Acontece a quarta reforma, construção, de casas sucessivas e simultâneas ao lado da nossa. Você entende (no ouvido) na poeira dos vidros, o significado de um trânsito de Saturno pela sétima casa (a casa do outro), quando escuta assim, dias sem fim, o martelo batendo na construção do lado. O som da maquita, da bomba, já não sei mais qual, vai se confundindo com o do rádio de pilha. E com o tempo, chega uma abençoada e necessária anestesia, um tipo de acomodação ou de aceitação, quando a irritação e o incômodo pelo barulho passa a ser admiração pelo pedreiro que aguenta fazer isso o dia inteiro, das sete às 17 horas e transforma, assim, uma casa velha em outra nova (Urano).
Saturno de um lado, Urano do outro, a oposição entre o estabelecido e a surpresa, ou susto, nem sempre desejados ou entendidos, do `novo`. A mudança que nos tira dos hábitos e do conhecido para o diferente, o ainda não aprendido.
Saturno é paciência, o amadurecido no tempo, Urano é o repentino, estranho, inesperado.
São variadas as manifestações das energias de um planeta e diversas as circunstancias, situações, pessoas. Podem atingir um ponto focal ou desarticular o todo. Venham como vier, aceitar o novo pede flexibilidade e jogo de cintura. Em tempos assim valoriza-se o movimento do bambu ao vento. Uma planta que não se curva, não sai do lugar, pode ser derrubada pelos movimentos que vem de fora.
Algumas mudanças e interferências podem tirar o prumo, arrepiar ou derrubar bases, paredes, telhados. Podem fazer água, invadir e desrespeitar limites, atingir relacionamentos. Podem te colocar de joelhos diante da vida. Podem ensinar a se levantar. Mas em cada uma existe uma lição, um outro ponto de visão a ser desenvolvido.
De um modo ou de outro, enquanto vivos, estamos sempre "em construção".
