O bem estar de todos os brasileiros vai depender de uma distribuição justa da renda. É claro que, numa economia capitalista a renda é por natureza heterogênea e de difícil estabilização. Mas, quando se trata de salário, a renda pode ser nivelada a um ponto pelo menos próximo do justo. Na maioria dos países capitalistas de grande progresso e com leis justas, onde o criminoso comum, o criminoso endinheirado, o político criminoso, todos são condenados duramente pelas leis, considerando assim que o exemplo vem de cima, os salários são sempre compatíveis com o esforço e o progresso de cada um, fazendo com que não compense para ninguém cair na criminalidade. Ocorrendo um fato criminoso o sujeito responsável pagará muito caro pela ação fora dos padrões da lei. Mas, ainda que o país seja o melhor do mundo, socialmente falando, ainda haverá a criminalidade porque o homem não é uma criatura perfeita. Agora, imagine-se o país onde a renda mínima é a pior de todas, enquanto os rendimentos dos privilegiados de tudo desde a época do descobrimento é sempre infinitamente maior do que o trabalhador comum.
Em nosso país a distribuição mais igualitária da renda, nivelando-a a um ajuste máximo possível é providência tão urgente que, até alguns economistas, geralmente frios em suas deduções, concordam nesta necessidade urgentíssima da redução dessa enorme desigualdade, sob pena de chegarmos ao caos. Se é que não chegamos ainda. O acirramento da violência já deve apontar para os sombrios horizontes desse caos. Contudo, essa providência não irá acontecer tão cedo. A explicação pode estar na cultura escravagista, a qual consumiu quase quatrocentos anos de nossa história. Tudo era produzido em cima da agonia de um povo. Assim, os hábitos das classes elevadas ainda são os mesmos de 150, ou de 300 anos atrás e não pretendem mudar.
A célula de um país é a família. Rui Barbosa chamou a pátria de “família amplificada”. A família, esta humilde e fiel parceira de uma nação é a mesma em todos os lugares do mundo. Ela produz, consome e pratica o melhor de todos os investimentos: a educação das crianças. Quem altera essa programação natural das coisas são os governos omissos, hipócritas e que fazem da economia de seu país, de seu Estado e município um penduricalho de seus interesses, transformando a família humilde e de objetivos francos e honestos, numa decadente, perversa e infernal célula de um corpo que ameaça adoecer e explodir pela raiva. Essa decadência é traduzida pela péssima renda, pelo desemprego, pela fome, pelas crianças sem escola, pela intimidade com as drogas e com os traficantes e pela aglomeração no desespero das favelas. Neste cenário, emerge, como um monstro franksteniano, o jovem rebelde, bandido e com o coração trespassado pelo ódio, consumindo a si próprio. Ódio ao seu criador: a sociedade empinada em seus carrões, em suas jóias, em suas mansões. Sabe que tudo está perdido para ele e sua família. Então passa a agir criminosamente. As vítimas? Não têm rosto. É todo o sistema e o cidadão anônimo e comum. De preferência endinheirado. Do próprio crime para a obstinação não será mais que um degrau.
A violência deve ser condenada sim. Porém, mais condenada deve ser a renda injusta da maioria da população, posto que a renda injusta também é uma forma de violência muito mais criminosa, já que é a consequência da germinação da violência por enquanto isolada na sociedade. Claro, pode se tornar coletiva como no caso da Rússia em 1917 e em outros países. E a renda no Brasil, até que me provem o contrário, é acintosa e premeditadamente injusta. Só não é injusta quando a economia vai mal. Todavia, não é o que se divulga pela mídia. Tudo, segundo os informes diários vai muito bem no país. Por que então essa renda fajuta e discriminada para a maioria da população humilde? Eles não têm acesso ao conhecimento? E por que uma minoria tem esse acesso? Muitos têm uma ótima renda e não sabem sequer assinar o nome corretamente. Mas, têm um sobrenome pomposo, procedente de pomposa família. E quando um país é sério o salário mínimo é suficiente para satisfazer a célula familiar e não atrofiar está célula com o “bolsa-esmola”, como ocorre no Brasil.
Os pobres definham fisicamente. São sugados pelas máquinas nas indústrias, no comércio, no campo através de um salário miserável, na alegação cínica dos milionários de que a mão de obra deve e tem que ser barata, quando em países desenvolvidos paga-se muito bem o trabalho duro. A verdade é que as classes dominantes provocam uma miserável escravidão, com um processo de desestabilização da economia dos mais pobres e ainda querem viver numa ilha da fantasia, com a melhor comida, a melhor bebida e repleta de paz. Eles até conseguem, se não fosse pela voz meio rouca, com tosse, de um garoto acompanhado de outros garotos e que sempre tiveram vergonha de pedir, mas hoje só conseguem dar a ordem:
-Isto é um assalto, cambada! Só sabem festejar com o dinheiro da miséria alheia! Mãos na nuca e não se mexam, senão morrem! E passem a grana, as jóias e o carrão!
Jeovah de Moura Nunes
escritor e jornalista
jeovahmnunes@hotmail.com
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