Usina de Letras
Usina de Letras
16 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 


Artigos ( 63231 )
Cartas ( 21349)
Contos (13301)
Cordel (10360)
Crônicas (22579)
Discursos (3248)
Ensaios - (10681)
Erótico (13592)
Frases (51755)
Humor (20177)
Infantil (5602)
Infanto Juvenil (4947)
Letras de Música (5465)
Peça de Teatro (1387)
Poesias (141310)
Redação (3357)
Roteiro de Filme ou Novela (1065)
Teses / Monologos (2442)
Textos Jurídicos (1966)
Textos Religiosos/Sermões (6355)

 

LEGENDAS
( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )
( ! )- Texto com Comentários

 

Nossa Proposta
Nota Legal
Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->VIAGEM À ESPANHA (parte um) -- 17/11/2009 - 17:47 (Divina de Jesus Scarpim) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Comecei por conhecer, e bater de frente perdendo por nocaut, a língua espanhola que, na minha ingenuidade acreditava não me trazer tão grandes dificuldades, não a mim que já havia lido recentemente um livro inteirinho, mais de um conto e alguns artigos literários escritos em espanhol e não sentira grandes dificuldades de compreender nenhum dos textos que li. Além disso, cheguei a ter aulas com uma professora chilena e não achei difícil entendê-la. Porém, as coisas nem sempre são como imaginamos, geralmente são muito diferentes. Já no avião fiquei meio que atordoada, ouvindo tantas línguas ao mesmo tempo. Enquanto alguém atrás de mim falava inglês, uma voz na minha frente falava italiano, outra pessoa ao meu lado conversava em francês e passou pelo corredor uma alegre dupla falando alguma língua que eu não faço idéia de qual seja. Fiquei como que perdida na torre de babel. É claro que tinha o conforto de ouvir também o português (do qual já estava começando a sentir saudades) de vez em quando mas era já como alguma coisa de vestígio, como uma longa despedida (daí a saudade). Depois vinham as aeromoças, todas falando espanhol. Muito simpáticas e prestativas, perguntando sempre alguma coisa que eu não podia responder porque, apesar de todas as minhas leituras descobri que havia um sério problema de velocidade: elas falavam muito depressa e eu ouvia muito devagar. Queriam que eu decidisse qual o menu do jantar, davam-me a lista de opções e eu só imaginava por alto o que era uma delas porque, no meio de todas as palavras que passavam rapidamente por mim definindo o prato eu conseguia agarrar uma delas pelo rabo. Pedia aquela. Comecei a sentir alguma coisa que se assemelha a medo. O avião saiu de São Paulo e chegou ao aeroporto de Madri e nesse tempo tive que fazer duas opções difíceis e me atrapalhar com coisas tão simples como um pano molhado em água quente que eu passei pelo rosto semi adormecido com a forte impressão de que estava fazendo alguma coisa tremendamente errada. Sei lá, de repente aquele pano era para uma outra coisa qualquer que minha pobre imaginação não alcança!



Tudo bem, sobrevivi ao primeiro avião. Chegar ao aeroporto acho que é sempre como estar perdido. Sei lá, posso estar tremendamente enganada mas acho que até os viajantes mais experientes devem se sentir perdidos num aeroporto. É o que mais se aproxima para mim da imagem do puro desamparo. Se olhava para as pessoas e via alguém que aparentava uma certa segurança a vontade era de dizer a essa pessoa: “Poxa vida cara, você finge bem!”. Mas provavelmente esse grande ator, ou atriz falasse russo ou romeno, ou qualquer outra língua absurda que não é o português e que eu não entendo. Então guardei minha admiração para mim mesma e continuei caminhando pelo corredor com a minha tremenda cara de desamparo. Até tentei botar no rosto a expressão de segurança invejada mas acho que não fui muito feliz. Enfim, encontrei o Nego e então ficamos os dois perdidos – Ah! Que alívio que é estar perdida mas não estar sozinha!



Finalmente chegou a hora de entrar no avião de novo para o segundo e último vôo. Isso, claro, sem conhecer e sem ver absolutamente nada da cidade de Madri. O avião era bem menor e já não ouvi ninguém falando português. Não o português do Brasil, ouvi apenas o português de Portugal como algo muito pouco familiar perdido no meio de muito espanhol, inglês e francês. Mas felizmente o vôo foi rápido e tive que fazer apenas uma opção. Escolhi uma palavra chamada sumo porque achei que era suco de fruta e qualquer que fosse a fruta devia ser melhor do que aquela outra coisa com um nome ininteligível que me foi oferecida. Tomei o tal sumo e descobri maravilhada que era suco de pêssego. Li na embalagem a palavra estranha que me foi dita junto com a palavra sumo: melocoton. Grande! – pensei - Já sei que melocoton é pêssego. Agora toda vez que quiser beber alguma coisa vou saber pedir: sumo de melocoton. Pelo menos até que aprenda outras palavras e se não esquecer essa que, diga-se de passagem, é um bocado complicada.



Cheguei ao aeroporto de Porto, em Portugal. É bem menor do que o de Madri mas pelo menos tem muita gente que fala e compreende português, embora seja o português de Portugal. Na saída fui barrada por uma policial feminina e ela me levou para uma saleta e começou a revirar minha mala enquanto me fazia perguntas. Quando disse que sou professora ela fechou a mala e me deixou ir embora. Fiquei na dúvida. Não sei até agora se me deixou ir porque soube que sou professora ou se foi porque viu os dois vibradores que estava levando na mala. Acho que não vou saber disso nunca.



Fiquei no aeroporto esperando e o Nego veio me buscar de taxi. O motorista era totalmente louco, correu tanto que parecia ter à sua frente um mundo só de estrada – e sem obstáculos ou perigos. Fiquei quieta enquanto o Nego conversava, em espanholês, com ele. Procurei ver a paisagem mas já era noite e pouco se podia ver. Mesmo assim o motorista, falando espanhol, deu boas dicas de turismo e eu descobri que consigo entender espanhol bem melhor em terra do que no ar. Eis outro mistério que acreditei insolúvel, mais tarde fiquei sabendo que na verdade o motorista falava o espanhol da Galícia, que é mais parecido com o português do que o espanhol de Madri ou de outras partes da Espanha, talvez pela proximidade dos dois países nesse ponto. Chegamos ao hotel, guardamos as malas no quarto e fomos procurar algum lugar para comer. Como já passava das duas horas da madrugada na Espanha, embora para nós que tínhamos acabado de chegar ainda não fosse nem dez horas da noite, não encontramos nada e tivemos que voltar para o quarto e dormir sem jantar. Felizmente tínhamos um pacotinho de amendoim que dividimos meio gulosamente, mais eu do que ele como sempre.



Dia seguinte fiquei sozinha no hotel porque ele já foi trabalhar e fui tomar café. Consegui afirmar que queria sim o croassant que o rapaz me ofereceu e consegui fazê-lo entender que não queria café, apenas leite. Mas não consegui pedir o suco de laranja que vi em algumas mesas e que desejei tanto, só sabia pedir sumo de melocoton. Sai do hotel e passei no mercado, lá peguei o suco de laranja que não soube pedir no hotel e mais algumas coisinhas, me atrapalhei um pouco com o dinheiro na hora de pagar e fui passear na praia. Andei bastante, sorri para o sol e pensei no absurdo que é estar passeando em uma praia da Espanha em um dia que deveria estar na sala dando aulas. Vi a praia, vi gente e ouvi muito espanhol que não entendi. Fiquei maravilhada com as crianças peladinhas que brincam na praia e dizem “mira mama!” como na piada. Voltei para a quarto e li ou escrevi até o Nego chegar. Depois fomos jantar. Assim passei dois ou três dias até que ele me apresentou a Carmem e nos mudamos para o apartamento.



A Carmem é a corretora. Uma mulher super agitada que fala um espanhol que eu tento entender. Ela é legal e a gente se deu bem, consegui falar, meio tatibitati, algumas palavras com ela. Da primeira vez que fomos ao apartamento conhecemos a Auri, é a proprietária, uma espanhola alta, loira e agradável que faz muita questão de ser útil e me levou no dia seguinte de carro ao supermercado para fazer uma despesa. Como eu ainda não tinha visto nada de Vigo além das fotos que o Nego levou para o Brasil, ela aproveitou para dar uma volta pelo centro de Vigo para que eu conhecesse um pouco a cidade. Como ela, é claro, fala espanhol o tempo todo, eu fui aprendendo a ouvir mais do que falar e a tentar soltar também um pouco do meu miserável “castelianês”. A gente até que conseguiu conversar legal. Desta e de outras vezes que nos encontramos depois. Tudo deu certo e eu fiquei feliz da vida.



O apartamento é muito lindo. Tem dois dormitórios, um deles é suíte, dois banheiros com banheira, uma cozinha que é separada da sala por um balcão como o de bar, com banquetas e tudo. A sala tem alguns quadros na parede e uma janela com uma vista tão maravilhosa que a gente tem pouco tempo para reparar nos quadros. Todo o apartamento é pintado de uma cor clarinha tendendo pro rosado, com portas de madeira clara e janelas brancas. Tem uma varanda com cadeiras de vime e mesa também de vime com tampo de vidro. O fogão é de vidrocerâmica, uma placa de vidro preta com o lugar das bocas desenhado em esmalte branco onde a gente coloca as panelas, que são todas de aço inox com tampas de vidro. Todas as torneiras da casa têm água quente e em cada cômodo tem uma coisa estranha de metal como umas placas sanfonadas por onde saem alguns canos, são os aquecedores, por causa deles é que se diz que o apartamento tem calefação. Isso vai me servir muito quando chegar o inverno é claro, porém agora é apenas um estranho enfeite pelas paredes.



Depois de instalados no apartamento começamos a nossa rotina. Nos dias de semana eu fico em casa e o Nego vai trabalhar. Geralmente eu saio. Logo aprendo a tomar o ônibus, que descobri que passa de hora em hora, e ir para o centro da cidade. Assim acabei conhecendo bem o centro e sabendo onde tem cada coisa que eu preciso. Sei onde tem uma livraria, uma farmácia, uma loja que vende coisas baratas e um supermercado. Aprendi até o nome de algumas ruas e comecei a descobrir coisas por conta própria me enfiando por ruas desconhecidas e aprendendo a explorar os cantos mais interessantes da cidade. Pouco a pouco conheci Vigo quase tão bem como conheço Santo André. Lá já não me perco. Nos finais de semana a gente sai para conhecer lugares diferentes que ficam mais ou menos perto de Vigo, ou até mesmo para conhecer a própria Vigo.

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui