Resolvi manter este poema sem título, porque representa o trecho de uma passagem (caminhando) de meu livro Nômade Urbano.
As folhas descem das árvores, sem culpa.
É o tapete pardo que se estende
[na palidez do inverno.
Minha ansiedade aumenta.
Enclausuro-me na tormenta, cá dentro,
onde o pasmo das noites longas vira um inferno.
Espero a primavera que se debruça sobre o verão,
[sem perdão.
O âmago de meu ser carece de sua essência,
sua fragrância, seu aroma, ó ! excelência.
O deleite de dias longos, sem partidas,
[nem chegadas.
Mata-me, entanto, de prazer, suas curtas
[noites estreladas.
E aqui na relva, assim jogado, de emoção estremeço,
[se com olhos cerrados não adormeço.
Vigio a chegada do vento,
que há de soprar as folhas secas,
[deixando-me espiar mil cores.
Estende-se, então, novo tapete multicolorido,
[por onde devo caminhar.
Mata-me, um pouco mais, o silêncio que há,
[por onde sei que vou passar.
Adega/2002
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