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Artigos-->ALGUÉM AINDA SE LEMBRA DA CAMPANHA DAS “DIRETAS JÁ”? -- 05/05/2009 - 19:35 (Abel Aquino ) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Abel Aquino



Nosso povo e nossos políticos não aprendem com as lições do passado. Primeiro, porque não olham para trás. Segundo, porque têm pressa em construir o futuro e acham que já sabem tudo o de que precisam. Não temos heróis, não temos boas histórias para contar às próximas gerações e com isso vamos repetindo os erros do passado e empurrando,

eternamente, o futuro para o futuro.

Veja o diálogo que anotei naquela época. Corria o longínquo ano de 1984:



O Mauricio me ligou e eu fiquei muito contente. Nem esperei dizer o motivo de sua ligação e já fui convidando-o para ir ao Anhangabaú participar do último comício da campanha das diretas.

Cara! Foi bom você ligar. Ia convidar você para ir com a gente ao megacomício das diretas, falei entusiamado.

Não estou a fim de ir, respondeu.

Que é isso!? A gente não pode perdeu um momento desse; isso é histórico, cara! - Vamos expulsar os milicos de Brasília.

Eu não tenho essa certeza, argumentou Maurício.

Como cara! Você é tão estudado, é de viver sempre sabendo de tudo o que se passa na política. – Achei que você é que estaria mais eufórico com essa campanha.

Por isso mesmo, explicou. – É por estar bem informado que não acredito nessa tal campanha.

Não entendo você.... gaguejei, frustrado.

Bem, eu explico minha visão disso, respondeu. – Primeiro, a oposição está vendendo as eleições diretas como panacéia para todos os males do país. -Parece até que, ao acordar na manhã seguinte após eleger diretamente seu presidente, o povo vai encontrar um novo paraíso pra se viver. – Você acredita nisso?

Bem! Penso que é uma coisa mais simbólica do que real, na verdade, justifiquei.

Ai é que está a questão. – Para tudo, em nossa história, o que é simbólico quer dizer “faz de conta”.

Você está sendo cruel, cara!

Estou tentando ser realista. – com eleições diretas ou não, nós temos que trabalhar, estudar, lutar por nossas vidas e não será nenhum político que vai mudar essa realidade, meu caro, concluiu.

Mas os militares governam contra o povo, são uma ditadura, arrematei.

Concordo. Mas, quem garante que basta o povo poder votar pra presidente que os melhores serão eleitos para nos governar? Acredido até que o povo tende a votar nos piores, porque, num regime democrático de eleições diretas, manipular o povo passa a ser um questão de escrúpulo: quem for mais cara de pau vai ter mais chance de empolgar o povão e se eleger para o cargo que quizer.

Não é bem assim, não, reclamei.

Não vou dizer que o povo não sabe votar, mas também não vou dizer que uma eleição é a oportunidade do povo eleger os melhores para cargos públicos; seria muito ingenuidade da minha parte acreditar nisso.

Nisso o que? Perguntei confuso.

Ora, acreditar que o povo vai ter informação correta sobre a vida e intenção do candidato. Com a eleição direta vão aparecer os publicitários para criar uma embalagem dourada para o candidato e vendê-lo ao povo como um produto qualquer. Todo candidato vai parecer mais puro que anjo de Cristo.

Então você é contra a democracia?

Não, mas estou mais preocupado com a liberdade do que com os formalismo de sistemas políticos, sejam eles de direita ou de esquerda, militar ou civil.

Do que você está falando?

Veja os gloriosos lideres dessa campanha: Tancredo Neves, Franco Montoro, Mário Covas, Leonel Brizola, José Richa, Ulisses Guimarães; todos eles buscam o poder, querem afastar os militares e estabelecer a democracia “deles”, não do povo. Já estão até fazendo marketing, usando o famoso locutor de futebol, Osmar Santos para abrilhantar os comícios. O povo vai lá para aplaudir e fazer o bom papel de claque. No outro dia vão dizer aos milicos: viu só! O povo está do nosso lado, caiam fora! Nós queremos o seu lugar.

Mas, o que podemos fazer então? Perguntei, todo confuso.

Amigo, quem muda alguma coisa num país não são os políticos, são o povo. O objetivo de qualquer político, num regime de eleições diretas, por exemplo, é se eleger e pra se elegere vai se apresentar ao povo da maneira que o povo gosta, ou seja sem mostrar o que ele é, qual é seu caráter, sua capacidade. E quanto mais atrasado for o povo mais deseja soluções simplistas, planos imediatistas, promessas mirabolantes e não qual é a verdadeira necessidade do país. Assim tudo depende da qualidade do povo. O povo sabe o que é melhor para o país? O político corre atrás. O povo não sabe o que é melhor para o país e quer soluções mágicas? o político vai fingir que dá o que o seu eleitor quer.

Então, pelo seu ponto de vista, não adianta lutar pela democracia, pelo fim da era militar?

Claro que vale, mas sem empolgação. Será um avança pequenininho, mas necessário.

Quer dizer que você não está ligando para essa campanha?

Digamos que acredito que os militares irão embora de qualquer maneira. Mostraram-se tão incompetentes que já não vêem a hora de passar essa abacaxi para os civis. Mas, voltando ao tema das Diretas Já, digo que a oposição não tem a mínima idéia de como consertar nosso pais, quer apenas o poder, acredita, talvez ingenuamente, que com o poder nas mãos tudo será possível, inclusive construir o paraíso. E nisso eu não acredito: é mais fácil construir o inferno na terra do que saber governar uma nação respeitando a liberdade de cada um. Sinceramente tenho medo de políticos muito idealistas, daqueles que prometem encurtar o caminho para o céu. São políticos totalitários como a história nos conta claramente.

Caramba! Você estragou minha alegria!

Sinto muito! Não era essa minha intenção, concluiu.

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