Senhoras e senhores, donas de casa, e companheiras de trabalho, estamos aqui mais uma vez, neste ano que já teimou em passar, para apresentar a vocês, a última edição do programa de realidade A Casa dos Artistas. Quem vai ficar com os trezentos mil reais? Quem vai ser o primeiro a receber os votos do público? Quem vai ficar com todo o prêmio? Não respondam ainda... Primeiro uma palavra dos patrocinadores... Não é Lombardi?
Silvio Santos esmagou sua concorrência, tanto nas cortes judiciais, quanto nas telas de todos os lares espalhados pelo país. A batalha iniciou-se com mandatos judiciais que tornavam ilegal a trânsmição do programa, devido ao fato da concorrente rede Bobo possuir os direitos de exibição do programa holandês Big Brother. O processo conscistia no fato de que o programa Casa dos Artistas, fora baseado no programa que era de direito e propriedade da concorrente. Porém, o S-BesTeira, astutamente promoveu grandes modificações no programa, tornando-o um produto diferente, valendo-se disso para livrar-se do processo judicialmente. È Certo que as leis de direitos autorais são falhas, e dificilmente o autor têm o direito sobre a idéia, tornando-se extremamente fácil apropriar-se de alguma idéia, e como diria o Chacrinha: “Nada se cria, tudo se copia”.
Estes acontecimentos foram apenas o prólogo da novela pela audiência. Depois de vir desbancando a audiência no horário nobre, e principalmente nos domingos, o epílogo fechou com chave de ouro, mais uma batalha pela audiência. O último capítulo veio na forma de um especial com mais de duas horas de duração, e com a astuta participação dos telespectadores. Nada de grupos de araras-azuis, ou carcarás vermelhos, quebrantando medalhões, e lutando pela sobrevivência num lugar inóspito e isolado. Todo mundo trancafiado numa casa, convivendo com as exêntricidades de todos os pequenos humanos cheios de defeitos e manias de artistas em franca decadência. Como no molde original holandês, dentro da casa, câmeras escondidas por trás de vários espelhos espalhados pela casa.
Silvio Santos, valendo-se de todo seu carisma popular, elevou alguns poucos artistas esquecidos no ostracismo, à condição de super astros da mídia. Na noite de domingo do último capítulo da Casa dos Artistas, parou o país inteiro com mais de duas horas de transmições via satélite. Como se não bastasse, uniu-se a outra emissora, e juntos, ao vivo, ou simultaneamente, transmitiram quase meia hora de material, e ainda no final da noite uniu, ainda que não mais em matrimônio, a prefeita de São Paulo com o Senador Suplicy. Tudo isso, logo depois de participar de seu próprio programa de realidade, transmitido em rede nacional, quando serviu de refém em sua própria casa, ao seqüestrador Fernando Dutra Pinto – A Casa do Artista Silvio Santos.
Naquela noite, em todos os bairros, por mais silêncio que houvesse, sempre era possível escutar ao fundo a mesma ladainha em todas as casas. Alguns esqueciam-se do som da têvê desligado, procurando escutar a têvê do vizinho. Outros aumentavam seus volumes na procura de uma melhor compreensão do nada, absolutamente nada. Por mais que o programa possuísse menos conteúdo, a simples presença do apresentador, somada às aparições dos pequenos astros, faziam com que em todas as casas, nenhuma única pessoa estivesse livre da transmição hipnótica. Como num transe, em todas as casas do país inteiro, naquela noite, ninguém dormiu, pois estavam sonâmbulos esperarando em frente à têvê, o desfecho do programa. Quem ficaria com os trezentos mil reais?
Naquela noite o país inteiro parou, e ficou esperando pra ver os pequenos astros saírem de sua toca – A Casa dos Artistas.