluídas da lista de possíveis casadoiras.O final eram votos de felicidade e sucesso na profissão escolhida.Era uma boa tradição,mas,passou.Que jornal dispõe hoje de espaço gratuito para ceder?Mais um bom costume antigo sepultado na poeira dos tempos.
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