VELHICE
Padre João ModestiHá uma grande semelhança entre a vida de uma árvore e a vida do homem.
Tiveram início numa semente, crescem um pouco dentro de um recipiente, a terra para a árvore, o seio materno para a pessoa humana. Vêm à luz pequeninas, precisando de cuidados para não morrerem. A pouco e pouco vão crescendo.
A árvore torna-se arbusto, cresce até atingir o ponto de dar frutos e sombra, e dura bastante tempo, conforme sua natureza. Depois envelhece, não dá mais frutos, perde o vigor, vai apodrecendo e por fim morre. Assim é a vida humana. Vai crescendo, vem a infância, depois a meninice, em seguida a adolescência e por fim a mocidade quando começa a dar frutos numa família que vai poder durar bastante tempo. Chega o inverno da vida e o homem se vê velho. Acha que, quando não mais pode trabalhar, deve vir a doença final e logo após a morte.
O interessante é que os homens admiram as velhas árvores. Delas têm cuidado, protegem-nas contra os parasitas. Enfim todo carinho. Admiram o seu tamanho, sua velhice, sua sombra, mesmo que seja pouca e todos sentem quando ela cai por terra abatida pela falta de resistência às intempéries.
Infelizmente para a pessoa velha, que tanto deu para a sociedade, essa não possui admiradores. Pelo contrário há muita gente que gostaria de vê-la desaparecer, pois sua velhice incomoda. Ninguém se lembra do seu passado. Os frutos que deu. A sombra que protegeu a família. Com raras exceções, quantas vezes o velho é deixado de lado. Não serve para nada. É incômodo.
Não digo que haja alegria quando morre, mas há, e muito, alívio em casa.
Cuida-se de um animal doente, para a pessoa humana velha quase nada se faz. E a velhice é uma doença, como diziam os velhos romanos: “Senectus ipsa morbus”. Quanto ao cuidado que se dá as velhas árvores, ele deveria ser multiplicado, em relação aos anciãos. Esquecemos do que ele foi e ainda é.
Diz bem o Chefe da Igreja Católica, o Papa, acerca dos velhos: “A atenção carinhosa que eles merecem não resulta só de um preciso dever de caridade e gratidão, mas permanece válida a sua missão, mesmo quando por motivo de idade ou enfermidade tiveram de abandonar as suas atividades. Eles têm muito que dar em sabedoria e experiência à família, se esta souber estar a seu lado com atenção e capacidade de escutar”.
Dói, e muito, quando se veem jovens esquecerem o que o velho fez em favor da família e da sociedade. Vê-lo ser tratado com ironia e desprezo. Riem de suas palavras e gestos. Acham que já eram nos seus conselhos que a novela da vida escreveu e que eles viveram muitas vezes com sacrifícios, renúncias, lágrimas. Esquecem que um dia também serão árvores velhas que não servirão para mais nada e que em breve cairão. Infelizmente a mídia só engrandece a mocidade e despreza os velhos. Há uma verdadeira efebolatria. Coisa de grande beleza, mas muito passageira. Para os anciãos poucas palavras, a mais das vezes irônicas. Feliz do velho que encontra um pouco daquele carinho que se dá a uma árvore velha e que na sua pujança dera tanta beleza e frutos para o ambiente em que estava.
Quando a árvore morre, quantas lamentações! Quando o velho se vai para outra vida, quantas vezes, suspiros de alívio!
Padre João Modesti (1919-2005), Sacerdote Salesiano, professor de Física, Química e Matemática; Psicólogo doutorado pela Universidade Salesiana de Roma; autor com variada produção literária para cursos secundários e superior, de índole filosófica-religiosa.
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“Fora da VERDADE não existe CARIDADE nem, muito menos, SALVAÇÃO!”LUIZ ROBERTO TURATTI.