• Em VEJA de 19/5/2004 Reportagem de capa sobre o caso de Larry Rohter
A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), órgão que congrega 1.300 veículos no continente, fez um alerta em seu último relatório, divulgado nesta semana em Assunção, para ameaças à liberdade de expressão em praticamente toda a América Latina. No Brasil e em outros países, o risco reside na retórica agressiva de governantes, entre eles o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, citado no documento como autor de "críticas desmedidas" à imprensa toda vez que o enfoque do noticiário ou de um comentário não lhe agrada.
Lula é comparado ao presidente venezuelano Hugo Chávez, que usa uma "retórica agressiva" contra a imprensa e os jornalistas. De acordo com o documento, há riscos a exercício da liberdade de expressão por causa da violência em países como Venezuela, Paraguai, México e Cuba. De acordo com a entidade, que reuniu 250 empresários e editores, somente desde outubro, seis jornalistas foram mortos nas Américas em consequência de sua profissão. Foram quatro no México. Também ocorreram no país ataques contra profissionais e seus locais de trabalho.
Mais um jornalista, David Zambrano, foi morto na Venezuela e outro, Martin Ocampo, no Paraguai. Em Cuba, apesar da saída de Fidel Castro e sua substituição por Raúl Castro, ainda há 26 jornalistas presos, cumprindo sentenças de até 28 anos de detenção. Entre os casos concretos citados no relatório da SIP sobre o presidente brasileiro, destaca-se a afirmação de que a leitura dos jornais lhe dá "azia" e a quase expulsão, em 2004, do jornalista Larry Rother, correspondente do jornal The New York Times no país naquele tempo.
O Palácio do Planalto não respondeu às críticas da SIP. Segundo a assessoria de imprensa, o governo não recebeu todo o relatório, mas somente um extrato dele, o que dificultaria a resposta. A Associação Nacional de Jornais (ANJ) informou que o documento reflete o pensamento da entidade, já que o próprio presidente do seu Comitê de Liberdade de Expressão, Júlio César Mesquita, participou de sua elaboração. Já o presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Maurício Azêdo, classificou de "exagerado" o relatório. "O presidente faz reparos à imprensa, mas não a persegue."