"O político planta couve para o alimento de amanhã. O estadista planta o carvalho para o abrigo do futuro." Palavras de Ruy Barbosa, um plantador de carvalhos.
Por Douglas Moura Nunes - 03/05/2009
Fui criado com princípios morais comuns. Meu pai dava-me conselhos que eu recebia com sorrisos. Sorrisos de gratidão. Quando menino, sentia a sua proteção como um deus, um deus isolado e triste. Mas eu permanecia sem preocupação alguma. No domingo, nas matinês delirava de alegria pela música no início dos filmes. Meu pai permanecia triste em casa lendo o Jornal "O Estado de São Paulo" e as notícias graves de corrupção e isso em 1963. Mas mesmo assim eu gostaria de voltar a esses tempos de fantasia que vivia; Mesmo com a existência de tanta podridão nos canais do governo, eu gostaria de voltar àquele tempo.
Queria dizer basta a esta inversão de valores e ideais. E fazer calar a boca de políticos ladrões, e assistir o crescimento do justo, do verdadeiro. Do Ser e não do Ter.
Em suma, receber de volta todo o retorno da verdadeira vida, simples, muito simples como a gota de chuva clareando a atmosfera.
E o odor suave das plantas molhadas, da terra fendida e fresca sob nossos pés.
E comum, assim como eu.
É por isso que me enfileiro por essas paragens, nessa messe de jornalistas e escritores que se entregam de corpo e alma ao combate à essa súcia de golpistas de nossos dias e busco os artigos mais inflados e os encontro aqui, ao meu alcance os jornalistas que não buscam receita de bolos ou pudins. Mas obedecem a um princípio comum, igual àquele que me pai ensinava. O da responsabilidade, da verdade, do respeito e da dignidade.
Por isso tenho lido com atenção os artigos atestados e recheadas de autenticidade. Trazem uma linguagem simples e clara e ao mesmo tempo voltada para a verdade dos fatos. Os artigos de Jeovah de Moura Nunes me fazem lembrar Boris Casoy, o jornalista que foi demitido da Rede Record de televisão a mando dos ministros de Lula. Lembro-me de suas clássicas palavras: "Isto é uma vergonha!". Boris mesclava arrojo e coragem e aquele acendimento de aversão pelo governo Lula. A sua aversão tinha e tem um motivo, a intolerância dos petistas e os desmandos dos ministros de Lula. A sua defesa incidia em falar a verdade, com denodo e autêntico jornalista. Na televisão ele era a extensão das nossas mãos e das nossas bocas porque protestava da mesma forma como gostaríamos de protestar. Assim como Boris, este jornalista é igualmente a extensão da nossa insatisfação, do nosso repúdio e mostra o nosso desagrado por este governo de desonestos. Usa a caneta com sabedoria e sua mente brilhante lhe confere ser um dos maiores jornalistas em atividade no Brasil! Jornalista adequado aos políticos de hoje, pois se os políticos corrúptos merecem a espada, o jornalista tem: a caneta! Jeovah não é um jornalista que se ocupa com banalidades. Escreve a verdade dos fatos. A sua visão jornalística é marcante, pois é correta e criteriosa. Quem redargüirá as suas palavras? Por exemplo, sobre o SUS: qualquer um que quiser afirmação, fique doente e vá conferir. Ou vá por curiosidade. Lá poderá observar o que ocorre com o pobre quando fica doente e precisa de um médico. Na verdade, no Brasil é "proibido" ficar doente. "Isto não é uma vergonha"? Esses fatos não são marcantes. São "sufocantes", e ele define exatamente o que seja o SUS.
Sempre me lembro das palavras cheias de sabedoria e, infelizmente, sempre atuais, de Rui Barbosa, naquele célebre discurso no senado federal:
"De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto".
E o pior de tudo isso é a atualidade dessas palavras, que, se hoje fossem proferidas, fariam o mesmo sentido, teriam a mesma validade, seriam perfeitas para retratar o momento atual por que passa o nosso Congresso Nacional e o país.
Em meio a tantos outros luminares que a posteridade reduziu a sinônimos de ruas e de praças, o jurista Ruy Barbosa é, provavelmente, o republicano brasileiro mais expressivo. "O político planta couve para o alimento de amanhã. O estadista planta o carvalho para o abrigo do futuro." Palavras de Ruy, um plantador de carvalhos.
E como as frivolidades, as desonras, as injustiças continuam a crescerem e se agigantarem nas mãos dos maus, precisamos de muitos Jeovahs e Boris que como Ruy Barbosa fazia, eles hoje fazem, ou seja, combatem os podres do Congresso Nacional e do Palácio do Planalto. Porque ser jornalista para pesquisar receitas de bolo e merenda... é melhor deixar de sê-los. Não é ser jornalista, é ser cúmplice de um governo que pensa somente em seu próprio bem estar e não nos 50 milhões de pobres brasileiros.
No caso de Boris Casoy, a verdade doía demais no Palácio do Planalto e foi por isso que assistimos os episódios de sua demissão da TV Record. A Empresa se viu enfraquecida pelas pressões do governo Lula e o demitiu sumariamente. (Veja a reportagem da revista "Istoé Gente" de abril de 2006): "No dia 30 de dezembro de 2005, a Rede Record anunciou a rescisão de contrato com o apresentador do Jornal da Record, em comum acordo entre ambos. No entanto, Casoy, já ex-Record, afirmou em várias entrevistas no decorrer de 2006 que fora demitido por motivos políticos e deixara a emissora por não concordar com as inovações do departamento de jornalismo da emissora. Em entrevista, Casoy afirmou que o partido dos trabalhadores pressionou a direção da Rede Record para tirá-lo da emissora. A emissora ficou sem os anúncios publicitários das empresas federais, incluindo as propagandas da Petrobrás".
Quando um governo influencia uma emissora de TV a demitir apresentadores de telejornais porque não cumpriram uma ordem qualquer de algum ministro ou assessor de governo para não divulgar essa ou aquela notícia, então a coisa começa a atingir um grau bastante elevado de autocracia disfarçada, igualando o governo Lula lá aos desmandos dos Art. inconstitucionais dos vinte anos de ditadura militar. Não há uma sociedade (até mesmo a nossa) que não vigie o seu governo.
(este artigo publicado no Piauí é do meu mano Douglas Moura Nunes, um cara de suprema inteligência, mas que a degradação brasileira deixou-o em última instância nessa fila, em que só aparece quem tem mais dinheiro)