A natureza, através de seus meios de manifestação, protesta com veemência contra o homem e a favor do homem. Tive esta sensação quando assistia pela TV, os moradores de várias ruas na capital paulista jogarem no leito carroçável da rua seus móveis, tais como: camas, colchões, receptores de tv recém adquiridos a duras penas, berços, guarda-roupas, geladeiras, estantes, livros e tudo que fosse inútil pela deterioração com a presença de águas enlameadas, ou saídas dos esgotos à céu aberto em razão dos temporais cada dia mais violentos. Algumas lágrimas ficam impossíveis de serem retidas ao descerem pelo meu rosto. Sim, porque todos nós temos a possibilidade de se colocar no lugar daquelas pessoas. Hoje são elas, amanhã poderão ser nosoutros. A natureza não respeita comezinhos. É ativa e pró-ativa e está sempre em movimento. Tais chuvas ainda são bênçãos no Brasil, muito diferente dos tufões, dos furacões, dos terremotos, maremotos e tsumanis ocorrendo regularmente pelo planeta em áreas densamente povoadas, matando assim milhares de pessoas. O planeta ruge apesar de não ouvirmos nada em nossa surdez disfarçada. Um vulcão pode surgir no chão de nossa casa e aí sim acreditaremos por alguns segundos na manifestação divina. Cada pessoa que sobreviva a uma hecatombe terá a partir daquele momento muito mais fé. Fé em tudo, até em Deus se não possuía anteriormente.
A natureza não se vinga, apenas protesta e este protesto serve muitas vezes para sacudir nossos políticos bons e maus. Os bons nada fazem para justificar o cargo que ocupa; os maus são os ladrões em alta escala. Isto explica as condições terríveis de vida da população pobre manipulada pelo Estado. “Ser pobre no Brasil é ser ninguém/ É ser trambolho que se evita e afasta/ Lei que o proteja logo se desgasta/ Na má vontade dos que tudo tem”. Estes versos são de meu pai e foram escritos na década de 40 do século passado. É um soneto mostrando o perfil do pobre na sociedade brasileira hipócrita daqueles tempos e de hoje também. Não coloquei as outras estrofes para poupar espaço, mas só estes quatro versos já dão uma idéia do tratamento da pobreza desde sempre no Brasil. A vida do pobre no Brasil não é muito diferente da vida do judeu no nazismo. Esta verdade é fácil de ser percebida, quando os diversos governantes brasileiros fingem cuidar dos pobres, ou seja, mentem com um paternalismo fora de moda e deixa o pobre morrer à míngua; já no nazismo não fingia nada e havia sinceridade quando tratavam na paulada os judeus.
A natureza não alcançou ainda as casas fortificadas dos ricos, enquanto destrói a casa e a vida dos pobres. Mas, acredito que irá chegar lá porque o rico tem muitas coisas para pagar e também muitas para perder, quando o pobre já perdeu tudo, até a vida. A natureza não se vinga, apenas protesta, avisa e ensina ao brasileiro pobre como protestar, mesmo porque até hoje neste país o pobre bancou o gatinho bonzinho, mas poderá se metamorfosear numa entidade apocalíptica e ocorrer um gigantesco acontecimento semelhante à Rússia em outubro de 1917. Aquela revolução, embora tenha durado mais de 70 anos, mudou totalmente a maneira de interpretar a cidadania e fez com que o mundo progredisse a olhos vistos, em razão principalmente da concorrência entre dois mundos com sistemas de governos contrários. Daí em diante o pobre deixou de ser trambolho e sim gente, como verdadeiramente é. O oito de março, dia da mulher, foi instituído pela URSS. Se não houvesse a URSS não haveria o dia da mulher, e no Brasil poderia ser adotado o dia do homem, porque, nós brasileiros, somos excepcionalmente machistas, quando não somos gays, haja vista aquela passeata idiota em São Paulo todos os anos. Passeata esta que não chega a lugar nenhum.
Apenas um país chamado Brasil continua até hoje a tratar os pobres como se fossem prisioneiros num país repleto de políticos farsantes, de impostos exorbitantes, sem socorro médico, sem salário adequado, sem educação pujante e com uma criminalidade crescente em razão principalmente de uma impunidade crônica deixando o homem honesto cada vez mais envergonhado em sua honestidade, visto que por qualquer erro o pobre é logo preso, cumpre sentenças longas num país que está mais para ser uma província oriental de Xátria.
Sou um anticomunista, mas sou também um anticapitalista, principalmente quando o capitalismo está mais para um feudalismo nojento muito comum em todas as cidades do Brasil e quando a proclamação da República tenha sido um golpe militar e não uma revolução populista. Viver no Brasil de hoje está ficando pior do que viver na Rússia dos tempos da URSS. Eles, com toda a tragédia que vivia naqueles tempos, conseguiram derrotar o nazismo de Hitler, porque foram os primeiros a chegarem a Berlin, destruindo-a completamente. Já o brasileiro destrói seu próprio país com a criminalidade em todas as esferas sociais. A criminalidade destrói o interior e o exterior do homem, levando de roldão sua família e o nome desta família; a pátria deixa de ser uma família amplificada. Neste caso Rui Barbosa não tinha razão quando disse que “a pátria é a família amplificada”. Como podemos ser uma família amplificada quando temos tantos ladrões em todas as esferas: assaltando, roubando, matando e ainda fazemos carnavais vistosos com mulheres totalmente nuas, ou mostrando as tetas, que mais parecem bexigas prontas para explodir. Dali garanto que leite não vai sair. Se isto aí é turismo e dá dinheiro, vou começar a andar nu pelas ruas de minha cidade, garantindo a todos que irei preso e apanharei igual mula atolada. Este é o Brasil que não pretendo renascer nele, nevermore! Um país com vários sistemas políticos: é republicano; é socialista; é capitalista; é monarquista; é feudalista e costuma se auto-definir como democrático. Como democrático? Se o pobre ganha salário mínimo para não atingir uma classe social mais elevada?
O conceito capitalista brasileiro é simples: deixem os pobres cada vez mais pobres, assim poderemos continuar nossa riqueza. E os pobres bancam os tolos aceitando esta vida, ou este inferno brasileiro.
Jeovah de Moura Nunes
escritor e jornalista – Autor do livro “Memórias de um camelô” entre outros livros.