Seguindo fielmente o que dizem os religiosos de plantão e a lógica, inspirada pelas coisas todas que vejo e que todo mundo vê à sua volta, minha linha de raciocínio é essa:
No começo não havia nada, e quando se diz nada é nada mesmo! Não havia as leis da natureza porque não havia natureza, não havia as leis da física porque não havia física, não havia as regras da existência, o instinto de sobrevivência, não havia absolutamente NADA!
Exceto deus. Esse havia e ninguém diz como nem a partir de quando ou de que forma surgiu. Apenas havia deus, mais nada!
Bem, seguindo a “verdade” que a religião ensina temos que deus - o único que havia - é onipotente. Se é onipotente significa que ele pode tudo! TUDO, o contrário de nada! Tudo e tudo mesmo!
Ou seja, ele não está preso às leis da física, da natureza, da sobrevivência, ou a quaisquer outras leis, afinal, ele criou a física, a natureza, a sobrevivência, etc, etc, etc at infinitum!
E assim, com todo esse poder, ele vai e cria, a partir do nada mais absoluto, algo. E o que é que ele escolhe para criar? Uma natureza exuberante, regida por diversas leis que muitas vezes fazem seres sem poder e sem conhecimento nenhum feito eu, ter engulhos...
Ele cria a vida! Ah, que linda que é a vida!
Peraí! É linda mesmo? Comparada com o quê?
Ele cria a vida que só vive à custa da destruição de outras vidas. E ele é ONIPOTENTE!!!!
O que tem de bonito na vida que ele criou?
Ah, tem muita coisa! Tem árvores, tem flores, tem gatinhos peludos, tem pôr-do-sol, tem cores aos montes, tem brilho, tem sorrisos, tem crianças! Tem música, tem perfume, tem amor, tem luar, tem arte, tem sabor, tem brilho, tem o mar fazendo ondas, tem nuvens brancas criando formas no azul, tem as estrelas caindo na noite, faiscando, mudando de lugar, fazendo abrir e esquecer de fechar a boca da gente. Tem gente!!
Mas, se olhar mais de perto, tem fome, tem frio, tem medo, tem dor. Tem um animal devorando as entranhas do outro que ainda tenta se mover desesperado, tem bichinhos que só estão vivos quando devoram outros bichinhos e que deixam de estar quando são por outros devorados. Tem seres que estão, durante toda a vida, entocados para matar e não serem mortos. Tem pequenos animais que para crescerem a partir de ovos e larvas, devoram durante dias, semanas, meses, a partir das entranhas, o outro animal dentro do qual foram por suas mães colocados. Tem terremotos, avalanches, incêndios, enchentes, erupções, furacões, tornados, maremotos, secas, alagamentos. E, além de tudo isso, tem gente!!
E, dizem os religiosos, deus fez o homem à sua imagem e semelhança.
E o que é o homem? O que é esse animal que se diz soberano sobre todas as outras formas de vida? O que é esse animal que se acha superior a qualquer outra forma de vida, inclusive ao outro homem? Que animal deus escolheu para ser a sua imagem e semelhança?
Um ser criado do barro e no qual foi assoprado o alento da vida. E, junto com essa vida, como parte integrante dela, foi nesse animal chamado homem colocado também o egoísmo, a inveja, a ganância, o medo, o preconceito, o orgulho, a vaidade, o prazer de destruir, o fascínio pela morte, a vontade de submeter, de humilhar, de torturar, de fazer sofrer. Esse é o ser que se diz o mais perfeito. Deus é o onipotente, o homem é o oniprepotente!
E a esse homem criado à sua imagem e semelhança, deus deu também o envelhecimento, as doenças, as deficiências físicas e mentais, a capacidade de criar máquinas de matar e de criar a língua para, dentro dela, criar a metáfora, a metáfora que salva a todos porque graças à metáfora o homem não assassina peixes, ele pratica o esporte da pesca; não assassina animais, abate para venda e consumo ou pratica o esporte da caça, não destrói a natureza, cria novas tecnologias, não humilha o seu semelhante, coloca-o no seu lugar; não espanca seus filhos, educa-os, não rouba, adquire bens; não explora, contrata funcionários; não é ladrão, é político!
E aí chega aquilo que, além e mais do que qualquer coisa, eu não consigo entender!
A esse deus que criou todo esse circo de horrores forrado de belezas feitas para atrair e destruir, o homem chama de “Deus de Bondade”!
Que bondade? Eu olho e não vejo onde está essa bondade.