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Artigos-->UMA JUSTIFICATIVA -- 17/11/2009 - 11:24 (Divina de Jesus Scarpim) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Sempre recebemos, vindos de todos os lados, recados, mensagens, avisos e até ameaças pretensamente chegados a nós diretamente de deus. Alguns deles chegam até a vir assinados.



Como todo mundo, recebo, direta e indiretamente em todas as formas, por todas as vias de comunicação e praticamente em tempo integral, lembranças de religiosidade. A diferença, e assumo a culpa por isso, é que, em meu caso, muitas delas me irritam, me aborrecem, me revoltam, acionam em alto e bom som o meu alarme antiestupidez. Daí eu fico brava e respondo dirigindo minha ira a quem teve a infeliz idéia de criar mensagens estúpidas.



A minha falha, muito séria eu admito, é que em geral quem manda para mim essas mensagens não é a pessoa que as criou, mas é esse remetente, junto com todas as outras pessoas da minha lista de endereços, que recebe a resposta. Então os amigos, pessoas de quem gosto muitíssimo, ficam muitas vezes magoados, ofendidos até, e não era minha intenção ofender nenhum amigo; era minha intenção sim provocar o máximo de pessoas para que pensem melhor nas mensagens em questão, para que percebam a estupidez camuflada de “milagre divino” contida nelas e enviem minha resposta pelo caminho de volta até que ela chegue à pessoa que criou a mensagem para que, quem sabe, essa pessoa pense melhor antes de escrever e publicar besteiras.



Exemplos são fartos, como aquela historinha do menino que faz xixi na roupa em plena aula. Depois de pedir a deus que o salve, ele é salvo, não por deus mas por uma coleguinha de classe, uma menina que teve a sensibilidade de perceber o que acontecia e a inteligência de criar uma situação que livrasse o menino do vexame, e ela explica depois que fez isso porque já passou por essa situação uma vez e sabe o quanto é desagradável. Acontece que o gesto nobre da garota é recompensado com desprezo e ofensas vindos dos outros alunos que a acusam e a afastam por ter sido “desastrosa”. O menino salvo não faz nada para ajudá-la, não mostra a nobreza dela.



A pessoa criou a mensagem colocando lindas fotos, musiquinha adequada e palavras de fé alertando-nos para a “bondade” do deus que atendeu a oração do menino e livrou-o do sofrimento, mas essa pessoa parece não ter pensado um segundo sequer na garotinha que passou por situação constrangedora DUAS VEZES, mesmo tendo ela, embora tão pequena, mostrado o melhor caráter que se pode esperar de um ser humano. Será que esse ser religioso ao ponto de cegueira não se deu ao trabalho de sequer considerar a menina só porque não diz na história que ela tenha rezado em algum momento?



É esse tipo de cegueira irracional que leva pessoas que se acham boas e santas a cometerem crimes, agirem com injustiça, desprezarem os valores humanos. Foi esse tipo de mentalidade estreita que mostrou ter o tal “bispo excomungador”; que o papa visivelmente está mostrando ter quando abomina os homossexuais, condena o uso de preservativos e MENTE afirmando que camisinha não evita AIDS; é o que os líderes religiosos que respondem a processos mostram ter quando continuam pedindo dinheiro aos fiéis, e é o que os próprios fiéis mostram, até sem o notar quando, em lugar de ajudar uma criança a sair da rua, aprovam a pena de morte e ajudam a engordar a fortuna desses líderes ladrões.



Se me revolto com isso, quero crer que tenho motivos mais do que justificados. Ao longo dos anos tenho visto uma crescente intolerância que me preocupa sinceramente. A razão da minha revolta é a percepção de que as pessoas se recusam a pensar e, o que é muito pior, ensinam as crianças a não pensar. Vejo em sala de aula, aluninhos de quinta série, ofendendo colegas por causa da religião com palavras e frases que não são deles, que ouviram em casa dos pais e na igreja do padre ou do pastor. Algumas dessas crianças me olham como se eu fosse um extraterrestre quando digo que não tenho religião (e olha que eu nunca disse em sala que sou atéia!).



Quando trabalho com o tema preconceito eles são rápidos em citar a bíblia para afirmar que “Se encontro um “viado” na rua eu caceto mesmo!”, “pode descer a lenha sim, professora, deus não gosta dessa gente, tá na bíblia!”. É só permitir uma conversa a respeito da homossexualidade que qualquer professor vai ouvir frases desse tipo, pronunciadas por alunos desde as primeiras séries do ensino fundamental até já adultos nas aulas de suplência. E o mais terrivelmente assustador é que se levantar o problema na sala dos professores, vai ouvir frases semelhantes dos próprios colegas. A grande maioria dos trabalhos abordando preconceito desenvolvidos nas escolas exclui qualquer menção à homossexualidade.



Textos do tipo dessa mensagenzinha idiota que citei acima costumam ser usados nas escolas, por professores, principalmente de ensino religioso, e pela direção e coordenadoria. Eu mesma o vi pela primeira vez em uma reunião de professores. As pessoas não pensam. Eu não entendo por que pessoas cultas, inteligentes e boas se recusam a pensar quando o assunto é religião. Em nome de um “amor a deus”, de uma adesão irrestrita ao que afirmam ser a “verdade”, as pessoas esquecem o simples e básico sentimento de respeito ao próximo; e nem sequer se dão conta disso!



É comum, quase obrigatório, afirmar que não podemos falar mal de religião, que não se pode criticar qualquer crença ou manifestação religiosa. Não podemos nem sequer reivindicar o direito básico de ter um estado realmente laico como está definido na Constituição. Qualquer tentativa de mostrar que escola pública é um órgão público, nem mesmo pela redundância é levada a sério. Lá se faz orações no pátio com os alunos, se abriga missas e cultos evangélicos a propósito de qualquer coisa, se abarrota os quadros de avisos com imagens de santos, Jesus e coisas do tipo acompanhadas de orações e trechos bíblicos. E temos que achar tudo muito lindo, muito educativo e muito bom!



E os professores de ensino religioso comemoram o “dia da bíblia” mas nem sabem se existe um “dia do alcorão”, comemoram com orações o dia da páscoa ensinando aos alunos seu valor religioso e até desprezando o apego ao chocolate como sendo um pecado contra o “verdadeiro sentido da data” mas não falam nada sobre o dia de jogar rosas no mar em homenagem a Yemanjá. Aliás, muitos desses professores nem citam o candomblé como religião, ou ignoram totalmente, como se não existisse, ou falam que é “coisa do capeta”. Mas, apesar disso, tente alguém dizer que não aprova a existência dessa disciplina! no mínimo será acusado de estar tentando tirar o trabalho dos colegas.



Droga, eu tenho amigas que dão aula de ensino religioso, amigas que sei serem pessoas maravilhosas, amigas que considero muito e de quem gosto muito, não quero ofendê-las, não quero magoá-las, não quero fazer com que pensem que tenho algo contra elas. Mas será possível que não posso mesmo dizer que aulas de ensino religioso são um retrocesso histórico e deveriam ser ilegais por serem basicamente inconstitucionais e fundamentalmente antiéticas?



Fico brava! Fico irritada! Me sinto agredida! E não quero, não posso, não consigo deixar de gritar que odeio tudo isso: e o faço! Amo do mais profundo da minha alma os meus amigos, sei que muitos deles tem suas religiões, sei também que há muitos amigos meus que, mesmo sem serem religiosos, não partilham da minha raiva, e assim mesmo eu falo! Só queria que meus amigos, religiosos ou não, entendessem que os amo e que não quero ofendê-los; apenas não consigo ficar indiferente e calada.

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