Justamente eu, que vivo vociferando e sugerindo neste espaço a presença de um meia-armador criativo no nosso meio de campo? E principalmente depois dessas duas vitórias de gala sobre a Argentina, no caldeirão de Rosário, e o ótimo Chile do excelente Marcelo Bielsa?
E pra complicar ainda mais pro meu lado, contra o Chile, o nosso técnico improvisou o excelente lateral direito Daniel Alves na posição do Kaká, e, pasmem, ele até fez chover... Eu estou começando a compreender e aceitar que com o Dunga, não se brinca... Ele tira da sua cartola, ou, melhor dizendo, da manga da sua camisa – talvez por isso ele sempre se veste com camisas de manga comprida – uma nova carta a cada partida. Durma-se com um barulho destes!
Pegando um gancho com o Tostão, o nosso inesquecível monstro sagrado e hoje colunista esportivo de mão cheia, numa de suas últimas e excelentes crônicas, logo após a vitória sobre a Argentina em Rosário:
“Uma das máximas do futebol, que vem desde a época em que se amarrava cachorro com lingüiça, e que persiste até hoje, é que um jogo se ganha no meio-campo, dominando o setor, trocando passes e impondo seu ritmo.
Segundo meu irmão, que entende muito do assunto, Dunga está revolucionando o futebol ao formar um ótimo time sem meio-campo. Ironias e exageros à parte, o Brasil venceu novamente a Argentina, com inquestionáveis méritos, sem dominar o meio-campo, sem trocar muitos passes e sem impor seu ritmo. Futebol não é mais imposição.”
E eu concordo em gênero, número e grau com o Tostão e com o seu irmão – talvez uma engenhosa criação para manifestar a sua própria opinião? -.
Mas, como eu sou meio turrão, vou lembrar algumas dificuldades que essa nossa seleção sem meio de campo enfrentou não faz muito tempo, curiosamente quando enfrentou algumas retrancas.
Contra a modesta seleção da África do Sul, nas semifinais da última Copa das Confederações, suamos sangue para vencer por 1 x 0 há apenas dois minutos do final da partida, numa cobrança de falta. E os africanos tinham perdido muito mais chances de gol, até aquele instante. No mesmo torneio, também nos esfalfamos para vencer o Egito, com um pênalti no último segundo do tempo regulamentar. Isso sem falar nos primeiros 45’ do jogo final contra os USA, em que literalmente chegamos a imaginar a viola indo celeremente pro saco... Depois, com dois gols de bola parada, pra variar, viramos a partida...
Aliás, gol de bola parada é uma grandeza nesse time do Dunga... Méritos totais pra ele... Que soube manter o Elano no grupo mesmo contra a vontade da maioria... E agora parece que irá efetivar, com toda a justiça, o Daniel Alves, outro especialista nesse tipo de jogo... E com o Luís Fabiano, o Adriano, o Lúcio, o Juan, o Luisão, e agora com o surpreendente Nilmar – como jogou esse garoto contra o Chile! -, excelentes cabeceadores, podemos esperar muitos outros gols dessa maneira...
No entanto, com tudo isso, e mais alguns outros coelhos, digo, cartas, que fatalmente sairão da manga da camisa do Dunga até a Copa, eu ainda insisto em que falta alguma coisa pra essa nossa seleção. Apesar do que o ‘irmão’ do Tostão disse, com muita propriedade, nos jogos contra times retrancados, vamos precisar sim de um meio de campo criativo. E um meio de campo criativo sempre passa por um meia-armador de ofício, que conheça os atalhos pra se vencer ferrolhos bem armados.
E a minha torcida fica toda para que uma dessas cartas que constantemente têm saído da criativa manga da camisa do nosso treinador, finalmente, seja um meia-armador de ofício. Na nossa opinião, é o único detalhe que falta para que esse excelente time do Dunga se transforme num verdadeiro esquadrão, daqueles que marcam época, e muito difícil de ser batido.
O resto, quer queiramos ou não admitir, o Dunga já fez! E muito bem, por sinal!