Nos anos setenta possuíamos, eu e minha esposa, duas lojas. Um bazar muito bem movimentado, em São Caetano do Sul, o qual ficava sob minha orientação e a outra – uma loja enorme de calçados e roupas – próxima ao Largo do Cambuci, sob o comando de minha esposa. Eram bons tempos aqueles, vendia-se de tudo. Já naquela época tínhamos calçados de Jaú vendendo na loja do Cambuci. No bazar o movimento maior era de cadernos, papel sulfite, lápis, canetas em razão principalmente de uma escola bem na frente da loja e o Sesi a alguns quarteirões. Mas, vendiam-se roupas também principalmente as camisetas do Sesi que eu estampava em casa nos fins de semana. Era uma verdadeira correria: depósito em bancos, compra de mais mercadorias, viagens para festas no interior, além de possuir uma vaga no Largo da Concórdia onde todos os dias lá estava eu armando uma banca às cinco da madrugada.
Atualmente não aprecio mais o movimento de vendas, coisa que eu adorava naqueles tempos. Não imagino o porquê de ter virado escritor, quando os escritores de hoje não passam de pobres coitados, ou os novos otários. Não têm apoio de ninguém. O povo brasileiro detesta a leitura e bem por isto sofrem demais, principalmente na miséria. Os ricos até lêem, mas são leituras para demonstrar riqueza, ou status social. O que sempre me pergunto é o porquê dos ricos brasileiros serem tão orgulhosos, repletos da inútil empáfia, mesmo sabendo que vão feder no cemitério. O escritor hoje está mais para “trouxa” do que propriamente uma pessoa de respeito. Um livro publicado já não é mais como no passado em que o autor tinha muito tempo para ganhar dinheiro com suas publicações. Hoje em poucos anos a obra cai em domínio público e qualquer um poderá vender o livro sem pagar os perdidos direitos autorais. É novamente a lei do cão. Com tamanha situação apesar de possuir ainda muitos livros prontos para serem editados não o farei tão cedo. A vontade de escrever vai-se acabando e o escritor terminará queimando seus livros ainda virgens. Se não são para mim, não serão para todos. Acho que é por isto que Hitler mandava queimar livros: o dele “Mein Kampf” – Minha Luta – só vendia na Alemanha!
Entendo que talvez seja porque não escrevo livros sobre sexo, ou não falo palavrões xingando alguém nos livros. Jorge Amado vendeu muitos livros porque em poucas páginas continham dez ou vinte palavrões, principalmente o “filho da puta”. Naqueles velhos tempos xingar era uma novidade nos romances. E o povo aprendeu a dizer palavrões dos mais variados e continuam até em novelas nas telinhas chatas de hoje. Paulo Coelho já nasceu escritor famoso porque era um poeta das canções do “Maluco Beleza”. Contudo, ele não aprecia publicar livros no Brasil como faz nas grandes editoras internacionais, simplesmente porque descobriu o Brasil, ou seja, a meleca que é nosso país em termos de leitura e vendas de livros e os péssimos pagamentos dos direitos autorais das editoras. É a Rocco que publica no Brasil os livros de Paulo Coelho. Não sei se ainda hoje continua.
Tenho muita vontade de voltar a ser comerciante, mas não confio mais na segurança. As lojas atualmente são as potenciais vítimas da bandidagem que este país cria e vem criando há muito tempo. Nós, trabalhadores, estamos condenados a morrer em assaltos e de forma muito violenta. A honestidade não é mais exaltada neste país. Não há futuro para qualquer país que adote as drogas e o Brasil é atualmente o paraíso das drogas. E não há política governamental com ênfase no combate mais acirrado. Principalmente quando temos um governante que apóia Hugo Chaves, um presidente ignorante com visões socialistas. Temos também próximo às nossas fronteiras as Farc colombianas. Este é o ano da grande oportunidade e serventia do eleitor votar em quem jure pela mamãezinha dele que irá combater de verdade os cartéis das drogas neste país.
Sofri certa vez um assalto na loja de São Caetano. Cinco minutos antes dos bandidos entrarem tive uma vontade enorme de guardar uma soma grande de dinheiro que havia ganhado nas feiras no fim de semana, a qual estava no caixa da loja. Sem saber o porquê coloquei o dinheiro embaixo de uma pilha de papel sulfite. Os bandidos reviraram tudo e só encontraram dinheiro no caixa. Uns sessentas reais nos valores atuais. Aqueles cinco minutos antes foram um aviso que senti no âmago de minha alma. Uma rápida vibração em meus ouvidos e em todo o corpo. Nunca me esqueci desse detalhe que agora revelo pela primeira vez.