A Vida tomou-me pelos braços e me levou ao topo da Colina da Razão. Entre nuvens dispersas, deixou-me a sós com a anfitriã daquele monte. Ela me perguntou:
_ Quem és tu? O que fazes por aqui?
_ Eu sou criatura. De onde venho chamam-me de Homem. Foi a Vida quem me trouxe até aqui. Qual seu nome?
_ Eu sou a Razão. O que queres tu de mim?
_ O que quero? Não sei ao certo. Sinto-me confuso para entender o querer. A incerteza tomou conta de meus dias. Não defino o que sinto. Talvez tenha vivido tudo do que a própria Vida tenha tido para me oferecer. Não encontro mais razão para poder colher os frutos dos prazeres da Vida. Estou cansado. Fiz de tudo: fui mestre e aprendiz, amei e fui amado. Fui agente, paciente, vítima e autor. Corri muito! Quando pensei conhecer a razão de tudo, parei e parado ainda estou. Falta-me saber de como apenas ser feliz!
_ Razão! Saber! Felicidade. Eu sou a Razão! Como ousas falar sobre Razão e Saber se mal acabas de chegar em minha colina? A Vida não te preparou para este encontro?
_ Ora, a Vida! A vida é muda! Ela apenas me deixou viver! Foi por ela que obtive esta incerteza que domina a minha mente! Entre tristezas me deixou sentir alguns momentos felizes. Aprendi a distingui-los. Adquiri experiência. Mas isso não basta para que eu consiga compreender o que é a Felicidade. Se você é a Razão, explique-me: onde encontro a Felicidade? Onde encontrar o porquê de tantas coisas que ainda não consegui saber? Fiz as mesmas perguntas para a Vida e, como disse, não me respondeu. Ela é muda. Simplesmente trouxe-me até aqui!
_ Ah! Pobre criatura! E achas que tudo isso que ela te ofereceu é pouco!? Não foi a Vida que deixou de te mostrar ou explicar onde encontras a Felicidade. Foste tu que, ao viver, não percebeste a maneira de como encontrá-la. Por estar aqui tu és um escolhido. Considere-te um privilegiado pela Vida. Bem poucos têm a mesma oportunidade de conhecer-me. Vem comigo! Quero mostrar o que te falta para encontrar a Felicidade.
A razão, carinhosamente, assim como a Vida havia feito, me pegou nos braços e docemente me levou sobre uma pedra no ponto mais alto de sua Colina. Colocou-me em uma posição onde eu tinha a condição de avistar todos os lados:
_ Este é o cume de minha Colina. Esta pedra, onde agora estás, é a Pedra do Tempo de Vida. Ela é o marco inicial do caminho da felicidade. Agora, não olhes para os lados, olhes para trás! O que tu vês?
_ Vejo tudo muito claro. Vejo os momentos que marcaram a minha vida: o meu tempo de criança, o nascimento dos meus filhos, os meus amigos. Puxa! EU VEJO TUDO! É inacreditável! Eu vejo claramente todo o meu passado. Os bons e maus momentos. Os infortúnios e prazeres. Os momentos em que cometi erros. Ah! Pudesse voltar atrás, com certeza hoje não mais os cometeria. Vejo os momentos em que usei a razão. Puxa! Só agora estou notando, são exatamente neles, quando você, Razão, esteve presente que fui feliz. Ah! Quão tolo fui, você estava a meu lado e não a percebi...
_ Calma criatura! Percebo que já começas a conhecer-me. Tudo isso que vês é o teu passado, ele é o responsável pela tua experiência de hoje; mas só com ela não poderás encontrar a Felicidade. Agora, olha a tua frente! O que tu vês?
_ Quase nada! Existem muitas nuvens. Elas não permitem que eu veja claramente. Só percebo algumas imagens. Sim só algumas! É extraordinário! As poucas que vejo, coincidentemente ou não, identificam-se com as imagens de alguns momentos que avistei lá atrás em meu passado. Estranho! Por favor diga-me: o que você quer me ensinar? Retire todas as nuvens para que eu possa ver também os outros momentos que irei conhecer. Os que vi já os vivi e neles eu sei muito bem como agir para não errar outras vezes, afinal somente hoje estou lhe conhecendo!
_ Não te aflijas! Tudo tem o seu tempo. Irás, outras vezes, não só vê-los, como senti-los e vivê-los. A vida embora pareça muda, permite que tu vejas os momentos em que foste feliz. Sendo assim, o que deves ou não fazer para conseguir encontrar a Felicidade. Não se trata de livre arbítrio e sim uma maneira que eu, a Razão, com minha energia invisível, irei sempre alertá-lo para que saibas a melhor maneira de vivê-los! Nesses instantes a Vida estará permitindo que me conheças. Estes serão os momentos mais importantes de tua vida. O caminho que ainda tens a percorrer é o que está a tua frente, o teu futuro. Os poucos momentos que tu consegues ver à frente, não é a tua visão que os vê e sim a tua experiência que o faz antecipá-los. Quanto aos que as nuvens encobrem, são os novos que irás passar e ainda a Vida não te mostrou. Neles, somente com minha ajuda poderás encontrar ou chegar à Felicidade! Agora que começas a me conhecer, segue em frente, encare as nuvens do caminho, não tenhas receio nem curiosidade pelo o que nelas irás encontrar ou acontecer. Estarei sempre te protegendo. Consulte-me quando estiver indeciso, eu te farei enxergá-los claramente. Segue sempre em frente. Ao caminho encontrarás outras colinas como esta que agora estás. A cada cume que alcançares, olhes para trás e à frente. Como estás fazendo agora; apenas olhes. Não pares nunca! Perceba! A cada cume que alcançares, verás que os momentos em que erraste, bem como, as próprias nuvens, estarão diminuindo de quantidade. Continue! Vás em frente, e quando atingires a um cume que, ao olhares, tanto as nuvens a tua frente, como as imagens dos momentos de teus erros estiverem rareando, por certo, terás quase alcançado o cume da Sabedoria, que nada mais é a morada da própria Felicidade que procuras! Vai! Não percas tempo! A Vida é muito curta!
_ Mas... Quando eu encontrar a Felicidade, ainda enxergarei nuvens a minha frente?
_ Elas sempre existirão! Não te preocupes com as nuvens que ainda terás que atravessar, elas não te causarão mais medo ou insegurança, pois, se tu chegares até a Sabedoria, estarás conhecendo-me intimamente e por certo já terás se tornado um sábio!
_ Mas Razão, se eu alcançar a Felicidade... a Vida ainda estará comigo?
_ Bem... Isso eu não posso te responder. Eu sou somente a Razão, não Deus!