Waldir José RemédioÉ simplesmente estarrecedor o texto da homilia do padre Paulo Ricardo (
Um padre sem papas na língua), transcrito integralmente, no último domingo, nas páginas do “Já”.
Quem não leu deve ler, para não perder um desabafo dos mais sinceros e dignamente coerentes.
O pronunciamento desse padre eleva à quinta potência tudo o que se pode e se imagina esteja acontecendo ultimamente no concerto das atividades governamentais, face o perigo que representam as ações em andamento e principalmente em razão do Decreto sobre Direitos Humanos do Presidente Lula. Que, aliás, disse ter assinado sem ler.
A ousadia e coragem em dizer tudo o que ali está, em letras a não deixar qualquer dúvida, assombra e nos deixa perplexos ao mesmo tempo.
Ainda mais sabendo pertencer referido sacerdote à hierarquia da Igreja que preza respeito e obediência à escala de valores, não só a valores cristãos, morais, educacionais, etc., mas à funcional, vale dizer de subordinação.
Como sabemos, a nenhum padre é permitido falar em nome da Igreja. Essa prerrogativa é da CNBB, pelo menos em nosso país, mesmo assim com o consentimento superior do Conselho Episcopal, ouvindo a Santa Sé.
Mas padre Paulo Ricardo falou e rasgou o verbo. Dando ênfase em sua voz diz que
“... criminalizar essa minha opinião é criminalizar o cristianismo”.
Defendendo com vigor os atos que a Igreja abomina, alinha um por um todos eles e critica, inclusive, a omissão dos srs. Bispos ao falar da gravidade desse Decreto presidencial e textualmente fala que
“... o barulho que nós ouvimos feito pelos srs. Bispos do Brasil, que graças a Deus estão protestando, mas não estão protestando com a veemência que deveriam protestar”.
Sem subterfúgios, sua fala resvala na história ao pronunciar que
“É necessário que a Igreja Católica erga a sua voz contra essa infâmia que clama aos céus”, para concluir que
“Se algum padre ou algum bispo pretende ser prudente e guardar o silêncio eu não guardarei. Porque não quero entrar para a história como os bispos que, covardemente, não levantaram a voz quando Hitler começou a governar a Alemanha em 1933”.
Sem a pretensão de entrar no mérito do que disse esse padre, gostaria de alinhavar os tópicos principais dessa sua fala, que são vários, mas sem dúvida perfeitamente pertinentes à vida brasileira, até ao observador mais comum e desinteressado.
Com justificada razão é destacada a questão do aborto, o “casamento” de pessoas do mesmo sexo, a invasão despropositada de terra, o ateísmo, os políticos e os partidos políticos, até do judiciário, etc., onde a opinião desse padre é expendida de forma clara e objetiva.
Tenho a absoluta certeza que o pronunciamento desse padre, se levado na devida conta por quem a carapuça servir, provocará enorme celeuma.
Porém, com o respeito que deve merecer, eis que estamos em uma democracia, não tenho a menor dúvida que se deva observar (e ele observou) a máxima de que, na vida, só há duas coisas que o homem perde uma só vez: a vida e a honra.
Se ele perder a vida, já que foi ameaçado de morte, a honra não perderá.
Fonte: JÁ – Jornal de Ágora/Artigo, Araras (SP), Domingo, 11/04/2010, página 9.
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“Fora da VERDADE não existe CARIDADE nem, muito menos, SALVAÇÃO!”LUIZ ROBERTO TURATTI.