Para uma sociedade que optou por transformar tudo em mercadoria, a
festa natalina cercada de símbolos afetivos, familiares e religiosidade
mostrou-se uma oportunidade a mais para alavancar o consumismo.
O mesmo acontece com tudo que nos poderia ligar ao Sagrado, ao Divino, fazendo aflorar em nós um comportamento mais humanista.
Soam estranho palavras como solidariedade, bondade, caridade.
Já pouco ou nada vale a carta de Direitos Humanos da ONU, a gritar
alto aos nossos ouvidos que somos todos iguais e por isso irmãos e irmãs.
A civilização ocidental encontrou no modelo capitalista sua realização máxima. Desde o século XVI vem refinando mais e mais este modelo social.
Agora nos damos conta do alto preço a pagar por este desenvolvimento sem freios.
O modelo industrial ilimitado, vigente no mundo ocidental globalizado, aparentemente “salvador da pátria” traz no bojo a ameaça de uma catástrofe ecológica e humanitária.
O aquecimento global induzido por esse crescimento industrial desenfreado é uma ameaça de catástrofes ecológicas previstas.
Já não é tão utópico assim imaginar a Terra Gaia: um corpo vivo aniquilando o principal vírus responsável por sua destruição- os seres humanos.
A catástrofe humanitária, num crescente, começa a se mostrar real: ricos ou pobres estão todos oprimidos por um paradigma que a todos escraviza, a todos submete.
Descobriram a nossa essência “ somos um ser de desejo”, depois ficou fácil manipular, direcionar esse desejo. Já nem somos mais o que realmente gostaríamos de ser. Somos o que o modelo social impõe.
Mas para além do Ocidente há o Oriente com suas práticas milenares, referências de sabedoria, a justa medida a impor limites, a sintonia com o todo.
O Mundo Ocidental começa a se dar conta de que essa sabedoria pode bem ser um caminho de restauro.
À primeira vista parece-nos algo estranho, impossível.
Destrona o ser humano de sua pretensa centralidade. Coloca-o como parte de um todo. Não o separa da natureza.
Se queremos uma natureza benevolente, irmã, amiga, devemos obedecer as suas leis. Não podemos impor a nossa lógica à lógica da natureza.
É necessário obedecer à lógica secreta da realidade sem a pretensão de interferir nela.
Dominar, dominar, reverter toda a situação a nosso favor é quebrar esta lógica.
Chega um momento em que tudo se rebela e esse momento já começou a despontar.
Tentar mudar este quadro não significa deixar de produzir, de atuar cientificamente, não, é praticar ciência com responsabilidade, com consciência. Entrar em sintonia com o ritmo da natureza.
Assim como a águia e o menor pássaro da Terra desfrutam igualmente a grandeza do céu, possam os homens desfrutar da grandeza, da beleza e da fartura que a Mãe Terra de graça nos dá.
Que o espírito natalino chegue como um Presente Divino, entre em nossos lares, se sente à mesa, venha conosco comemorar um novo tempo a chegar.
Lita Moniz
Referências bibliográficas:
Leonardo Boff, Espiritualidade a caminho de realização