No início do ano, antes de introduzir qualquer tópico de literatura, costumo ensinar meus alunos a fazer hai kai. Começo falando sobre fotografia (agora que alguns deles costumam até trazer para a sala de aula celulares que são também câmaras digitais, fica ainda mais fácil falar sobre o assunto). Procuro levá-los a concluir que a fotografia serve para guardar como lembrança uma imagem, um momento, então faço a comparação. Digo que existe um tipo de poema, de origem japonesa, que também, como a máquina fotográfica ou a câmara digital, serve para fotografar. Digo que esse poema tem uma vantagem sobre a mais moderna tecnologia de reprodução de imagem que eles podem imaginar: esse poema pode fotografar também sentimentos, sons, perfumes. Então mostro a eles alguns hai kais, de poetas consagrados, meus e também de alunos de anos anteriores, mostro a medida contando as sílabas dos hai kais (é aí que estou “dando a matéria”), ensino a contar ou recordo como se contam as sílabas poéticas.
Não esqueço de dizer a eles que a medida rigorosa do hai kai como nós estudaremos é por razões pedagógicas que estou mostrando e estarei exigindo, que o hái kai na verdade não tem tanto rigor de medida como estaremos vendo, e nem poderia ter uma vez que sendo de origem japonesa, muitos deles são traduzidos diretamente do japonês e não há como manter uma determinada métrica de uma língua para outra, ainda mais em se tratando de línguas tão diferentes como são o português e o japonês, digo que eles podem encontrar em livros hai kais com medidas bem diferentes, mas que nós usaremos a medida mais amplamente aceita que é 5, 7, 5. Agora eles estão prontos para fazerem os seus hai kais.
Geralmente peço que saiam da sala de aula e vão passear pela escola, caminhar pelo pátio, olhar além dos muros, “fotografar” o que vêem. E então, em outra aula, quando falo dos períodos literários, dos poemas e suas características, dos estilos dos poetas, posso falar de sílaba poética que eles já sabem o que é e como se conta.