‘Que país é este’? Apesar de ter sido criada por uma só pessoa, esta pergunta ronda a cabeça de milhares de brasileiros além dos fãs da Legião Urbana. Cinco séculos depois, a terra descoberta ‘por engano’ pelos portugueses é hoje um país com uma imensa faixa territorial, tão grande quanto os contrastes que nela há.
Até Abril deste ano, ao mencionar o Brasil de uma forma geral em qualquer lugar, não se poderia deixar de lembrar de seus Quinhentos anos, e a mídia cuidou muito bem desta parte: com novelas, minisséries, propaganda e projetos. De uma certa forma, por mais que alguns possam negar, o aniversário de nossa terra nos faz parar e pensar um pouco sobre nossas origens, como está nosso presente e o que nos reserva o futuro.
Revendo todos os fatos históricos, e simplesmente olhando ao redor, podemos notar que o paraíso verde e amarelo também tem manchas cinzas e vermelhas. Nada é só o paraíso, tampouco o inferno, a mistura de extremos é a maior característica da Terra Brasilis. A menos que o indivíduo não leia jornais, revistas, não assista televisão e não saia à rua, todos nós nos deparamos com cenas de violência, descaso, corrupção entre outras pragas do nosso mundo. A violência é tanta que chegamos a ter mais mortos na violência urbana (como o exemplo de Rio e São Paulo) do que a guerra do Kosovo numa mesma faixa de tempo. A imagem das crianças abandonadas e exploradas já se tornou comum no cotidiano. Não é novidade que a renda mal distribuída é um grande colaborador para esse quadro de marginalização em que vivem mais de cinqüenta milhões de brasileiros.
Batendo de frente com estes ‘eternos’ problemas, vem a rica cultura brasileira, tanto no início como agora. Grandes nomes da poesia, música, teatro, televisão e artes em geral nasceram, viveram e vivem sobre o solo brasileiro. Ora, temos o melhor futebol, do mundo, o carnaval mais animado e as praias mais ‘quentes’ de todo o mundo. Temos tecnologia e riquezas naturais admiradas por todo o mundo que resistem até hoje.
Disparidades que vão além da estrutura cultural, desde o início são notáveis na raça - apesar de ser um país totalmente mestiço, o Brasil agarra o racismo e etnocentrismo com uma boa dose de força.
Seria difícil para uma abelha produzir mel se não conhecesse bem a colmeia, tivesse consciência do seu trabalho e pior, trabalhasse sozinha. Será difícil para o povo brasileiro construir ‘ o país do futuro ‘ sem ter a consciência do caldeirão de contrastes em que estamos cozinhando, será difícil para nós termos paz em nossas casas sem que façamos algo para que a colmeia produza mel, ou seja: há diferenças, sem dúvida. Há problemas, não se pode negar isto. Mas não podemos esquecer que também há muito de bom em nossas mãos e não percebemos, preferimos deixar que tudo se resolva sozinho. Brasil, quinhentos anos... E o resto?
Emidia Ferreira Felipe – Diário de Natal (Caderno de Educação) – 27/04/2000