Circo, sinônimo de alegria, é umas das mais antigas e completas manifestações populares e artísticas do mundo. Na Grécia Antiga, cinco séculos antes de Cristo, já haviam espetáculos com animais amestrados e competições de homens com homens, animais com animais e homens com animais. Hoje, constantemente vimos os circos chegarem à cidade, passarem algumas semanas e depois começarem novamente a montar e desmontar, não é à-toa que é formada por uma tenda de lona (estrutura inspirada na arquitetura dos povos nômades).
Num dia desses reservei uma tarde e fui ao circo, com a namorada, algumas amigas e três "sobrinhas adotivas", para diverti-me e também para recordar o meu tempo de criança. Sim, porque quando se é criança o circo é uma atração empolgante, surpreendente, enfim, é "o maior espetáculo da Terra". A cada novo personagem, a criança fica com um olhar de surpresa, de mistério, pelo menos, até que se assista novamente a mesma cena e constate que sempre são as mesmas brincadeiras, mágicas e animais.
Contudo, por trás da beleza de qualquer espetáculo existe muita encenação, o preço da alegria é marcado pela dor. A imagem feliz dos animais perderia todo o seu charme se os detalhes horríveis de seu tratamento, limitação e vida sofrida viesse à tona. Tigres e leões ficam em jaulas tão pequenas que mal podem virar-se. Os famosos ursos dançarinos, por exemplo, são obrigados a pisar em chapas de metal ardente ao som de uma determinada música. No picadeiro, os ursos ouvem a música usada durante a tortura e começam a se movimentar, dando a impressão de estar dançando, mas na verdade apenas se lembram das chapas quentes e automaticamente começam a erguer as patas. Enfim, anulam seus próprios instintos.
A vida é igual ao circo, em detrimento ao medo diante da rejeição, desamparo, esquecimento e abandono, muitos homens criam muros de defesas para a personalidade, para aquilo que são e sentem. Anulam seu próprio ser. Deixam assim de viver e passam a contracenar. Colocam a máscara da hipocrisia. Mais do que a prática o que prevalece é apenas o discurso. E, fantasiados de ovelhas encobrem os pêlos de lobo.
Ao sair do circo, já era quase noite, a luz do sol esvaia-se, mesmo assim pude enxergar a vida de um outro ângulo e perceber que o homem sabe muita coisa. Sabe construir bombas atômicas, foguetes, inventar computadores avançados, descobrir novos remédios, mas agora, refletindo tenho a certeza de que poucos são os que sabem e têm a coragem de se desmascararem e mostrarem quem são. Desenterrarem os sentimentos mais íntimos. Mesmo que não sejam bons. Mesmo que sejam defeitos, debilidades, medos, ansiedades, machucaduras, sim, e depois com humildade pedirem ajuda, socorro. Até porque os hematomas da almas são difíceis de desaparecerem. Ao menos sem auxílio. É por isso, que nós precisamos do próximo, gostamos de fazer amizades e incansavelmente procuramos o nosso grande amor, para tornarmos pessoas melhores do que somos.
Aos 21 anos, o maior espetáculo da Terra, não é o circo, e sim, a própria vida. Pois, enquanto no circo as representações são temporárias e percebíveis, na vida as máscaras são difíceis de serem notadas e eternas, ao menos que sejem desmascaradas a tempo.