CONVICÇÕES

Padre João Modesti



Quase todos os dias lêem-se nos meios de comunicação casamentos desfeitos, políticos que, sem mais sem menos, mudam de partido, padres que deixam o sacerdócio, dívidas que deixam de ser pagas, fugas de certos deveres e assim para frente.



Tudo isso é por causa da falta de convicção, aquela persuasão íntima que todos devem ter antes de dar um passo em alguma atividade humana. Fruto da falta dessa convicção gera um entusiasmo do momento, uma leviandade, uma aventura. O princípio dessas pessoas é “se não der certo, a gente parte para outra”. Não pensa nos resultados que podem infelicitar a muitos. É o egoísmo que fala mais alto: se eu estiver bem, o resto que se amole.



Há muita falta de reflexão. Falta de concentração no próprio EU para ver, antes de assumir aquela atividade, se tenho forças para isso. Se a resposta é sim, devo abraçar e enfrenta os percalços que aparecerão. Mas isso se na minha reflexão eu acho que aquela atividade ou aquela situação me trará a felicidade mesmo que tardia.O trabalho feito com alegria, pois a convicção é a raiz dessa emoção, não é tão pesado como aquele que eu fiz para quebrar um galho.



Lê-se na biografia do maestro Zequinha de Abreu que o pai, farmacêutico, queria que o filho fosse médico. Este estava convencido de que sua vocação era a música. No terceiro ano teve a coragem de largar o curso de medicina e dedicar-se àquela atividade da sua convicção. Perdemos talvez um péssimo médico e ganhamos um grande músico que alegrou tantas gerações do passado.



Aquele que não segue ou não tem nenhuma convicção é digno de lástima. É um barco que fica ao sabor das ondas, das circunstâncias históricas, econômicas, políticas, sociais e até pela atração de um rosto bonito.



No passado o homem que faltava à sua palavra, fruto da falta de convicção, era considerado desprezível pelas pessoas de bem. Atualmente quase sempre esse indivíduo sem convicção, faltando à sua palavra é considerado esperto, vivo, aplaudido e até invejado. O poeta latino diria, o que viu numa visão: o fantasma de um guerreiro todo desfigurado: “Quantum mutatus est ab illo Hectore” (Como está mudado aquele célebre Heitor) ou, melhor ainda, falando dos admiradores desses malandros lhes cabe o verso do poeta francês “Un sot trouve toujours un plus sot qui l’admire” (Um tolo encontra outro mais tolo que o admira).



A gente sorri da ingenuidade dos velhos portugueses que ao fazerem um negócio, como sinal da palavra dada, entregavam um ao outro um fio de barba que era restituído quando acabavam de fazer o negócio. Quantos desses tipos ainda há? Os que não têm palavra, esses sim, pululam em toda parte nas grandes cidades como nas pequenas.



O divino Mestre ensina, mas quase ninguém pratica: “Seja o teu Sim, Sim e o teu Não, Não”. Se todos praticassem esse lindo ensinamento o mundo seria mais belo e melhor.





Padre João Modesti (1919-2005), Sacerdote Salesiano, professor de Física, Química e Matemática; Psicólogo doutorado pela Universidade Salesiana de Roma; autor com variada produção literária para cursos secundários e superior, de índole filosófica-religiosa.





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“Fora da VERDADE não existe CARIDADE nem, muito menos, SALVAÇÃO!”



LUIZ ROBERTO TURATTI.