O dia 18 de março de 2010 ficará marcado na memória dos torcedores do Internacional.
Na tarde de uma quinta-feira ensolarada o país vizinho sofreu um tsunami colorado. A invasão vermelha foi protagonizada num estádio castelhano. Não eram Colorados, Blancos ou Amplios, mas, fervorosos e apaixonados torcedores colorados do Internacional de Porto Alegre. Evidentemente, com a devida cota de castelhanos na escalação. Provavelmente, “nunca na história desse país” uma equipe de futebol foi aclamada com a maioria dos torcedores em um estádio fora do Brasil. Podemos afirmar que o Inter estava jogando em casa.
Pela tarde a calle Sarandi ficou repleta de colorados. Todos tiveram a mesma idéia: antecipar a ida e fazer umas comprinhas nos free shops de Rivera. Claro que todas as compras estavam dentro da cota da receita. Lógico.
O Uruguai ainda vive o rescaldo da eleição de Pepe Mujica. Muitas placas e banners nas ruas. O comitê de Pepe ainda estava com as portas abertas. Então, gritei para o atendente que se votasse no Uruguai teria votado em Pepe... me respondeu com um sinal de positivo.
Logo adiante, na mesma, quadra uma camioneta com a estampa de Lara andava despretensiosa – em campanha no Uruguai? – pelas ruas de Rivera. É claro, mais um esfuziante torcedor do Inter. Campanha política, e eu pensava que ele era candidato ao governo gaúcho.
Na entrada do estádio mais uma surpresa. Partidários do PTB distribuindo panfletos de Luiz Carlos Busato e Gaúcho da Fronteira. Imagino que se no Brasil ainda não pode fazer campanha, eles foram fazer no Uruguai. Deve ser pelos votos dos doble chapas.
Voltemos ao que interessa no momento que é a alegria do futebol. Foram praticamente 25 mil colorados para assistir Inter e Cerro do Uruguai pela Copa Libertadores no estádio Atílio Paiva Oliveira, aliás, um belo estádio.
Um mar vermelho nas arquibancadas castelhanas. Na minha frente no setor da Tribuna Itália – geral superior – um casal de uruguaios com um filho. O guri com boné e camiseta e a mulher enrolada na bandeira do Inter. E eu só entendia o pero que si, pero que no. Penso que era a primeira vez que assistiam a um jogo do Internacional. Brinquei com o castelhaninho se ele não era torcedor o Peñarol. A resposta foi de pronto. Nós torcemos para o Nacional e para o Internacional. A mãe do guri acompanhava a ola com a máquina digital. Os torcedores do Cerro não participaram da brincadeira e em cada volta da ola levavam uma estrondosa vaia. O castelhano colorado sorria como uma criança.
Uma criança uruguaia que torce para o Inter, mãe e pai empolgados na arquibancada. E uma enorme faixa que dizia “Rivera está com o Internacional” nos faz pensar sobre o Mercosul que na política não avança. E a conclusão é obvia: para a paixão do futebol não existe mais fronteiras e nem limites. Os alambrados ficaram no passado. Fazendo jus a sua história e ao nome que carrega, o Internacional ultrapassou a fronteiras do Rio Grande do Sul como o time mais castelhano do Brasil. Uma equipe internacional.
No retorno, como tenho o salvo-conduto de Pepe, não foi preciso prestar contas na alfândega.