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Artigos-->Patrimônio abandonado vira destaque nacional -- 19/05/2009 - 21:39 (LUIZ ROBERTO TURATTI) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos








Abandono do patrimônio histórico em Araras é destaque nacional





Estação de São Bento em cena registrada no início do século passado: hoje o local está abandonado




Um exemplo do abandono de parte do patrimônio histórico e arquitetônico de Araras foi mostrado em nível nacional e com grande destaque no último fim de semana. Em reportagem especial, o jornal O Estado de S. Paulo usa as ruínas ferroviárias do bairro rural São Bento para mostrar a decadência daquilo que no século passado representou grande desenvolvimento para o município, mas que deteriora-se ao sabor do tempo e das intempéries, sem que a cidade possa investir na sua revitalização. O ‘Estadão’ não sabe, mas Araras teve a chance de comprar todas as estações ferroviárias localizadas em seu território. Isso foi há cerca de 10 anos, mas divergências políticas impediram a transação.





Patrimônio abandonado vira destaque nacional

Jornalista do Estado de S. Paulo produz reportagem especial sobre estado precário de vilas ferroviárias, das quais maioria dos moradores saiu após desativação dos trens




ANA MARIA DEVIDES



O assunto não é novo, mas abordado por um dos maiores veículos de comunicação impressa do País, causa um impacto diferente. O estado precário das vilas ferroviárias, aquelas surgidas e desenvolvidas a partir de uma estrutura voltada ao transporte por trens, foi abordado no final de semana de forma nostálgica e ao mesmo tempo incisiva pelo jornalista Rodrigo Brancatelli, do jornal O Estado de S. Paulo, usando como pano de fundo nada menos do que o bairro rural São Bento, localizado em Araras, próximo à divisa com o município de Leme.



Publicada neste domingo, dia 17, no caderno Cidades/Metrópole, a matéria é fartamente ilustrada com um personagem local, o mecânico Nilton Arnaldo Fogo, 75, um dos mais antigos moradores do São Bento que, assim como o bairro rural de Elihu Root, viveu o apogeu populacional, econômico e social nos tempos de ouro da ferrovia e hoje exibe os inquestionáveis sinais do esquecimento. Intitulada “Quando eu morrer, a minha vila morre”, a matéria detalha a que veio – “Os trens pararam e quase todo mundo foi embora de São Bento”.



Brancatelli vai fundo nas reminiscências do velho mecânico. “É como se Nilton Arnaldo Fogo estivesse a compensar todos esses anos de esquecimento. Um dos últimos moradores de São Bento, bairro rural de Araras, no interior de São Paulo, o mecânico de 75 anos, passos miúdos e gestos lentos, vira uma criança quando começa a falar da época em que os trens barulhentos da Companhia Paulista passavam bem na frente da sua casa. A memória esburacada simplesmente desaparece; as palavras quase se atropelam em sua boca; a fala mole e arrastada se transforma em estridente, de tanta empolgação.”, escreve o repórter.



E continua, transcrevendo a emoção de Fogo. “Meu filho, se eu não contar essa história para você, ela vai se perder. Acho que, quando eu morrer, a minha vila também morre”, diz ele. São Bento existe no mapa desde 1.º de dezembro de 1885, quando a estação ferroviária foi inaugurada. Pelo menos 400 famílias moravam nos arredores, havia posto dos correios, três armazéns de secos e molhados, botequins, duas sorveterias (“meu pai tinha uma sorveteria, era a melhor”, gaba-se Nilton Fogo). “Mas a exemplo de inúmeras vilas que se formaram ao redor de estações ferroviárias, a de São Bento perdeu a importância depois que o trem parou de passar por ali, em fevereiro de 1977. Os vizinhos do mecânico foram embora, as lojas fecharam, a estação foi desmanchada e as casas, demolidas. Hoje, com apenas cinco imóveis em pé, São Bento é uma cidade fantasma, um capítulo destruído e esquecido da história do desenvolvimento paulista", descreve o jornalista do Estadão.



E o personagem continua dando seu depoimento, reproduzido por Brancatelli. “Eu cheguei aqui em 1940 e tudo girava em torno da estação”, conta Nilton. “Lembro que eu pegava o trem para a capital às 5h45 e voltava às 21h30. Mas, quando os trens pararam, a vila parou também, todo mundo foi embora. Na semana passada mesmo, derrubaram as últimas 20 casas ali atrás, só sobrou tijolo.” “Outrora pontos de partida para a formação de bairros e cidades, as linhas férreas hoje podem ser consideradas imensas cicatrizes pelo Estado de São Paulo, catalisadoras de grandes vazios habitacionais. Há pelo menos 25 localidades como São Bento que foram levadas ao isolamento, onde as estações foram abandonadas e o patrimônio virou ruína”, afirma a reportagem.



Brancatelli faz um apanhado da situação da malha férrea do País, em situação em geral não muito diferente da detectada em Araras. “Os reflexos do desmantelamento das linhas ferroviárias se mostram em números – se na década de 1930 cerca de 70% da população vivia nas áreas rurais, hoje esse índice não chega a 6% no Estado. A reportagem percorreu cerca de 2.500 quilômetros em busca de locais como Nova Louzã, Paraisolândia, Nova Pauliceia, Monte Alegre, Ouro, Guanabara, Coronel Pereira Lima, Cresciuma e outras vilas esquecidas. No caminho, encontrou antigos moradores, explicações das mais diversas para o êxodo rural, exemplos de descaso e omissão dos órgãos de patrimônio”, argumenta o jornalista.



O encerramento do trabalho de Brancatelli registra a tristeza do mecânico ararense com a situação. “Eu queria ter guardado mais coisas dessa época de ouro do bairro de São Bento, porque atualmente eu só tenho umas fotos e a minha memória”, diz Nilton Arnaldo Fogo, que permanece com a mulher na mesma casa que pertenceu ao avô e ao pai, para trabalhar como mecânico para as fazendas de Araras. “Quando derrubaram a estação, foi uma das coisas mais tristes da minha vida. Lembro que nas telhas estava escrito ‘Marseille’ em francês. São pedaços da história que foram perdidos.” A reportagem também mostra estações ferroviárias e vilas adjacentes abandonadas em Amparo.



Oportunidade perdida

Brancatelli não sabe, mas pelo menos em Araras houve uma chance real para que o município tirasse suas estações ferroviárias – todas – do esquecimento e do abandono. A Prefeitura recebeu uma oferta inédita por volta de 1998: comprar, por um preço bastante atraente na época, pouco mais de R$ 1 milhão, toda a estrutura da antiga Fepasa (Ferrovias Paulistas S/A) no município.



Essa estrutura era composta pelas estações (ou terrenos que haviam sobrado delas) do Remanso (próximo à divisa com Cordeirópolis, ao sul de Araras), Loreto (a leste), Elihu Root (na direção da Cascata), São Bento (a norte) e na zona urbana, a antiga estação Central da avenida Ângelo Franzini, antiga avenida Limeira.



Divergências políticas na época falaram mais alto do que o interesse da cidade, que acabou assegurando apenas o resgate da Estação Central, ao lado da Nestlé Brasil Ltda.



A proposta para que a Prefeitura comprasse todas as estações e as incorporasse ao patrimônio municipal, foi feita na época pela RFFSA (Rede Ferroviária Federal S/A), que estava responsável por tudo o que pertencia à extinta Fepasa. Interessava à RFFSA vender os imóveis para quitar dívidas da antiga companhia. Para tanto, a oferta era tentadora: as Prefeituras que comprassem as estações em suas jurisdições, poderiam pagar em até 12 parcelas, fixas, descontadas do ICMS (Imposto Sobre Circulação de Mercadorias) que tinham a receber.



O prefeito de Araras era, na época, Warley Colombini (PSDB). Apoiado por apenas quatro dos então 17 vereadores da Câmara, enfrentando oposição ferrenha de pelo menos dois outros grupos na Casa – um ligado a Luiz Carlos Meneghetti, que não havia sido prefeito ainda e outro ao ex-prefeito Pedro Eliseu Sobrinho, Colombini não conseguiu aprovar no Legislativo o remanejamento orçamentário necessário para a compra. Acabou por comprar apenas a estação Central, por pouco mais de R$ 100 mil, pagos à vista pela Prefeitura.



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NA LINHA DO TREM



‘Quando eu

morrer, a

minha vila

morre’



Os trens pararam e quase todo

mundo foi embora de São Bento



Foto Clayton de Souza/AE



‘Atualmente,

eu só tenho umas fotos

e a minha memória’


Nilton Arnaldo Fogo





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COMPRA DA ESTAÇÃO



“Era para ganhar e não comprar” as estações, criticava a oposição





Estação da avenida Ângelo Franzini – Prefeitura comprou, pagou e por isso pôde permitir revitalização bancada pela iniciativa privada




Na época não faltaram severas críticas a Colombini. Seus adversários vieram a público dizer que a Prefeitura não deveria nem ter comprado a estação Central. A alegação era de que, com articulação política, teria sido perfeitamente possível à Prefeitura “ganhar” todo aquele patrimônio, que teria sido “cedido” ao município pela RFFSA, sem que a cidade precisasse desembolsar um centavo.



Vários anos e duas administrações depois, entrando já no terceiro governo após aquele que tentou comprar toda a estrutura ferroviária para o município, e Araras jamais conseguiu pôr as mãos nos imóveis que, hoje, nem estão mais sob responsabilidade da RFFSA, mas sim sob controle do governo federal.



A estação central comprada pela Prefeitura naquela época, sob protestos, e só aquela estrutura é que pôde ser recuperada, graças à iniciativa privada. No caso, Nestlé e Citrovita usaram incentivos fiscais para revitalizar o complexo, transformado num belo Centro Cultural para uso da população.



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SEM PODER INVESTIR



Elihu Root e São Bento não podem receber reforma bancada pelo município





Em ruínas, a estação de Elihu Root está desaparecendo sem poder ser revitalizada enquanto a cidade não tiver poder sobre o imóvel




Articulações até foram feitas pelo ex-prefeito Meneghetti para “ganhar” a estação de Elihu Root. Vários projetos de restauração e destinação social do imóvel foram apresentados – em São Paulo, no Rio de Janeiro, onde a RFFSA solicitava os documentos e até em Brasília. Todas as ações, no entanto, não deram em nada até o momento.



O governo federal chegou a enviar representantes de Brasília para discutir com os prefeitos as intenções de reaproveitamento das antigas estações, mas nenhuma dessas conversas resultou em qualquer ação para ceder, emprestar, doar ou mesmo vender esse importante patrimônio às prefeituras.



Estações como Elihu Root e São Bento seguem, portanto, sem poder receber um prego sequer por conta da Prefeitura, que não tem qualquer poder sobre o imóvel e, portanto, nenhuma autorização legal para neles investir. Ao contrário, a estação Central só pôde ser revitalizada por pertencer, legalmente, ao patrimônio municipal.



Enquanto o patrimônio se deteriora e serve de (mau) exemplo para reportagens como a do Estadão, municípios que conseguiram recuperar o que restou da estrutura férrea tiram proveito econômico e cultural da iniciativa. Jaguariúna, por exemplo, é um dos municípios que soube aproveitar o patrimônio da antiga ferrovia para atrair turistas e oferecer lazer e entretenimento democrático à população.



Fonte: TRIBUNA DO POVO/Cidade, Araras (SP), Terça-feira, 19/05/2009, Ano 117, &
8470; 7.350, Capa e Página 7A.





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“Fora da VERDADE não existe CARIDADE nem, muito menos, SALVAÇÃO!”



LUIZ ROBERTO TURATTI.







Comentarios

Paulo Henrique de Alencar  - 07/02/2019

Infelismete o Brasil não cuida do seu patrimônio que tanto ajudou no seu desenvolvimento ,com certeza serviria muito bem de passeios turísticos para cidade e todos ganhariam com isto ,até quando vamos ver o patrimônio histórico acabar...esta na hora de trocar estes Prefeitos que não pensão na historia da sua cidade.

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