Enviada: segunda-feira, 8 de dezembro de 2008 22:53:15
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Sensacional o texto abaixo de Reinaldo Azevedo sobre o mais recente discurso do Presidente de vocês todos...
LULA, O TABUÍSTA
Lula, o "tabuísta", exagerou ontem — mesmo segundo os padrões tão lassos de Lula, o "tabuísta", ao discursar durante o lançamento do Fundo Setorial do Audiovisual, no Palácio Gustavo Capanema, no Rio. O seu "sífu", para se referir às dificuldades por que passa o Brasil, é o triunfo do deboche. Escrevi ontem a respeito dessa questão em particular (reproduzo abaixo aquele post). Já disse algumas vezes que as reservas ideológicas não estão, sozinhas, no cerne da minha ojeriza aos petralhas. Insuportável nessa gente é também a sua imbatível vulgaridade. Não porque lhes falte necessariamente educação formal — alguns são até bem graduados. O que lhes falta mesmo é decoro. E por isso os presentes aplaudiram as manifestações de estupidez e grosseria do "chefe", num espetáculo verdadeiramente grotesco.
E, se o Apedeuta não tinha atingido ainda os píncaros do cinismo, seus burocratas se encarregaram de fazê-lo depois. Embora sua fala não pudesse ter sido mais audível e o "sífu" tenha sido pronunciado de maneira inequívoca, o site da Presidência, que traz a íntegra de sua glossolalia (só que estimulada por maus espíritos), preferiu censurar a palavra (integra aqui). No lugar do sinônimo vulgar do verbo "copular", a "história oficial" preferiu escrever "inaudível". Entendo: é preciso preservar a história de Lula de Lula; é preciso corrigir o Lula real para construir o Lula mítico; é preciso ignorar o "tabuísta" para criar a fantasia do estadista.
Um tanto por masoquismo, li a íntegra de sua fala, uma catilinária (pobre Cícero!) ególatra, que faz tábula rasa da história e que jamais se constrange de, a contrapelo dos fatos, chamar para si méritos que não são seus, transferindo a terceiros todas as responsabilidades pelos deméritos.
Querem um exemplo rasgado, descarado, da mais odiosa mistificação? Leiam o que ele disse: "Vocês estão lembrados da década de 90. Da metade da década de 80 até quase 2000, era um pensamento único, ou seja, era preciso vender todas as empresas do Estado, era preciso privatizar tudo, era preciso mandar muitos funcionários embora, era preciso aumentar o tempo que o trabalhador tinha que trabalhar, porque ele se aposenta com pouco tempo, e daí afora. Todo mundo viveu esse debate: o Estado não vale nada, o Estado só gasta."
Mentiras espantosas. Infelizmente, nunca ninguém pregou a venda de "todas as estatais". A Petrobras e seus maus resultados estão aí, por exemplo. As privatizações não desempregaram ninguém. Ao contrário: geraram milhares de empregos diretos e milhões de empregos indiretos. Lula, em seu primeiro ano de governo, enviou uma proposta de reforma da Previdência que "aumentou o tempo que o trabalhador tem que trabalhar" para se aposentar.
E há isto:
"Eu acho que em época de crise é que a gente tem que fazer os gastos necessários. O que nós precisamos, Sérgio [Cabral], enquanto governador e presidente, é tomar a seguinte decisão: nós não vamos investir nenhum centavo em custeio enquanto tiver dificuldade, mas vamos investir todos os centavos possíveis em coisas produtivas, em coisas que possam gerar empregos, em coisas que possam gerar distribuição de renda, salário e poder de compra para o povo brasileiro. Por isso é que eu sou um cidadão otimista. Você me conhece há muito tempo, Serginho. Você sabe que eu adoro uma crise. Eu adoro ser provocado, porque eu acho que é nesse momento que você prova se pode crescer ou não pode crescer, se este país pode dar um salto de qualidade ou não pode dar um salto de qualidade".
"Investir em custeio", leitor, é mais ou menos como você "investir" no pagamento do seu condomínio... Mas adiante. Lula onerou brutalmente a folha de pagamentos dos servidores. E os fez por meio de MPs, depois que a crise já estava dada. O mercado puniu severamente a Petrobras em razão do aumento das despesas de... custeio!
Sim, ontem, mais uma vez, Lula, por assim dizer, "privatizou" os anos recentes de crescimento econômico: obra, ele pretende, de seu governo. Outros, antes dele, fizeram tudo errado. Já a crise que aí está, que colhe, agora em cheio, a economia brasileira, bem..., esta foi gerada pela especulação, pelo mercado etc. Ora, se era ele a operar o milagre, que continue, então a fazê-lo. O que o impede? Ou o homem é milagreiro só com o mercado a favor?
Mas não. Lula decidiu dividir a crise com a companheirada: "Você tem o trabalhador da fábrica. Ele está ouvindo falar em crise. Ele tem até uma reservazinha, vai receber décimo terceiro, pegou férias, até poderia pensar em comprar um carro. Mas o mercado de carro usado despencou, porque ninguém quer financiar. Ele fala: `Bem, eu não vou comprar o carro porque eu posso perder meu emprego, e se eu perder meu emprego eu estou ferrado`. Ou seja, é preciso alguém dizer para ele que ele vai perder o emprego exatamente por não comprar. Na hora em que ele não compra, a indústria não produz, o comércio não vende e em algum lugar vai estourar. E vai estourar exatamente na produção industrial."
Simples, não é? Um ou outro idiota da objetividade poderiam indagar: "Ué, mas esse raciocínio não faz sentido?" Faz, claro. Desde que não sirva à mistificação. E desde que se considere que, num período de crise, que está dado (está longe de ser uma questão de psicologia social), não fazer dívidas é uma questão de prudência. Especialmente quando o governo foi obrigado a admitir que haverá sensível aumento do desemprego. O conjunto dos brasileiros não tem a ventura de contar com uma pensão vitalícia, a exemplo de Lula. Ademais, seria o caso de indagar à ministra Dilma Rousseff (ver post nessa página) se ela concorda com Lula: basta comprar, que o emprego está garantido. Parece que não.
Como ele deixa claro no discurso, haviam-lhe preparado outra fala. Mas ele acredita nas virtudes da improvisação. E produziu aquela fantástica peça da retórica política e econômica, em que nem o clichê resiste. Para se referir a supostas verdades ocultas, destruiu uma metáfora clássica e conseguiu fundir três outras num emaranhado sem sentido: "As coisas que até então estavam embaixo do armário vêm à tona". É a sujeira embaixo do tapete misturada às verdades dentro de um armário... submerso — ou não teria como algo vir à tona. A lambança metafórica é emblema de sua confusão mental. Índios que ocupam o Congresso de laptop e celular são, claro, de araque. Nosso índio de verdade é Lula: tudo o que ele sabe vem da cultura oral: contam pra ele. E ele aprende mais ou menos. Ou como explicar a seguinte batatada, que, mesmo dita para artistas, chega a ser ofensiva de tão estúpida: "Vejam que absurdo. Tem agências que medem o risco dos países. Os Estados Unidos quebram e o risco deles continua zero e o nosso que cresce. Essas coisas absurdas de um mundo globalizado". É mesmo! Que absurdo, não!?
Artistas
A sala estava cheia de artistas. Vocês sabem: todo artista, ou certo tipo, tem de ir aonde a verba oficial está. E Lula tratou os presentes, acho, como eles merecerem ser tratados, uma vez que estavam lá e ouviram a fala calados. Querem ver?
O trecho está truncado, mas é exatamente o que parece ser: "Se não for demais, todos vocês aqui conhecem, estou vendo artistas importantes aqui. Vocês que, de vez em quando (inaudível), quando vocês quiserem (inaudível), vocês batam uma palminha que eu desço para pegar aqui o meu cofre." É isso: basta que os artistas batam uma palminha para Lula — e boa parte bate sem problema; até toca flauta, se preciso —, e ele vai ao cofre. "Ah, Reinaldo, não tem jornalista que faz o mesmo?" Sim, aos montes.
Não obstante, vocês verão abaixo, a popularidade de Lula bate recorde: 70%, segundo o Datafolha. E nem poderia ser diferente: nada menos de 78% dos brasileiros acham que a vida será melhor no ano que vem. O discurso insano de ontem parece traduzir a preocupação com essa expectativa.
O homem do "SÍFU"
Lula só pode ter voltado a abusar da água mineral. Não há outra explicação. No discurso em que, na prática, ficou tentando encontrar culpados para as dificuldades que a economia brasileira já enfrenta, ele começou dizendo que é um Dom Quixote. Tá. Inteligente ele é, já afirmei aqui umas 500 vezes. Mas é de uma ignorância oceânica. A único traço de caráter apreciável da personagem de Cervantes era a inocência. No mais, bem..., era um desastre. E Lula não tem a metade da inocência daquele. Ademais, o que, naquele, era loucura, neste, é puro método. Se ele é mesmo um Dom Quixote, o desfecho será o pior possível. Adiante.
Encantado com o som da própria voz — um dos males que amiúde o acometem —, disse que o mercado financeiro é como um filho adolescente rebelde, que não quer saber do pai e da mãe... E foi adiante, vermelho, falando alto: "Quando o mercado tem uma dor de barriga, e, nesse caso, foi uma diarréia braba, quem é chamado? O Estado, que eles negaram por 20 anos". Entenderam? O Estado é o pai e a mãe da sociedade. Santo Deus!
Era pouco? Era pouco! Explicando por que prega tanto otimismo, Lula aí se comparou a um médico que estivesse atendendo a um doente. E indagou: "O que você fala? Dos avanços da medicina ou olha pra ele e diz `SÍFU`?" Sim, Lula empregou a palavra "SÍFU" num discurso oficial.
Bem: "SÍFU", vocês devem saber, é uma forma sincopada da versão vulgar do verbo "copular", mas numa estranha e improvável forma reflexiva. O "si" vem do "SE", e o "FU", da primeira sílaba do sinônimo de "copular", mas trocando o "O" pelo "U", entendem? E, na forma reflexiva, aquele sinônimo perde toda a carga positiva. Quem "sífu" está estrepado.
Isso é Lula, é normal. O seu gosto pelo tabuísmo é notório e conhecido. Mas o mais interessante é outra coisa. Recuperando-se o contexto da sua fala, fica claro que, para o "médico" Lula, o paciente Brasil "sífu".
O país, muito melhor do que seus políticos, vai resistir. Ainda bem! Mas, sob muitos pontos de vista, o que se vê aí é o fundo do poço. Vamos torcer para que a economia mundial se recupere logo.
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