GRATIDÃO
Padre João ModestiOs meios de comunicação cada dia falam sobre a poluição da atmosfera que vai matando seres vivos ou sendo causa de distúrbio e até de doenças. Há espécies de animais e vegetais que vão desaparecendo ou pela poluição do ar ou pela ganância dos homens.
Porém existe também uma poluição moral que destrói tantas virtudes. E uma das quais que mais sofreu e está quase desaparecendo é a flor da gratidão, esse reconhecimento do benefício recebido. Nos lábios dos homens não há mais as palavras “muito obrigado”. Quando a adversidade atinge o que me fizera um benefício, eu já não me lembro ou faço questão de ignorá-lo, esquecendo o benefício recebido. O JÁ-ERA faz parte disso: Agradecer é coisa do passado. A gente se esquece que pode chegar um dia em que de novo vou precisar daquela pessoa que ajudara.
Com que cara vou me socorrer dele, se por tanto tempo eu o desconheci dele, se por tanto tempo eu o desconheci ou fingia desconhecê-lo, o que é mais comum?
O MUITO OBRIGADO não custa nada, mas agrada tanto e predispõe o benfeitor a estar sempre às ordens do beneficiado. Quem não gosta de receber gratidão? Até o próprio Cristo reclamou, e foi a única vez, da falta gratidão, quando curou dez leprosos e somente um veio agradecer. Ele disse:
“Mas não foram dez os curados, onde estão os outros nove?”
Dante, o sumo poeta italiano no seu grande poema A DIVINA COMÉDIA coloca no último círculo do inferno três ingratos: Judas, Brutus e Caio, assassinos de César. Era o pior lugar do inferno e reservado para os ingratos. Vê-se aqui como esta virtude era estimada pelos antigos. Mas os tempos mudaram. A poluição moral do JÁ-ERA a pouco e pouco foi matando essa flor. Desabrocha aqui e acolá e bastante estiolada.
Como dói quando a polícia ou os bombeiros em atos de heroísmo cumprem com seu dever acabando com os bandidos ou incêndio. Nenhum elogio. Nada de lhes oferecer a flor da gratidão.
Somente se lhes recorda os erros, que possam ter cometido e em vez da gratidão jogam coroas de espinhos. Será isto o progresso da era atômica? Desse progresso seria o caso de dizer o que Cristo falou de Judas: “Melhor fora que não tivesse nascido”.
Padre João Modesti (1919-2005), Sacerdote Salesiano, professor de Física, Química e Matemática; Psicólogo doutorado pela Universidade Salesiana de Roma; autor com variada produção literária para cursos secundários e superior, de índole filosófica-religiosa.
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“Fora da VERDADE não existe CARIDADE nem, muito menos, SALVAÇÃO!”LUIZ ROBERTO TURATTI.