Em um dia que quisemos arriscar ir um pouco mais longe atravessamos a fronteira e fomos até Valença, que fica já em Portugal. Lá existe também uma muralha enorme e muito impressionante. Dizem que é a muralha mais bem conservada da Europa. Foi ótimo caminhar por ela depois de ter comido bacalhau e tomado um gostoso vinho em um típico e agradabilíssimo restaurante português onde o garçom despediu-se da gente se apresentando como “Arlindo, a seu dispor”. E em um outro dia em que não estávamos por algum motivo dispostos a ir muito longe resolvemos fazer uma caminhada pela parte velha de Vigo e vimos muitas ruelas antigas, adegas em casas de pedra onde se serve vinho e sardinhas fritas sobre toalhas de plástico xadrez. Vimos lá uma loja de objetos com motivos tenebrosos como estátuas de caveiras, gárgulas e bruxas, copos com mãos de caveira e camisetas, cinzeiros e chaveiros cheios de monstros e motivos fantasmagóricos. E passamos ainda por uma rua cheia de mesas de pedra onde mulheres e homens serviam pratos de ostras que abriam ali mesmo na frente da gente. Espalhava-se sobre a ostra um bocado de sumo de limão e comia-se assim como saiu do mar. O petisco era muitíssimo apreciado. Havia muita gente devorando as tais ostras mas nós não tivemos coragem de experimentar. Lá, na entrada da rua onde serviam as ostras, estava também um rapaz todo de branco e com o rosto também pintado de branco em pé sobre um pedestal. Ele ficava imóvel e se parecia tanto com uma estátua que a gente demorava alguns segundos para perceber que não era. Então estávamos olhando para o rosto dele para termos certeza de que era uma pessoa e não uma estátua e ele dava uma piscadela para a gente. Aos pés da “estátua” havia uma vasilha onde se jogava moedas que ele agradecia com mais uma piscadela. Difícil não se sentir tentado a deixar-lhe a moeda. Eu me senti, e não tentei resistir à tentação.
Outro passeio muito agradável que fizemos foi ir até o morro de Santa Tecla. É um morro muito alto onde tem uma ruína quase toda reconstruída de um povoado celta da Idade do Bronze, passeia-se por esse povoado e vemos que quem reconstruiu as ruínas teve o cuidado de marcar com uma cerâmica colorida o ponto a partir do qual iniciou-se a reconstrução. Uma dessas casas está como deveria ser na época, com o teto de palha e tudo mais. Além do povoado, subindo o morro um pouco mais encontramos restos de uma vila romana com uma igreja antiga muito bem conservada. Depois de nos maravilharmos com as ruínas entramos em um bar que serve um pão com lingüiça e um chop muito bons. Comemos em uma mesa perto de uma janela de onde tínhamos uma vista linda para o mar e para o rio Minho, que naquele ponto divide a Espanha de Portugal. Víamos de lá de cima a cidadezinha de Caminha, em Portugal e a cidade de La Guardia, na Espanha. Vimos também, e isso mais de uma vez aqui perto, em Baiona, uma ponte romana. Chegamos a passear em cima dela, não é muito grande mas é bem antiga e vale a pena ver.
Quando não é fim de semana e não estou passeando por Vigo ou escrevendo, lendo ou mesmo vendo televisão aqui no apartamento, vou passear na praia. A praia chama-se Samil e fica aqui na frente, do outro lado da rua. É linda. Da rua até a praia tem um espaço muito bem cuidado com coisas para diversão de adultos e crianças. Tem piscinas infantis, ao todo três, uma delas com tubo água e outra com uma ponte de cimento passando por cima como se a piscina fosse um rio; tem bosques cheios de mesinhas para piquenique; quadra de esportes; pista de patinação e pista de skate; bares e restaurante; caramanchão com bancos para descansar e praças com estátuas e bebedouros; postos da Cruz Vermelha e calçada para caminhada. Além de tudo isso a areia é branca e fofa, o mar tremendamente azul e a praia tem recantos lindos e grandes pedras onde as ondas quebram. Para surpreender um caminhante desavisado às vezes passa quase beirando a linha d`água um belo e grande navio e, para completar, quando não há “nieblas”, as ilhas Cies parecem estar ao alcance de nossos braços.