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Artigos-->VIDA -- 17/11/2009 - 11:25 (Divina de Jesus Scarpim) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Viver é um pé no saco. E olha que eu nem tenho saco... Não tenho mais saco pra brincar de dizer que a vida é legal, não acredito mais nessa mentira há tempos, a vida é um porre, é ruim, é inútil, é desagradável. Viver não tem nenhuma razão, nenhum sentido, nenhuma graça.



Jovem gosta da vida porque só vive, não pensa. Mas a gente vai vivendo e começa a pensar. Por que será que é tão importante pra raça humana ficar se dizendo o tempo todo que a vida é legal? Se fosse mesmo seria preciso ficar dizendo tanto? Por que a maioria das religiões condena o suicídio, não seria para que não haja suicídios em massa? Por que a gente tem tanto medo da morte se a vida é muito mais apavorante? Deve ser por que sem esse medo atávico a gente se recusaria a viver. Quem iria querer ficar nesse mundo tão ruim se não estivesse preso por um instinto que nada tem de racional?



Na vida tem prazer. Tá bom, tem prazer sim, mas quais são eles? Sexo? Para a maioria de nós é pecado, é tabu, é nojento, é comércio, é forçado de uma forma ou de outra. Ou é forçado porque a mulher transa só com o marido para ser honesta, ou é forçado porque o marido transa só com a mulher para ser responsável, ou é forçado porque a amante transa o homem casado por dinheiro, ou porque a menina ou o menino transam porque seus hormônios não são domináveis, ou é forçado porque já que todo mundo transa... ou é forçado mesmo. Estupro legalizado ou não. Sexo sem nenhum tipo de amarra praticamente não existe, ou realmente não existe, exceto, talvez, entre os animais. E se não tiver amarras tem conseqüências, é a gravidez indesejada, a traição ou o medo dela, a doença venérea mais ou menos grave, a acusação de pecadora, galinha, puta, vagabunda, “viado”, sapatão... Ou a cobrança que obriga a mentir, o garanhão que brocha, o sátiro que gostaria de encontrar sua alma gêmea, o cara que tem o pinto pequeno e é obrigado a tentar acreditar que tamanho não é importante, ou aquele que, coitado, nem sabe se tem pau pequeno ou não. Sexo, para a imensa maioria, acaba sendo na verdade algo ruim que se finge que é bom, algo bom que deixa culpa e sofrimento, algo morno de que não se fala nada ou se fala mentiras. E a vergonha do corpo? Quantos gordos e gordas? Quantos velhos e velhas? Quantos feios e feias? Quanta gente tão longe da perfeição!



Que outro prazer tem? Comer. Mas comida nem todo mundo tem, e quem tem nem sempre tem o suficiente para o prazer, e quem tem para o prazer não pode porque engorda e gordura é feio. Tudo bem, é doença também mas quem liga? O ruim mesmo é que é feio. Comer por prazer dá vergonha, quase tanto quanto o sexo, dá culpa quase tanto quanto o sexo. Comer por prazer também é pecado, como o sexo. Comer é tão ruim quanto fazer sexo.



Beber? Mas beber vicia, dá ressaca, vira do avesso, destrói lares, mata de cirrose. Beber é pecado, é vício, em muitas culturas é proibido.



Criar filhos? Criar filhos não é prazer, é obrigação do instinto, é o instinto irracional da entrega, de cuidar e amar aquele que, se não fosse o instinto que impede até pensar nisso, seria a pessoa que primeiro desejaríamos matar. Sim, é cuidar de quem ficará no seu lugar quando você morrer, e por instinto você não quer morrer, mas prepara seu substituto como boi baixando a cabeça para o abate.



Amar as pessoas é um prazer? Talvez por um tempo, mas logo acaba. A pessoa não quer mais, você não quer mais, a pessoa morre, você morre, a pessoa te trai, você trai, a pessoa adoece, fica inútil e você tem que cuidar, você adoece, fica inútil e a pessoa tem que cuidar. Amar dói.



Viver é esperar a grande desgraça. E não se pode nem pensar em escapar. Ela virá. E virá, com toda certeza, virá! Você só não sabe quando. Será a morte, uma doença, a velhice, um acidente que te mutila; às vezes mais de uma dessas coisas, juntas. Vem uma desgraça, duas ou várias, mas vem, sem dúvida nenhuma vem. É só uma questão de tempo.



As pessoas são boas? Mentira, somos todos terrivelmente ruins, não mato porque sou covarde, você não mata porque está alienado pela religião e, nesse momento, ela diz pra não matar. Mas houve tempo em que a religião mandou matar e talvez volte a fazê-lo, então você também vai matar, torturar, roubar, humilhar, caluniar, e dizer que é a vontade de Deus. A religião leva a isso, é só uma questão de tempo. Tempo no passado ou tempo no futuro, talvez os dois.



Tem deus para te consolar? Só se você fechar bem seus olhos, seus ouvidos e sua mente. Só se você não pensar nem por um momento na dor que te cerca, que está sempre e a todo momento em você ou a teu redor. Deus como consolo? De que maneira se a religião afirma que ele mandou você não pensar? se a religião quer que você veja como pecado tudo aquilo que é contrário àquelas leis que, em algum momento, um homem cheio de fanatismo, paranóia e esquizofrenia, às vezes junto com outro sádico, humilhado e cheio de ódio doentio escreveu e disse que foi o próprio deus que o fez. E você acredita porque esse bando de loucos escreveu também que se você não acreditar será porque tem uma aliança com o diabo ou está sob a possessão dele – essa entidade que parece inspirada nas paranóias desses profetas lunáticos – e você será um descrente, um herege, um ímpio, um pagão, um qualquer-coisa que merece em tempos de paz o asco, o medo, a repulsa, o isolamento e até uma piedade rancorosa, e em tempos de guerra a tortura, a morte. Se você pensar será o isolado porque tudo que você pensar merecerá um “vade retro” e você corre o risco de se tornar o próprio diabo sem nem sequer acreditar nele.



Ah, tem o conhecimento. O saber é um prazer. Mas como se quanto mais sabemos mais sabemos o quanto somos ignorantes? E se sabemos, mais ainda, que nem sequer temos condições de avaliar a extensão da nossa ignorância? Somos amebas olhando para o sol, que pode entender de sol uma ameba? Que podemos entender de alguma coisa nós, pobres animais pelados?



A natureza é linda, tem no mundo paisagens de tirar o fôlego do ser humano mais insensível, são recantos verdes, são ilhas em meio a mares azuis, são flores, perfumadas ou não, são animais cuja aparência ou habilidade nos deslumbra, são filhotes cuja beleza e fragilidade quase que faz com que acreditemos no bem. Mas onde não vemos está o lindo inseto lançando veneno para capturar outro inseto não tão lindo assim, está o belo pássaro cantor se esbaldando de assassinar insetos, está o réptil capturando os filhotes mal saídos dos ovos de pássaros coloridos, está um peixe abrindo a boca e engolindo vários outros menores, às vezes da própria espécie, está um homem preparando uma armadilha para capturar um roedor a fim de vender sua pele, estão todos os seres vivos em uma guerra infinita de assassinatos em massa a que os biólogos chamam de cadeia alimentar. Um deus tem que ter requintes de sadismo para criar tal natureza, e nós temos que ser muito burros para ver beleza nisso. E somos.



E alguém vai querer me convencer de que a vida é bonita? Atreva-se!

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