Até o começo do ano de 1974 trabalhei como secretário em grandes empresas na capital dos paulistas. Um dia um superintendente ignorante de uma empresa pediu desculpas aos seus executivos pelas pernas feias de sua secretária. A tal secretária era eu, homem mesmo da cabeça aos pés. Não tive dúvidas. Atirei a pasta recheada de documentos da pauta do dia sobre a imensa mesa de reuniões, voando papéis para todos os lados e saindo até pelas janelas do 12º andar. Com raiva mandei todos para algum lugar numa ZBM qualquer da “Boca do Lixo”.
Satisfeito, apanhei meu paletó e ganhei a rua. No Largo do Arouche, num bar chamado “Pingão” passei o resto do dia tomando pinga e cerveja e imaginando o que seria de minha vida a partir de então. Em casa levei um sermão da minha mulher. Ela não compreendia o meu orgulho ferido e já cansado de pular de galho em galho, em razão da prática da rotatividade muito comum nas empresas com a sempre finalidade de manter o mesmo salário ao contratar mais um inocente trabalhador. Vivíamos a terrível época da ditadura. As mulheres com suas elegâncias invadiam as empresas e acabavam com a profissão masculina de secretário. Aceitavam qualquer salário e nem taquigrafia elas sabiam. Algumas nem mesmo datilografia. Mas, lá estavam a dar status social cruzando suas belíssimas pernas para as alegrias dos patrões. E elas iam trabalhar com a mais mini das mini-saias, que hoje não se usam mais e vai saber o porquê!
No dia seguinte de passagem pelo Largo da Concórdia vi um garoto vendendo toucas de lã. Comprei uma e levei para casa. Mostrei a minha mulher e ela imediatamente fez dez toucas a meu pedido. Uma mais bonita que a outra. Levei para o Braz e vendi tudo em cinco minutos. Pela primeira vez em minha vida o dinheiro entrava no meu bolso sem nenhum favor. De auxiliar de engenheiro agrônomo, chefe de departamento, estenógrafo, correspondente e secretário virei num piscar de olho um camelô, em meio a tantos outros. Nos primeiros albores desta nova profissão sentia-me deslocado e até envergonhado. Mas, não demorou muito para que eu perdesse a vergonha no meio do caminho.
Daí por diante descobria o “ninho da cobra”. O dinheiro começou a entrar como enxurrada e pude em pouco tempo comprar um TL-72 usado, mas novinho em folha. Era o ano de 1974. Tive que me adaptar aos novos tempos. Em 1979 abri minha primeira loja. Era pequena, mas bastante movimentada. Minha mulher passou a acreditar em mim e com sua ajuda as coisas melhoravam ainda mais. Em um ano não havia mais espaços para os estoques. Comprei outro carro, uma variant 75. Fui obrigado a comprar duas linhas telefônicas para controlar a loja mesmo à distância. Trabalhava como um louco. Naquele tempo não havia orientações técnicas de como dirigir um negócio. Tudo era novo para mim e tive que apelar para o empirismo.
Em 1982 comprei uma loja próxima ao Largo do Cambuci e tudo corria muito bem. As greves provocadas pelo Lula aconteceram. O comércio no ABC sofreu terrivelmente. Muitos quebraram. Eu não quebrei porque era um camelô e se não vendia nada nas minhas lojas, vendia-se nas ruas em Sampa, onde as greves não tiveram repercussão. As causas foram gravíssimas para a economia do ABC porque dezenas de milhares de empregados foram demitidos pela Volk e por outras montadoras. Lula acabou perdendo seu grande prestígio e foi por causa disso que resolveu entrar na política.
Seja você o que for, caro leitor, tenha orgulho do que é, assim como fui um camelô e tive e tenho muito orgulho em ter sido e ainda ser até hoje um camelô. E camelô é camelô, não esses “chegadinhos” de prefeitos interioranos, que recebem espaços públicos para trabalharem sossegadamente por mais de trinta anos! Se o leitor amigo desejar saber mais sobre a vida do camelô entre no site: www.biblioteca24x7.com.br e www.amazon.com/, este último o maior site do mundo em vendas, e adquira o livro “Memórias de um camelô”, alem de outros livros de minha autoria. Poderá escolher o livro virtual, ou o físico. O virtual é bem mais barato e você poderá ler em seu computador. Garanto que você irá descobrir “um mundo diferente” com toda a violência, a angústia, a sensibilidade, a corrupção por atacado, o retrato do Brasil e dos brasileiros na grande metrópole dos paulistas. Saberá que grandes lojistas e grandes industriais começaram seus negócios nas ruas gritando suas mercadorias às multidões. Fui parceiro de muitos deles.
Jeovah de Moura Nunes
escritor e jornalista
Jeovahmnunes@hotmail.com
(publicado no jornal COMÉRCIO DO JAHU de hoje dia 04 de novembro de 2008 - página 2 - opinião).
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