O viracasaca é, segundo os filólogos, o indivíduo que muda frequentemente de partido ou idéias, conforme a conveniência própria. É também chamado de “ventoinha” porque gira conforme o vento. O viracasaca é um traidor em potencial. Ele anda nas sombras e espreita o inimigo a todo o momento. Qualquer um de nós pode mudar seus ideais políticos. Somos livres para isto. Mas, o viracasaca tem algo de traidor em sua atitude, porque ao trocar de partido, ou de facção política, ele o faz sempre escolhendo o lado vencedor de preferência no último instante posterior às eleições. A falta de personalidade do viracasaca é tanto quanto à falta de escrúpulo do político, que aceitou adotá-lo, acolhendo-o em suas hostes no primeiro, ou no segundo escalão como comparsa de seu desgoverno. Se aquele é traidor de sua consciência, este é traidor do povo, cuja vontade era de mudanças quando votou.
O viracasaca não impõe suas idéias porque não as tem. Para conseguir seu prestígio junto aos políticos desavisados estuda muito não a política, mas sim a politicalha. Após isso se une aos políticos em melhor situação e transfere residência para o paço municipal, ou os palácios governamentais. Isto é: tem presença marcante. Sai político, entra político e o viracasaca lá está, impassível, cara-de-pau, tirando proveito e mamando na teta com toda sua incompetência. Pior ainda, não permitindo o acesso dos competentes. Sim, porque os viracasacas literalmente são incompetentes para exercerem cargos públicos, que possam favorecer a comunidade. A História registra com eloquencia as peripécias dos viracasacas desde Roma antiga, passando pelos tempos medievais até hoje. Foi na idade média que mais se destacaram. Naqueles tempos os feudos eram caracterizados pelas cores das roupas. Então, os viracasacas contumazes mandavam confeccionar os casacos com duas cores. A cor do “amo” por fora e a cor do desafeto no avesso. Com este artifício entravam e saíam dos castelos à vontade, bastando virar o casaco ao avesso, ou vice-versa.
Outra performance do viracasaca é a sua capacidade de bajular seu “amo” e senhor. São técnicos na sabujice, enganando muito bem aqueles que se consideram “raposas” na arte de fazer política. Não podemos aqui citar nomes, mas a lista é grande e o povão de Jaú conhece muito bem os viracasacas de nossa abandonada cidade. Muitas coisas que poderiam ser realizadas pelo novo burgomestre vão acabar sendo rejeitadas porque lá estão nos bastidores os viracasacas, aconselhando, ou sugestionando o contrário das intenções do mandatário maior. O próprio desgaste do alcaide municipal muitas vezes reveste-se das decisões políticas e administrativas contrárias, erradas e armadas pelos viracasacas. Decisões que nem sempre o burgomestre está, ou estava com disposição de tomá-las. Todos os viracasacas da história revelaram ao final seus potenciais traidores. Se trair a consciência é ruim, duplamente se torna trair a consciência dos amigos e dos companheiros de ideais políticos. Calabar, por exemplo era além de viracasaca um contrabandista. Sua desmesurada ambição acabou por desejar uma rápida carreira entre os holandeses, bem como a convicção da vitória certa e fácil do invasor. Seu gesto ignóbil e covarde levou à destruição milhares de brasileiros e o afundamento de 547 dos nossos navios e a perda irrecuperável de mais de 100 milhões de florins, que ainda é uma quantia enorme para os nossos dias.
Outro viracasaca, conhecido traidor, foi o Joaquim Silvério dos Reis que, em troca do perdão de sua enorme dívida em impostos à Fazenda Real, delatou a conspiração comandada por Tiradentes. Era, entretanto comum e sabido das suas frequentes entradas e saídas do palácio Visconde de Barbacena. Usavam os conspiradores desse expediente para obterem informações do inimigo. Foi um erro. Ao viracasaca não se pode confiar porque ele tem na alma o instinto da traição. Neste caso, já traiu a sua própria consciência e deixou de ser homem de verdade, não passando de um elemento perigoso com cara de político. Infelizmente, em nossa política brasileira, os viracasacas pululam em quase todos os gabinetes. Alguns são famosos e notáveis, tal é a sabujice de que são acometidos. Os chefes políticos que apreciam a bajulação deles próprios têm prato cheio aqui em Jaú. O risível é que acabam tais chefes, sendo vitimados por fragorosas derrotas nas urnas, engendradas pelos viracasacas de plantão, os quais não perderam os vícios das lucubrações nem sempre favoráveis à chefia política e administrativa de seu próprio “amo”, quando já preparam as futuras traições.
O leitor também é eleitor e precisa ficar sabendo que os viracasacas dão enormes prejuízos aos cofres públicos, ou o dinheiro do povo, contribuinte de impostos escorchantes, dando-nos existências atribuladas e muito sofridas. Este é o perfil deste verme chamado viracasaca, uma praga habitante dos corredores e gabinetes do poder público, sem a honra do concurso público.
Jeovah de Moura Nunes
escritor e jornalista
Jeovahmnunes@hotmail.com
ATENÇÃO POR FAVOR!
ACESSE UM DOS ENDEREÇOS ABAIXO E ADQUIRA UMA DAS OBRAS PUBLICADOS POR ESTE AUTOR: JEOVAH DE MOURA NUNES, (poeta, escritor e jornalista) seis livros publicados, num total escrito e escrevendo de 25 (vinte e cinco)
MEMÓRIAS DE UM CAMELÔ (histórias reais das ruas de São Paulo)