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Artigos-->O BOM BRASILEIRO É CHAMADO DE "OTARIANO DA SILVA" -- 06/08/2009 - 11:52 (Jeovah de Moura Nunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O BOM BRASILEIRO É CHAMADO DE “OTARIANO DA SILVA”



Gustavo Capanema, (1900-1985), foi secretário do interior em MG, ministro da educação no governo de Getúlio Vargas, deputado federal e senador. De boa linhagem familiar teve uma vida discreta, mas possuidor de uma grande habilidade política. Criou uma frase pouco falada, mas muito usada pelos políticos de hoje, quando se trata das ações de plenas politicalhas: “o que vale é a versão e não o fato”. Ora, foi justamente a versão dada pelo quase mumificado José Sarney, trêmulo e claudicante, pronunciando com dificuldades as palavras, que o presidente do Senado tentou e conseguiu convencer seus pares e até mesmo aqueles que solicitavam sua renúncia, rendendo-se a um discurso prolongado, quase choroso e sem o ruído das palmas e aleluias. Parecia mesmo um ambiente religioso, onde o pastor despejava sobre suas ovelhas as mais convincentes palavras de cunho místico, ou de velório respeitoso criando nas dependências do Senado um clima de descanso das acusações. Para referência de apenas um ponto menos relevante de seu discurso, Sarney sequer reconheceu que aceitou uma solicitaçãozinha de sua netinha para arrumar um emprego no Senado ao namoradinho da netinha. Ora, ora, seguindo as tradições brasilianas de nepotismo exagerado, este é o país em que as famílias abastadas são assim justamente porque arrancaram dos pobres pagadores de impostos escorchantes os gordos salários de avôs, filhos e netos. Tudo oficial de chapa branca. De pai para filho desde 1500. Afinal os portugueses foram mais espertos que os ingleses.



Capanema diz que “a regra da técnica política é não ter regras”. E ainda dizem os historiadores – mais loroteiros do que historiadores – que o homem foi um extraordinário político. Se isto for verdadeiro quero nascer na próxima reencarnação como um competente ladrão dos cofres públicos e só assim serei um bom brasileiro. Isto porque ser honesto no país da ladroeira é ser totalmente um “Otariano da Silva”. O Brasil é um celeiro de ladrões. Dá ladrão em todo canto. Rouba-se até o lixo alheio. E nossas leis penais permanecem fajutas para socorrerem o corporativismo da imensa bandidagem em todo o país. Os políticos estão no seu meio ambiente privilegiado de se locupletarem com a ajuda dos pobres e ignorantes que os elegem, acreditando nas mentirosas promessas. Este é o Brasil que aprendi a enxergar desde criança. Este é o Brasil que não aprendi a amar, como o amam tantas pessoas que não entenderam ainda o imenso valor de um comportamento honesto para sermos uma grande nação.



O fato é que Sarney aprendeu a grande lição ensinada por Lula este presidente do milênio: “não fui eu, não sei, não conheço; não vi”. Sarney falou, falou e não disse nada, ou disse o já conhecido ramerrão dos senadores. Deu a entender que duas investigações da Polícia Federal divulgada pelo jornal “O Estado de S. Paulo” no dia 22 de julho foram “arranjadas” quando Sarney negocia a nomeação do namoradinho da netinha. O conceituado jornal não “montou”, conforme acusou Sarney as gravações divulgadas. Isto é apenas uma operação do jornal que se preza e tem conceito mundial na luta contra a corrupção. Os áudios publicados no jornal são autênticos, do começo ao fim de cada telefonema, sem edição, e a voz de Sarney é real. Na conversa, Sarney fala com o filho, Fernando Sarney, sobre a nomeação de Henrique Dias Bernardes - então namoradinho de Maria Beatriz Sarney - e diz que vai discutir o assunto com o ex-diretor Agaciel Maia. As gravações, feitas pela Polícia Federal com autorização da Justiça, fazem parte da “Operação Boi Barrica”, em que a PF investiga o filho do presidente do Senado. Em seu discurso, Sarney admitiu que era sua a voz nas gravações. Ele argumentou que os áudios não poderiam ser divulgados porque envolviam um senador, que tem foro privilegiado no Supremo Tribunal Federal (STF). “Trata-se de conversas coloquiais entre familiares”, disse. (fonte Estado).



Conversas coloquiais sobre a colocação de uma pessoa no serviço público envolvem com toda a certeza o interesse do público, porque é o público quem vai pagar a conta. Quando, meu Deus, será que esses políticos (podemos chamá-los de políticos?) vão descobrir que somos nós, os Otarianos da Silva, que os sustentamos? Além de os sustentarmos, ainda temos de sustentar toda a família deles? Nossas leis punitivas são como presentes de Papai Noel. O criminoso tanto político, quanto um cidadão comum fazem a festa com as tais punições. As armas, além de serem de fogo, são também de quatro rodas. Filhinhos do papai matam pessoas e sequer são presos. Já o pobre se for abordado pela Polícia com o seu carro velho vai ter que dar muitas explicações. E ainda dizem que este é um grande e maravilhoso país! Grande pode ser, porém maravilhoso fica muito a dever. Melhor seria se fosse pequeno, mas de grande estabilidade social. O que percebemos, porém é terrivelmente desanimador!



Jeovah de Moura Nunes

escritor e jornalista

jeovahmnunes@hotmail.com









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